Os casos de Covid-19 aumentaram 40% nos EUA em 24 horas, com mais de 2.700 novos contágios, registrou a CNN na quinta-feira. Agora, já são 11.015 pessoas testando positivo nos EUA para o coronavírus. 164 pessoas morreram. Já há casos em todos os 50 estados do país.

A incúria do governo Trump, que se recusava a levar a pandemia a sério, até os contágios se espalharem e a bolsa de Wall Street ir ao chão – até disse iria passar com ‘o calor da primavera’ -, vem acarretando um pesado ônus em pacientes, óbitos e escassez de testes, respiradores e até máscaras cirúrgicas.

À CNN, o médico Sejal Hathi alertou que “estamos entrando em uma batalha sem a percepção de onde essas infecções estão nem a armadura para proteção contra eles”. “Isto realmente não está bem”, acrescentou.

Ele descreveu os profissionais de saúde diante da atual pandemia de Covid-19 como “soldados de infantaria em uma guerra que não prevíamos e para a qual nunca fomos preparados”.

“Pedem-nos para reutilizar e reciclar respiradores e máscaras cirúrgicas descartáveis quando vamos aos pacientes”, denunciou, sobre a deplorável situação em que tem que atuar para fazer frente à doença.

Scott Becker, executivo-chefe da Associação de Laboratórios de Saúde Pública, classificou o problema como “enorme”. “Estou realmente preocupado que não tenhamos capacidade para testar aqueles que realmente precisam e devem fazer um teste”.

Apesar de o presidente Trump se gabar de que o governo faz “um trabalho fantástico” na contenção da pandemia, autoridades médicas de vários departamentos de saúde, hospitais e laboratórios estaduais disseram à CNN que anda faltando até cotonetes, além de reagentes, pipetas e outros materiais, para realizar os testes da COVID-19.

O Departamento de Saúde de Ohio disse que está se concentrando em “testar nossos pacientes mais vulneráveis” por causa de uma “escassez global de suprimentos”. Minnesota apontou que o estado foi forçado a “a fazer ajustes em seus critérios de teste” para se concentrar “nas amostras de maior prioridade, incluindo pacientes hospitalizados” devido à escassez nos EUA de materiais de teste da Covid-19.

De acordo com o Washington Post, as autoridades de saúde de Utah estão tentando reservar testes para “as populações em maior risco” e instruindo os pacientes a procurar apenas testes se apresentarem sintomas óbvios. “Infelizmente, enfrentamos desafios de infraestrutura e logística que nos impedem de testar todos”, afirmou Angela Dunn, epidemiologista do estado. “Não há vitória nessa situação. É exatamente o que temos que fazer.”

Fornecedores de testes nos EUA e na Europa explicaram que “a demanda é sem precedentes” e eles não conseguem acompanhar. Nesta semana, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças tentaram resolver a falta de máscaras, recomendando o uso de bandanas, se necessário.

“Em ambientes onde as máscaras faciais não estão disponíveis, os [profissionais de saúde] podem usar máscaras caseiras (por exemplo, bandana, cachecol) para cuidar de pacientes com COVID-19 como último recurso”, disse o CDC, referindo-se à doença causada pelo coronavírus. “Deve-se ter cuidado ao considerar esta opção.”

Ainda segundo a CNN, nos principais hospitais de Seattle e Washington, DC, a escassez de máscaras já havia se tornado tão aguda que pediram a médicos e pacientes que reutilizassem as máscaras, não as descartassem como o protocolo tradicional anterior do CDC exige, mesmo após o contato com pacientes infectados. No Rush University Medical Center, em Chicago, a equipe do hospital começou a usar óculos de laboratório laváveis em vez de jogar fora os protetores faciais para proteger os olhos.

A ex-secretária assistente de preparação e resposta no Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) durante o governo Obama, Nicole Lurie chamou a sugestão de bandana do CDC de “um alerta”. “A questão é que, se você não pode proteger os profissionais de saúde e eles ficarem doentes, todo o sistema será desativado”, disse ela ao Post . “A prioridade para manter a saúde pública é proteger os profissionais de saúde”.

Quanto à falta de testes adequados, como salientou o New York Times, repetindo o que a Organização Mundial de Saúde (OMS)tem conclamado, a China e a Coréia do Sul mostraram que “testar cedo, frequentemente e amplamente faz toda a diferença”. A orientação da OMS é “testar, testar, testar”.

No estado de Nova Iorque, quase 8.000 testes foram realizados durante a noite, disse o governador Andrew Cuomo na quinta-feira. Mais tarde as autoridades anunciaram que o estado tinha 4.152 casos confirmados. “Quando você faz 8.000 testes”, disse o governador, “os números aumentam exponencialmente”.