Os governadores de dois dos três Estados dos EUA mais atingidos pela doença respiratória Covid-19, Nova Iorque e Califórnia, anunciaram quarentena para conter o coronavírus e evitar o colapso da rede hospitalar. O confinamento já está em vigor na Califórnia e começa no domingo em Nova Iorque.

A ordem é “ficar em casa”, exceto em casos de grande necessidade, como para comprar comida ou remédios, buscar assistência médica e caso a pessoa exerça um trabalho essencial, ordenou o governador Gavin Newsom aos 40 milhões de californianos.

O governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse na sexta-feira que está ordenando que todos os trabalhadores de empresas não essenciais fiquem em casa e probiu reuniões em todo o Estado. A decisão foi tomada quando os casos confirmados no Estado subiram para mais de 7.000, e 35 mortos.

“Vamos fechar a válvula, porque a taxa de aumento no número de casos pressupõe um esmagamento total do nosso sistema hospitalar”, afirmou Cuomo em entrevista coletiva.

Mesma razão que levou Newson à restrição ao movimento não essencial na Califórnia. Só na quinta-feira, quinta-feira, houve 1.000 casos confirmados e 19 óbitos na Califórnia.

Diante da incompetência e inércia do governo Trump, os governadores na prática vêm assumindo a linha de frente nos EUA na contenção da Covid-19. A demora na tomada de medidas efetivas de contenção da disseminação do coronavírus ameaça com a repetição do dramático quadro visto na Itália, com o sistema hospitalar à beira do colapso.

Estudo das autoridades sanitárias da Califórnia alertou que 56% dos californianos nas próximas oito semanas poderiam ser infectados pelo coronavírus, 25 milhões de pessoas.

A Califórnia tem 416 hospitais, com capacidade de atender cerca de 87.000 pacientes de cada vez, e como apontou Newsom, o sistema pode ser estendido para até 10.000 pacientes a mais.

Se 20% precisarem de hospitalização, como está sendo observado em outras partes do mundo, seriam 19.543 pessoas a mais do que o sistema suporta. “Esse é o número que guia a maioria de nossas decisões”, assinalou Newsom.  É imprescindível reduzir esse número ao mínimo para que o sistema de saúde possa aguentar.

Newsom havia anunciado na terça-feira que estava colocando a Guarda Nacional em alerta e que invocaria a lei marcial caso necessário para fazer cumprir a quarentena.

O governador também pediu a Trump que envie um navio-hospital da Marinha dos EUA, agora atracado em San Diego, para o porto de Los Angeles, para que sejam deslocados para lá pacientes de terapia intensiva com outras moléstias, para dar espaço ao novos casos graves da Covid-19 na rede estadual.

O número de casos confirmados nos EUA já ultrapassou 14 mil, com mais de 200 mortes. O coronavírus afeta todos os 50 Estados, sendo os mais atingidos os de Nova Iorque, Washington e Califórnia.

Também o governador da Pensilvânia, Tom Wolf, ordenou o fechamento de todas as empresas no Estado, com exceção de supermercados, farmácias, serviço de lanchonete e postos de gasolina. Os infratores ficarão sujeitos a multas ou prisão. O governador de Nevada determinou o fechamento dos cassinos.

Em videoconferência com Trump, os governadores reclamaram da escassez de equipamentos de proteção para médicos e enfermeiros, e que estava difícil obter até os cotonetes utilizados nos testes da Covid-19. O atraso nos testes tornou-se um desastre nacional.

Cuomo já havia advertido que seu Estado não tem aparelhos de ventilação suficientes para o aumento esperado de pacientes que precisam de ajuda para respirar, e que é urgente adquirir milhares antes que o surto faça os hospitais entrarem em colapso.

“Todo Estado está comprando ventiladores. Estamos comprando ventiladores. Literalmente, temos pessoas na China comprando ventiladores, que é um dos maiores fabricantes. Portanto, este é um grande problema ”, disse ele.

Já o prefeito de Nova Iorque, Bill de Blasio, criticou Trump como “o Herbert Hoover da sua geração”, referindo-se ao presidente dos EUA em 1929, e que antes do crash também falava sobre como era fantástica a economia assaltada pelos especuladores.

Enquanto isso, um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), divulgado quarta-feira, refutou a crença de que a COVID-19 ameaça seriamente apenas os idosos.

“Esses dados preliminares também demonstram que doenças graves que levam à hospitalização, incluindo internação na UTI e morte, podem ocorrer em adultos de qualquer idade com COVID-19”, revelou o estudo.

Analisando todos os casos nos EUA de 12 de fevereiro a 16 de março – 4.226 no total -, o CDC constatou que embora apenas 20% dos que morreram tinham menos de 65 anos, nos casos em que houve necessidade de hospitalização, mais da metade (55%) tinha menos de 65 anos. O que também ocorreu na internação em UTI, em que as pessoas com menos de 47 anos foram 47%.

A incompreensão disso leva jovens a correrem riscos desnecessários e acabarem por ocupar leitos de terapia intensiva de que a sobrevivência dos mais idosos depende.