O recuo que vem se verificando nas hostes do governo em relação ao aumento prometido por Bolsonaro apenas aos policiais federais, deixando de lado o restante do funcionalismo público, após a grande mobilização dos servidores não diminuiria a força do movimento, segundo avaliam representantes da categoria.

“Sem chances. Essa campanha salarial começa agora, mas só termina quando houver recomposição dos salários”, disse o presidente do Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques.

O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita, Isac Falcão, também corrobora com Marques, e afirma que não será a ameaça de cancelamento do aumento para os policiais, ou “mais uma fala desrespeitosa [de Bolsonaro ou de membros do governo] que arrefecerá as mobilizações”.

O medo do governo federal de começar o ano enfrentando a maior greve da história dos servidores, como vem sendo prometido pela categoria, e a adesão em massa à operação padrão e entrega de cargos de chefia desde dezembro, que já vem prejudicando o funcionamento de diversos órgãos, fez com que o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), afirmasse na semana passada que o melhor seria “não dar aumento a ninguém”.

Recuo que já vem sendo ensaiado pelo próprio Bolsonaro diante do “vespeiro” em que meteu. “Não tem nada definido”, “todos merecem”, tentou desconversar Bolsonaro em uma de suas lives na semana passada. Mas no sábado (8), enquanto participava de mais um rega-bofe em Brasília, já foi mais incisivo e declarou a jornalistas que “pode ser que não tenha reajuste para ninguém”.

“Primeiramente, não está garantido o reajuste para ninguém. Tem uma reserva de R$ 2 bilhões que poderia ser usada para a PF e a PRF, além do pessoal do sistema prisional. Mas outras categorias viram isso e disseram ‘eu também quero’, e veio essa onda toda”, afirmou Bolsonaro durante a festa de aniversário do advogado Geral da União, Bruno Bianco.

“Não tem espaço no orçamento. Pode ser que não tenha reajuste para ninguém. Tudo é possível”, acrescentou Bolsonaro.

Mas, para o presidente do Fonacate, que inclusive defende a justeza do reajuste também para as carreiras de segurança, a mobilização dos servidores não tem mais volta. “O reajuste para os policiais é necessário, como para as demais categorias do funcionalismo, a fim de recompor perdas que já somam 27,2% pelo IPCA de 2017 até aqui”, disse.

Os servidores, sob a liderança do Fonacate, que agrega 37 sindicatos de diferentes carreiras de Estado, marcaram para o próximo dia 18 um Dia Nacional de Mobilização, que contará com protestos na frente do Banco Central e do Ministério da Economia, e paralisação nos dias 18 e 19, e manifestações dos auditores fiscais da Receita, lideradas pelo Sindifisco Nacional, em suas 80 delegacias sindicais espalhadas pelo país, além do indicativo de greve geral ainda no início deste ano.