A maioria dos brasileiros sabe que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é o “pai” do Auxílio Brasil – o programa eleitoreiro do governo para tentar sepultar o Bolsa Família no imaginário da população e criar uma marca entre as famílias mais pobres. Apesar da identificação entre a iniciativa e seu idealizador, Bolsonaro não consegue ampliar suas intenções de voto entre os beneficiários do programa.

É o que aponta a pesquisa “A Cara da Democracia” feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC) e divulgada nesta terça-feira (5) no jornal O Globo. Foram ouvidos 2.538 eleitores, presencialmente, em 201 cidades, de todas as regiões brasileiras. A margem de erro é de 1,9 ponto percentual.

De acordo com o levantamento, 74% afirmam que Bolsonaro foi o “responsável pela criação do Auxílio Brasil”. Há 3% de entrevistados que associam o programa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Outros 21% não sabem qual presidente lançou a medida.

Com relação ao Bolsa Família, 55% dos entrevistados sabem que se trata de um projeto do governo Lula. Há quem atribua o programa aos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 10%), a Bolsonaro (4%) e à ex-presidenta Dilma Rousseff (PT, 2%), enquanto 26% dizem não saber a resposta.

Embora haja mais brasileiros cientes da paternidade do Auxílio Brasil do que do Bolsa Família, os números não são tão favoráveis para Bolsonaro. Conforme diz Flávio Tabak, no blog O Pulso (O Globo), Bolsonaro não conseguiu enfrentar “a memória relacionada ao Bolsa Família”, que foi criado há quase 20 anos e continua vinculado a Lula.

Para Lucio Rennó, professor de Ciência Política da UnB, “o Bolsa Família é marca registrada do PT, e o governo Bolsonaro tentou interromper isso de alguma maneira”. Mas o governo não teve êxito. “Fica claro que o Bolsa Família está na memória da população. É simbólico, é marca do combate à desigualdade que a população associa ao PT”, avalia Rennó.

Outro dado da pesquisa confirma que os brasileiros apoiam a ideia de um programa de assistência para famílias em vulnerabilidade. O levantamento mostra que 88% concordam com o Bolsa Família e 85%, com o Auxílio Brasil. “Portanto, na campanha eleitoral, Lula e Bolsonaro não terão o que discutir sobre a validade desses programas federais. Na avaliação de especialistas, o que vai contar é a forma como cada eleitor entende o benefício e, principalmente, com qual intuito cada um foi criado”, comenta Flávio Tabak.

Mas por que, afinal, o Auxílio Brasil não rendeu mais aprovação – e intenções de voto – para Bolsonaro, conforme esperava o governo? “Durante a pandemia, o auxílio emergencial foi importante para sustentar a popularidade de Bolsonaro. Mas, em princípio, o Auxílio Brasil não necessariamente recaptura eleitores de baixa renda que o presidente vem perdendo desde a eleição”, avalia Lucio Rennó

Segundo ele, “a aposta agora é massificar essa estratégia com a Proposta de Emenda Constitucional que amplia os projetos sociais. Apesar de fazer sentido politicamente, a ação pode ter sido apresentada tardiamente pela pré-campanha do presidente Bolsonaro”.

Para Fábio Kerche, professor de Ciência Política da Uni-Rio, agrega: “Eleitores podem até reconhecer que é uma iniciativa do atual governo, mas não a ponto de mudar a intenção de voto”. A razão: “Existe uma discussão sobre a credibilidade e compromisso de cada candidato com essa pauta. No caso de Bolsonaro, há desconfiança. Muitos podem se perguntar: ‘Por que não fez antes?’. Reconhecer ou saber de quem veio não significa aderir.” A seu ver, o Auxílio Brasil é visto como “ação eleitoreira, ao final dos 45 minutos do segundo tempo”.

Não é por acaso que uma outra pesquisa, o último levantamento BTG/FSB sobre as eleições presidenciais – aponta que 73% dos eleitores que recebem o Auxílio Brasil votariam hoje em Lula e apenas 16% em Bolsonaro. A cada nova rodada da pesquisa, a preferência por Lula cresce nessa faixa da pesquisa.

Em 30 de maio, o petista tinha 50% de intenções de votos entre os que recebem o Auxílio Brasil. No levantamento de 13 de junho, o índice disparou 14 pontos e chegou a 64%. Agora, duas semanas depois, bateu nos 73%. Bolsonaro, em trajetória inversa, tinha 25% desses votos, foi a 21% e caiu hoje para 16%.

A distância entre o ex-presidente e o atual nesse segmento é bem maior do que no conjunto do eleitorado, na sondagem para o primeiro turno. Na pesquisa estimulada (quando os nomes dos candidatos são apresentados), Lula tem 43% e Bolsonaro, 33%. Já no segundo turno, o petista seria eleito com 52% dos votos, contra 37% do presidente da República.