A saga de Eyal Yinon, o conselheiro jurídico do Knesset [parlamento israelense] é um exemplo típico das táticas estilo gangster de Benjamin Netanyahu ao apagar das luzes de seu mandato”.
É assim que começa a análise do colunista israelense Yoissi Verter, publicada no jornal Haaretz, no dia 10 (sexta-feira), com o título “O mais recente complô de Netanyahu contra o sistema judiciário: difamar o conselheiro do Knesset”.
Todo o esforço de Bibi Netanyahu – desde seus três indiciamentos por fraude, suborno e quebra de confiança – tem sido no sentido de fugir do julgamento perante os tribunais israelenses.
Como os processos avançaram ao ponto de serem relatados os motivos do indiciamento, já enviados aos juízos de primeira instância, Netanyahu adota a tática de postergar os próximos passos do judiciário entrando com o pedido de imunidade exclusiva. Ou seja, que o parlamento conceda ao premiê e, somente a ele, a imunidade de julgamento enquanto estiver no exercício do mandato.
No sistema israelense, parlamentarista, um novo governo só pode ser formado após as eleições por quem obtenha o apoio da maioria de 61 dos 120 deputados.
Nas duas eleições acontecidas em 2019, com o eleitorado dividido, nem Netanyahu, nem o principal opositor, Benny Gantz, obtiveram esta quantidade de apoiamentos. Assim que, em 2 de março, haverá nova eleição.
Netanyahu encaixou o pedido de “imunidade” (o mais correto seria de impunidade) neste momento em que, para haver eleições, o parlamento está suspenso. Dessa forma, o julgamento tem que aguardar a decisão do Knesset (Netanyahu sabe que a proposta não vai passar, mas insistiu nela apenas com forma de protelar o avanço do processo).
Como diz Verter, “tudo que lhe restou a ele”, em sua defesa, “são truques, evasões, desvios e ofuscamentos”.
Tem usado o poder que o cargo de primeiro-ministro lhe confere, incluindo apoio de parte da imprensa, para difamar e desqualificar a todos os que atuam nos seus processos, investigadores de polícia, os promotores e o procurador-geral.
Agora chegou a vez do conselheiro do Knesset Yinon (que deve relatar ao parlamento israelense se – do ponto de vista legal – o pedido de imunidade procede e se, neste caso, mesmo com o parlamento suspenso devido à eleição, as comissões atinentes à questão podem se reunir e deliberar sobre o pleito de Netanyahu).
A forma como o governo Netanyahu tem tratado Yinon é, de acordo com Verter, “nada menos do que assassinato de caráter”.
Na sede do governo se arquiteta a tentativa de “arruinar a reputação de Yinon”.
Entre outras manobras, denuncia Verter, desde que Yinon opinou que as comissões parlamentares podem se pronunciar agora, trazendo o caso à tona antes das eleições de 2 de março, ameaçam entrar na Corte Suprema com petição por “criminalidade suspeita” para que ele seja afastado de opinar sobre o caso da imunidade.
“Com clichês e frases vazias de efeito, com o líder do Likud [partido de Netanyahu], Miki Zohar – que é capaz de tudo para agradar seu patrão -, à frente, a guerra teve início”, diz o articulista.
O ministro da Justiça de Netanyahu dirigiu-se da forma mais grosseira mesmo “sem nenhuma autoridade para interferir nas atividades de Yinon” exigindo que ele “desista de agir nestas questões”.
O presidente do Knesset, Yuli Edelstein, saiu em defesa de Netanyahu, no entanto o principal líder opositor, Benny Gantz, com o apoio de 65 deputados, já declarou que se ele tentar obstruir as deliberações parlamentares pode perder o cargo.