Brasil perde 1,1 milhão de empregos formais com Covid-19 e Bolsonaro
O Brasil perdeu 860.503 mil empregos em abril, reflexo do avanço da pandemia do novo coronavírus e do descaso do governo Bolsonaro em implementar as medidas emergenciais capazes de socorrer empresas e trabalhadores diante da crise – que já vigia antes da pandemia, mas cresceu e paralisou as atividades em diversos setores da economia com a necessidade de isolamento social.
Nos dois meses da pandemia da Covid-19, março de abril, o país perdeu 1,1 milhão de empregos com carteira assinada. Em março, foram fechadas 240.702 vagas formais no país.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério da Economia, na quarta-feira (27), é a diferença entre 598.596 admissões e 1.459.099 demissões ao longo do último mês. Os números mostram um aumento de 17,2% nas demissões na comparação com abril do ano passado, enquanto as admissões recuaram 56,5%. É o pior resultado para um único mês em 29 anos.
Em abril, houve fechamento de vagas em todos os setores: Indústria (-195.968); Serviços (-362.378), Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-4.999); Construção (-66.942) e Comércio (-230.209).
Foi o primeiro resultado do Caged divulgado este ano, depois que Paulo Guedes, ministro da Economia, decidiu suspender a publicação dos dados que tornam transparente a situação do mercado de trabalho formal no Brasil. Os dados do Caged eram divulgados mensalmente, com base em dados das próprias empresas.
Os dados do IBGE, que tratam de trabalhadores formais e informais e são baseados em pesquisa domiciliar (Pnad Contínua) mostram que, em março, 12,9 milhões de brasileiros estavam desempregados e 36,8 milhões estavam na informalidade.
Sem socorro, mais crise
Empresários e economistas têm alertado que são muito pequenas as medidas adotadas pelo governo até agora para socorrer os empreendedores, especialmente os micro, pequenos e médios negócios, durante a grave crise que o país e o mundo enfrentam. O resultado está, também nas demissões.
No começo de abril foi criado o Programa Emergencial de Preservação do Emprego e Renda por meio de medida provisória, que permite a redução temporária de salários proporcionalmente às jornadas. Em contrapartida, empregadores não podem demitir por até 6 meses. Já os trabalhadores recebem compensação salarial com base no seguro desemprego.
Mas o testemunho dos empresários, especialmente os pequenos, é de que não é possível sobreviver sem o crédito. Após quase dois meses do anúncio da linha emergencial de crédito às pequenas e médias empresas para pagar salários durante a pandemia do coronavírus, os recursos não chegaram na ponta e as empresas estão com o faturamento em queda, demitindo funcionários e muitas delas fechando as portas.
Dos R$ 40 bilhões necessários para garantir a folha de pagamento, apenas R$ 1,6 bilhão foram aprovados. E para capital de giro, apenas metade dos R$ 5 bilhões anunciados, segundo informou a Caixa Econômica Federal no dia 15 de maio, foram aprovados.
O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), no valor de R$ 15,9 bilhões, foi sancionado por Bolsonaro, quase um mês depois de aprovado pelo Senado Federal, com vetos à carência de oito meses.
Por fim, ainda sem definição e dois meses após a decretação do estado de emergência, o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) define as regras de um fundo garantidor para financiar linhas de crédito no valor de R$ 20 bilhões.
Além do atraso do governo em tomar as medidas urgentes, os empresários encontram enorme resistência dos bancos, públicos e privados, na hora de emprestar. Segundo pesquisa do Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, houve um acréscimo de 8 pontos percentuais na proporção dos empresários que buscaram por recursos junto a bancos de abril para maio. Porém, o estudo mostra que 86% tiveram o empréstimo negado ou ainda têm seus pedidos em análise. Desde o início das medidas de isolamento no Brasil, apenas 14% daqueles que solicitaram crédito tiveram sucesso.
“São grandes as dificuldades encontradas pelas pequenas empresas e, sem o crédito, o resultado é demissões. Teve banco exigindo até comprovação de voto nas últimas eleições. (…) Nessa altura, acreditamos que mais de 100 mil estabelecimentos foram fechados e mais de 1 milhão de pessoas foram demitidas [em todo o Brasil]”, relatou o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP), Percival Maricato.
Diante do cenário em que empresas passam por graves dificuldades financeiras e não conseguem acessar crédito, os pedidos de recuperação e falência dispararam em abril sobre março. De acordo com levantamento do Serasa Experian, o aumento de pedidos de recuperação judicial foi de 46,3%; já os pedidos de falência subiram 25% no mês passado.