A luta contra a misoginia e a violência política de gênero ganhou novo reforço nesta quarta-feira (4) com o lançamento da campanha nacional “Isso Não”, realizado na Nave Coletiva, em São Paulo, e transmitido pelo Youtube. A iniciativa reúne diversos movimentos e coletivos — como a Mídia Ninja —  e lideranças políticas e sociais, entre elas, a jornalista e ex-deputada do PCdoB, Manuela d’Ávila e a presidenta da UNE, Bruna Brelaz, dirigente nacional do PCdoB.

O lançamento contou ainda com as participações das deputadas estaduais por São Paulo Marina Helou (Rede) e Isa Penna (Psol); as vereadoras pela capital paulista Erika Hilton (Psol) e Juliana Cardoso (PT); Paula Nunes, da Bancada Feminista do PSol na Câmara Municipal de São Paulo.

Golpe misógino

Ao falar sobre a violência de gênero na sociedade brasileira, Manuela lembrou que os ataques às mulheres nos espaços de poder aumentaram a partir do golpe contra Dilma Rousseff em 2016, que teve um caráter profundamente misógino. “Esse processo passou a ser uma forma de operação da extrema-direita, com muita intensidade no país desde aquele momento. Ocorre que este não é um instrumento exclusivo da extrema-direita. Outros setores políticos eventualmente também utilizam isso como mecanismo de opressão na política”, alertou Manuela.

Ela colocou que “a violência política de gênero obstrui o debate sobre projetos e coloca no centro a nossa condição de mulher”,  destacando aspectos como a sexualidade, o corpo, a voz, a maternidade, os comportamentos femininos e até a oscilação hormonal. “Essa ideia do debate obstruído, para nós, é o centro da construção dessa campanha”, completou.

Manuela explicou ainda que a lógica de operação da misoginia faz parecer que é um problema pessoal, o que dificulta o combate no âmbito do debate político. “Nós somos mulheres com diferentes trajetórias e todas temos uma coisa em comum: todas temos a nossa militância e nossos mandatos obstruídos por esses instrumentos”.

Isso não é política

A campanha, conforme apontou Manuela, tem o objetivo também de tentar melhorar o ambiente nas próximas eleições e fazer com que as mulheres que ocupam espaços públicos, a sociedade e organizações diversas possam “exercer uma espécie de controle social e dizer ‘isso não é política’”.

Manuela defendeu ainda a necessidade de “deixar claro para homens e mulheres de todos os campos políticos, principalmente os que defendem uma sociedade diferente do bolsonarismo, que esse movimento não é acrítico, despolitizado, não é tentar tornar mulheres imunes à crítica. Ao contrário: é tentar derrotar Bolsonaro, mas muito mais do que isso, buscar derrotar o que o bolsonarismo tem de mais nefasto que é essa condição de estabelecer quais corpos valem e têm direitos e quais não têm direitos”.

Mulheres e democracia

A presidenta da UNE, Bruna Brelaz, fez um relato emocionado sobre os ataques que sofreu — inclusive de militantes de esquerda — especialmente a partir de sua atuação em defesa da frente ampla contra Bolsonaro e dos atos do dia 12 de setembro que tiveram a participação de setores de direita, como o MBL.

“A gente quer fazer a luta política; eu queria falar sobre a frente ampla, sobre as perspectivas de como derrotar Bolsonaro. Eu não queria ter que ficar me defendendo e defendendo outras mulheres para que não aconteça com elas também. Mas, o machismo, a misoginia, também existem na esquerda. Porque a esquerda e o centro não estão fora da sociedade”, disse Bruna.

Ela defendeu que “a nossa reflexão precisa ser de combate porque quando a gente silencia, a gente corre o risco de construir monstros. O combate à misoginia, ao racismo, precisa fazer parte da nossa luta política, tanto na esquerda quanto entre outros setores que defendem a democracia. Sem mulheres na linha de frente, não há democracia. Quando tentam nos invisibilizar politicamente, não existe democracia”.

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Por Priscila Lobregatte