Relatório da Comissão de Inteligência da Câmara cita “avassaladoras” evidências de “conduta imprópria” do presidente Trump.

Depois da zombaria em que foi alvo durante recepção no Palácio de Buckinham, a volta para casa de Trump não foi propriamente um descanso para o presidente bilionário, com a Comissão de Inteligência da Câmara aprovando por 13 votos a 9 um relatório de 300 páginas com “avassaladoras” evidências de “conduta imprópria” do mandatário, já entregue à Comissão de Justiça para definição das acusações formais, batendo mais um prego no caixão do impeachment, e garantindo ao não drenado pântano de Washington um Natal para lá de movimentado.

Na abertura dos trabalhos na Comissão de Justiça, os três juristas indicados pelos democratas que controlam a Câmara foram unânimes em asseverar que as evidências sustentam uma acusação de impeachment contra Trump. Já segundo o especialista apontado pelo lado republicano, as provas são ‘quase tão finas quanto uma lâmina de silício”.

Conforme o relatório, Trump usou como barganha duas medidas – uma ajuda militar de US$ 400 milhões [que reteve] e um encontro na Casa Branca – em troca das investigações que exigiu da Ucrânia contra “um rival político que ele aparentemente mais temia, o ex-vice-presidente Joe Biden” e sobre que “foi a Ucrânia, não a Rússia, que interferiu nas eleições presidenciais de 2016”.

Acresce ainda que, para benefício próprio, “o esquema do presidente Trump subverteu a política externa dos EUA em relação à Ucrânia e minou nossa segurança nacional”.

Os republicanos da Câmara divulgaram um relatório próprio de 123 páginas no qual acusam “burocratas não eleitos” – e que “discordam fundamentalmente do estilo, da visão de mundo e das decisões do presidente” – de deporem contra Trump. E no qual asseveraram não haver qualquer prova de “suborno, extorsão ou qualquer alto crime ou contravenções” – as ofensas à Constituição passíveis de impeachment.

Segundo eles, “não há nada inerentemente errado” nas ações do governo Trump na Ucrânia, incluindo o envolvimento direto do advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani, nem quanto a perguntar sobre a corrupção do filho de Biden, Hunter, na empresa de gás Burisma.

Conforme o relatório paralelo, quaisquer referências ao toma-lá-dá-cá seriam apenas “conjecturas e boatos” – incluindo o testemunho do embaixador Gordon Sondland. Já a retenção dos quase US$ 400 milhões seria tão somente “o ceticismo bem conhecido de Trump sobre os gastos dos EUA em ajuda externa”.

O relatório oficial registrou o envolvimento do vice-presidente Mike Pence e do secretário de Estado Mike Pompeo nos abusos em favor de Trump.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, repudiou insinuações de que encabeçara a abertura do processo de impeachment movida “pelo ódio”. “Sou católica”, respondeu ela, “não odeio ninguém. Rezo o tempo todo pelo presidente”. E ainda fulminou: “não me lance esse tipo de palavras!”

O que não impediu o líder da minoria na Câmara, o republicano Kevin McCarthy de chiar da “animosidade” para com o presidente, contra quem, insistiu, não pesa qualquer “corrupção, obstrução da justiça ou abuso do poder”.

Há quem tenha percebido as notáveis credenciais dos juristas convocados pelos democratas. Um, de Harvard, serviu em 2003 de conselheiro ao governo fantoche imposto pela invasão de W. Bush. Outra, pontificava no Departamento de Justiça de Obama quando da perseguição a Assange e Snowden.

Ainda em Londres, Trump havia chamado Schiff de “maníaco e doente”, e já de volta a Washington repetiu que era tudo “caça às bruxas” e “antipatriótico”.

A Casa Branca segue se recusando a participar das oitivas, declarando que falta imparcialidade ao processo todo, além do que está claro que na Câmara – onde a correlação é de 235 democratas a 199 republicanos, mais 1 independente  – o encaminhamento ao Senado do processo de impeachment será aprovado. Diante do que Trump até fez pose, dizendo que quanto mais cedo votar, melhor.

No Senado, o quadro é outro, com 53 republicanos, 45 democratas e 2 independentes, e para afastar Trump precisa de dois-terços dos votos.

Com o risco de ser chamado de estraga-prazeres, o ex-guru de Barack Obama e ex-marqueteiro David Axelrod, hoje comentarista da CNN e diretor do Instituto de Política da Universidade de Chicago, resumiu o que esperar do turno preliminar das eleições de 2020 nos EUA, isto é, do processo de impeachment: “a Câmara julgará o presidente antes do final do ano, porque o que ele fez justifica. O Senado realizará um julgamento em janeiro sem condená-lo, apesar das evidências, porque ele tem controle absoluto sobre seu partido. E vamos passar para outra coisa.”

Ou seja, a eleição propriamente dita, em novembro.

É curioso, com tantos desmandos de Trump – do racismo explícito ao muro contra chicanos pobres, passando pela separação de crianças das famílias na fronteira e perseguição a muçulmanos, anistia a criminosos de guerra, ameaças de destruir nuclearmente a Coreia Popular e o Afeganistão, militarização do espaço, tratado após tratado sumariamente rasgados, inclusive o que evitava uma guerra nuclear – que a ofensa à constituição de que ele esteja sendo acusado seja um ‘complô’ com uma ‘potência estrangeira’ – a Ucrânia pós golpe nazis-CIA de 2014 – para vencer Biden (que ele apelidou de Joe Sonolento).

Enquanto isso, o pega pra capar em Washington deixa os capachos de plantão em regimes instaurados com dedo ianque numa sinuca de bico. É para atender rápido ao Giuliani, ou tem que fazer um pouco de corpo mole até ter certeza de que não entrou de gaiato no navio? Sugestões o mais rápido possível para o comediante Zelensky.