Câmara acelera investigação de Trump por abuso de poder
Em Washington já não se fala em outra coisa – o Ucraniagate e o início de processo de impeachment do presidente Donald Trump desencadeado na Câmara dos deputados controlada pelos democratas -, com este indo para sua torre de marfim no Twitter para insinuar que, se isso ocorrer, haverá uma “fratura como a guerra civil” nos EUA. E para ameaçar o agente da CIA que formalizou a denúncia e até o presidente da comissão de inteligência da Câmara, Adam Schiff, a quem chamou de “traidor”.
Destampado o escândalo do telefonema de Trump ao novo presidente ucraniano Volodymir Zelensky em julho, os fatos vão se sucedendo rapidamente. O enviado especial de Trump à Ucrânia, Kurt Volker, renunciou. A comissão de inteligência da Câmara intimou o novo faz-tudo pessoal e advogado de Trump, o ex-prefeito de Nova Iorque, Rudy Giuliani, a apresentar mensagens de texto e gravações telefônicas sobre a questão em seu poder.
Três comitês da Câmara intimaram o Secretário de Estado Mike Pompeo a entregar documentos relacionados às relações do governo com a Ucrânia. Conforme o Wall Street Journal, Pompeo estava presente durante a ligação para Kiev.
Quanto ao denunciante, já identificado pelo The New York Times como um agente lotado na Casa Branca, Trump andou sugerindo dar “o tratamento” que antigamente se dava aos “espiões e traidores”, além de exigir “conhecê-lo”. Aguarda-se que nos próximos dias venha a depor perante o Congresso.
NÃO SOBRA UM
Como no próprio telefonema Trump recomendou a Zelensky que as tratativas deveriam prosseguir com Giuliani e com o procurador-geral norte-americano, William Barr, não há como este se fazer de morto.
Na quarta-feira (2), será ouvida a ex-embaixadora dos EUA em Kiev, Marie Yovanovitch, afastada abruptamente segundo fontes de Washington. O procurador-geral ucraniano que diz que foi demitido em 2016 por ordem de Biden, Viktor Shokin, afirmou ter recebido da embaixadora uma lista de quem não deveria ser tocado nas investigações da corrupção.
No dia 10, devem depor Volker e o embaixador de Trump para a União Europeia, Gordon Sondland. Preventivamente, Pompeo já declarou que, “até onde sabe, e pelo que viu até agora”, todas as ações dos funcionários do Departamento de Estado foram “completamente adequadas e coerentes”.
Trump também é acusado de ter bloqueado a liberação de US$ 400 milhões em ajuda militar para Kiev, enquanto Zelensky não mostrasse toda a boa vontade requerida. Altos funcionários da Casa Branca esconderam a transcrição da chamada, movendo-a para um sistema separado usado para informações classificadas, ao invés de armazenada no computador usual.
Por sua vez, Giuliani explicou que seus contatos com a Ucrânia ocorreram a pedido do Departamento de Estado. Na carta de convocação a ele, os parlamentares o advertem que a investigação inclui as alegações de que agiu “como agente do presidente em uma manobra para promover seus interesses políticos pessoais, abusando do poder do Gabinete do Presidente”.
Diante das infames tuitadas de Trump e suas declarações destemperadas contra os denunciantes, os comitês da Câmara podem vir a acusá-lo, também, de intimidação de testemunhas.
Na Câmara, controlada pelos democratas, há espaço para aprovar o processo de impeachment de Trump, mas como o julgamento político cabe ao Senado, controlado pelos republicanos, e sendo necessários dois terços dos votos, sob presidência da Suprema Corte, a crise tem que se agravar bastante para que isso se viabilize. Até hoje não houve um impeachment formalmente, mas em 1974, com o escândalo Watergate, Nixon renunciou porque o partido já o abandonara.
Na semana passada, o diretor de Inteligência do governo Trump, Joseph Maguire, compareceu à Câmara e teve de admitir que o acusador agiu de “boa fé” ao relatar as denúncias ouvidas de várias fontes a que tinha acesso. O código interno dos serviços secretos norte-americanos antes exigia que o acusador fosse uma fonte primária, mas mudou para passar a valer no caso de ouvir de terceiros. Parece que a nomeação, por Trump, de Gina Sanguinária, não adiantou de muito para o presidente bilionário.
PÂNTANO
Acionadas pela presidente da Câmara, Nancy Pelosi, seis comissões já se debruçam sobre as acusações de abuso de poder e de pedir a uma “potência estrangeira” ajuda para se beneficiar em uma eleição nos EUA.
Apesar do certo exagero em chamar de “potência estrangeira” o governo fantoche instalado em Kiev pela própria CIA com ajuda dos neonazis, a questão pegou Trump em cheio. Agora, a mídia diz que Trump também pediu uma força, em relação ao Russiagate, ao governo australiano.
O telefonema de Trump a Zelensky, que derrotara Pyotr Poroshenko em abril, ocorreu no dia seguinte do relatório Mueller, em julho. Trump pediu um “favor” contra a empresa anti-guerra cibernética Crowdstrike e contra Joe Biden – o pré-candidato de maior destaque dos democratas para 2020 e que, como vice de Obama, tivera grande participação no golpe de 2014 e desdobramentos.
Sobre a Crowdstrike, envolvida no Russiagate e no episódio do hackeamento do Diretório Nacional Democrata, queria que Zelensky encontrasse os “servidores” do DNC supostamente escondidos na Ucrânia. Quanto a Biden, a ordem era investigar confissão que este fizera em janeiro do ano passado no Council of Foreign Relations, e disponível na internet, de que obtivera a demissão de um procurador-geral ucraniano que investigava a corrupção da empresa de gás privada, Burisma, após ameaçar vetar US$ 1 bilhão para Kiev. Sem entender nada de gás, o rebento de Biden, Hunter, foi agraciado com cargo de diretor da Burisma, por US$ 600.000 anuais, ficando até Poroshenko perder a eleição.