Opositor Arauz repele governos pró-privatização que realizaram a maior expropriação do Equador

“O que o povo equatoriano quer é recuperar as rédeas do seu destino coletivo, retomar o governo. Basta de ter o país entregue a uns poucos banqueiros e especuladores”, afirmou o economista Andrés Arauz, candidato à presidência do Equador nas eleições de 11 de abril, em recente debate na Associação Equatoriana de Radiodifusão.

Conforme o oposicionista, a consequência da política de submissão ao figurino neoliberal é que “hoje temos um país devastado. Não há governo. Precisamos voltar a ter governo”, enfatizou.

Candidato da União pela Esperança (Unes), Arauz justifica por que somou 3.033.753 votos (32,72%) contra 1.830.045 (19,74%) do banqueiro Guillermo Lasso: “temos um projeto de nação, focado no desenvolvimento e no trabalho dos equatorianos”. Apesar da enorme diferença refletida nas urnas, como o oposicionista não alcançou os 40% dos votos no primeiro turno, haverá segundo turno.

A vantagem de mais de um milhão e duzentos mil votos sobre o segundo colocado, na avaliação de Arauz, é um reconhecimento do seu compromisso com a reativação do mercado interno, com a reativação da economia. No outro extremo está o retrocesso neoliberal, ponderou.

“Foram justamente os governos direcionados para a privatização e o desfalque que há 22 anos decretaram o feriado bancário e realizaram a maior expropriação da história do Equador. Isso nós não podemos esquecer. São estes que hoje buscam se disfarçar, mas que estão por detrás da candidatura rival”, acrescentou.

O candidato da União pela Esperança apontou que “vivemos momentos muito duros nestes últimos anos, com total abandono da sociedade, em que o Estado esteve ausente” e que é hora de “recuperar a ação coletiva, a política social, a política econômica, que tenha um sentido de redistribuição”.

Questionado sobre como atrair investimentos para o Equador, Arauz foi enfático: “sob a base de contratos de certeza econômica, que garantam seguridade jurídica, seguridade tributária, que garantam estabilidade para ambas as partes, sempre em troca de investimentos concretos, gerando emprego, construindo fábricas, investindo em valor agregado ao nosso país”.

Especificamente sobre a relação com os Estados Unidos, o candidato disse que os fluxos econômicos passarão a ter como eixo central a geração de oportunidades de trabalho para os equatorianos. “Mas também vamos garantir direitos para que os irmãos imigrantes sejam tratados com dignidade, que haja oportunidades comerciais para as exportações equatorianas aos EUA e que possamos ter acesso à educação, ao conhecimento e à tecnologia, contribuindo para o desenvolvimento do Equador”, destacou.

Crescimento

Ministro de Rafael Correa, Arauz tem sua imagem identificada com os êxitos alcançados no período em que, entre 2007-2017, o crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 3,4%. Na entrevista, Arauz defendeu os “enormes avanços obtidos durante a Revolução Cidadã, como a redução da pobreza e da desigualdade, os avanços na infraestrutura e dos serviços públicos, do acesso à educação, com uniforme e material escolar gratuito, com um sistema de saúde público com mais hospitais” e denunciou o atual governo de Moreno [que foi vice-presidente na chapa de Correa] por ter paralisado todos os programas. “Este é um governo que tristemente se vendeu aos interesses de alguns poucos, privilegiando atender o interesse de certos banqueiros e especuladores”, reiterou.

Questionado sobre onde vai tirar os recursos para executar seu plano desenvolvimentista, o economista explicou que pretende pôr um ponto final na sangria especulativa. “Nós vamos atrair uma parte deste dinheiro que está guardado lá fora, que soma mais de oito bilhões de dólares, e colocá-lo aqui. Investir nos equatorianos, nas mães de família, que assumiram o maior custo desta pandemia”. Neste sentido, esclareceu, planeja colocar mil dólares nas mãos de um milhão de mães de famílias. “Todos sabem que foram as mulheres, as mães, quem tiveram que carregar com o maior custo desta pandemia. Porque se converteram em enfermeiras, cuidadoras, porteiras, na principal responsável por atender o lar e as crianças. É a ela, a um milhão de mães de família que faremos a transferência de mil dólares de emergência para enfrentar a pandemia. Nós sabemos de onde conseguir estes recursos e vamos garantir para fomentar o desenvolvimento do Equador e não deixar parado numa conta na Suíça”, ressaltou.

“Eu repito e insisto: o Estado tem oito bilhões de dólares guardados no exterior, no banco de pagamentos internacionais em Basileia, na Suíça. O Estado equatoriano pode acionar estes recursos para enfrentar a emergência econômica, a emergência sanitária, e vai fazer”, apontou Arauz.

“É inconcebível que enquanto temos o índice mais alto de mortalidade per capta do planeta, quando já estamos superando o Peru, com mais de 45 mil óbitos, o governo equatoriano divulgue um comunicado de imprensa orgulhoso por ter o nível mais alto de reservas de toda sua história. Que sentido tem isso, se temos as pessoas morrendo e a economia quebrada? Se a pobreza está pelos céus, e o desemprego e a crise encontram-se tão graves? E o governo diz: temos níveis recordes de reservas. Há uma contradição aí”, protestou.