Segundo um levantamento da LCA Consultores, com base nos indicadores da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) trimestral do IBGE, o Brasil encerrou 2021 com um total de 33,8 milhões de trabalhadores – 36% do total de ocupados – com renda mensal de até 1 salário mínimo –  com a inflação corroendo o poder de compra e levando muitas famílias à situação de fome no país. É o maior contingente já registrado na série histórica iniciada em 2012. Em 1 ano, o salto foi de 12,2%, ou 4,4 milhões de pessoas a mais.

A renda média do trabalho encolheu 10,7%, para R$ 2.447, no trimestre encerrado em dezembro de 2021, em relação a igual período de 2020 – menor valor da série histórica, iniciada em 2012. Porém, esse valor não foi  alcançado por muitos dos 38,9 milhões de brasileiros – registrados a época – que estavam alocados no trabalho informal (pessoas que vivem dos populares bicos – vendem água, doces, entre outros produtos, nas ruas, em estações de metrô, rodoviárias –  vivem de atividades de trabalho precário). Para estes, a remuneração mensal não chega sequer ao valor do salário mínimo, que até o final de 2021 estava em R$ 1.100 e subiu em 2022 para R$ 1.212.

“A condição de trabalho é precária e muitas vezes as pessoas buscam fazer aquilo que é chamado de bico, trabalhar por conta própria na busca de conseguir algum tipo de remuneração. E isso tem a ver tanto com atividades de comércio de rua, como atividades de prestação de serviços, de manutenção”, explica o pesquisador do Observatório das Metrópoles e professor do IPPUR/UFRJ, Marcelo Ribeiro, ao G1.

Os números da PNAD não permitem identificar quantos trabalhadores recebem menos que o piso mínimo nacional, mas revelam que 21,9 milhões tiveram renda entre 1/2 e 1 salário mínimo no trimestre encerrado em dezembro. Outros 9,6 milhões receberam até 1/2 salário mínimo e 2,2 milhões (grupo formado basicamente pela categoria trabalhador familiar auxiliar) não receberam nada.

Segundo um estudo divulgado neste mês pelo Observatório das Metrópoles, em parceria com a PUC-RS e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina, 23,6% da população das regiões metropolitanas vivem em domicílios com renda per capita de no máximo 1/4 do salário mínimo. No auge da pandemia, esse percentual chegou a quase 30%.

Em 2021, a inflação no Brasil fechou acima dos dois dígitos, com alta de 10,06%, o maior aumento desde 2015 (10,67%), e a 4ª maior taxa de inflação entre os 44 países monitorados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na frente do Brasil, estão Argentina (50,9%), Turquia (36,1%) e Estônia (12,1%).

O maior impacto para o aumento da inflação brasileira veio dos preços que são administrados pelo governo federal, como combustíveis – atrelados ao dólar e à especulação do barril do petróleo no mercado internacional. Além disto, o outro impacto veio da conta da luz, através da bandeira tarifária “Escassez Hídrica”, criada pelo governo Bolsonaro, que entrou em vigor em setembro, acrescentando R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 kWh consumidos –ela repassou aos consumidores brasileiros os altos custos do acionamento das termoelétricas, e a importação de energia da Argentina e do Uruguai – medidas essas  acionadas pelo governo, que não tinha nenhum plano de contingência para o enfrentamento de crises hídricas no país.

Enquanto a inflação aumentou, pelo terceiro ano consecutivo, a grande massa dos trabalhadores com carteira assinada não obteve ganhos reais em seus salários. Segundo o “Salariômetro” da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe),  nos últimos 12 meses até fevereiro, 55,7% dos reajustes perderam para a inflação, 15,1% conseguiram repor só as perdas e apenas 29,2% superaram a inflação.

EDIÇÃO: Guiomar Prates