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Pesquisas realizadas por universidades e empresas brasileiras em tecnologias de um tecido antiviral capaz de eliminar o novo Coronavírus (Covid-19) avançam e mostram eficiência em diversos aspectos. A produção dos tecidos anticovid apresentam um grande potencial para a indústria de equipamentos médicos e para o atendimento à população.

Fruto de uma parceria entre Inmetro, Coppe/UFRJ, e CTC- PUC-Rio, criou um tecido composto por nanopartículas atua como um poderoso filtro que inativa os elementos virais respiratórios, como o SARS-CoV-2. A proposta é disponibilizar a tecnologia, sem custo, para que o material possa ser produzido em escala industrial. O projeto conta com o financiamento da Faperj.

O tecido hidrofóbico de algodão está sendo produzido no Laboratório de Engenharia de Superfícies da Coppe/UFRJ, sob a coordenação da professora Renata Simão. “O tecido tem uma composição híbrida. Ele é composto de um recobrimento, altamente hidrofóbico, que evita a penetração de micropartículas de água contaminadas pelo vírus. Além disso, contém nanopartículas antivirais ativas de óxidos metálicos e carbono. Os dois recursos associados formam uma barreira que impede a penetração do coronavírus e o torna inativo, o que resultará em uma máscara mais segura”, explica a professora dos Programas de Engenharia de Nanotecnologia e de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe.

Segundo Renata, o material apresenta outras vantagens: é biodegradável e reduz apenas 15% da respirabilidade, similar ao de máscaras de TNT usadas por profissionais de saúde. O recobrimento está sendo testado também em papel absorvente para a produção de máscaras descartáveis, com duração de 5 horas em média, ou seja, o dobro do tempo recomendado para as máscaras descartáveis disponíveis no mercado.

Os testes para a caracterização e constatação da eficácia das nanopartículas estão sendo realizados no laboratório de microscopia eletrônica do Inmetro. “Nesta primeira etapa, utilizaremos o tecido hidrofóbico, produzido pela Coppe, para avaliarmos a capacidade de eliminar o vírus. Esperamos ter os resultados ainda em 2020, e, caso seja comprovado sua eficácia, o país poderá ter acesso a uma tecnologia que proporcionará mais segurança e risco reduzido da contaminação, inclusive em ambiente hospitalar, onde é mais frequente. E o melhor: a um custo-benefício acessível à sociedade”, comentou Carlos Achete, especialista em Metrologia de Materiais do Inmetro e coordenador do projeto denominado ‘Tecidos Hidrofóbicos e Ativos para Substituição do TNT Hospitalar’.

Na avaliação da professora da Coppe/UFRJ, o mais importante no desenvolvimento desse tecido especial é a parceria da pesquisa no Brasil. “A gente está agregando diferentes competências de diferentes instituições e fazendo com que o produto nasça dessas diferentes competências. Eu acho que isso é a coisa mais importante, além do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro [Faperj], que é indispensável.”

Ela acrescentou que neste momento de pandemia e de negacionismo da ciência, as fundações de amparo à ciência do Brasil inteiro estão demandando e financiando a pesquisa, o que é extremamente positivo. Segundo Renata Simão, há cerca de 10 anos, havia uma certa resistência, inclusive, em se trabalhar em equipe, em rede, com outras instituições. Esse projeto do tecido antiviral mostrou que isso pode ser possível. A ideia não veio de uma universidade ou instituto em especial.

FAPESP

Pesquisadores da empresa paulista Nanox, apoiada pelo Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), desenvolveram um tecido com micropartículas de prata na superfície que demonstrou ser capaz de inativar o Covid-19.

Em testes de laboratório, o material também foi capaz de eliminar 99,9% da quantidade do vírus após dois minutos de contato.

O desenvolvimento do material teve a colaboração de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), da Universitat Jaume I, da Espanha, e do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.

“Já entramos com o pedido de depósito de patente da tecnologia e temos parcerias com duas tecelagens no Brasil que irão utilizá-la para a fabricação de máscaras de proteção e roupas hospitalares”, disse Luiz Gustavo Pagotto Simões, diretor da Nanox.

O tecido é composto por uma mistura de poliéster e de algodão (polycotton) e contém dois tipos de micropartículas de prata impregnadas na superfície por meio de um processo de imersão, seguido de secagem e fixação, chamado pad-dry-cure.

A Nanox já fornecia para indústrias têxteis e de diversos outros segmentos essas micropartículas, que apresentam atividade antibacteriana e fungicida, e em tecidos evitam a proliferação de fungos e bactérias causadoras de maus odores.

Na mesma linha, O Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil – SENAI

CETIQT, por meio do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, uniu-se à BioManguinhos, organização da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e à empresa Diklatex para o desenvolvimento de um tecido capaz de neutralizar o novo coronavírus. Os testes preliminares realizados no início de junho demonstraram que amostras do tecido foram capazes de inativar mais de 99% das partículas virais respiratórias do sarampo e da caxumba. Após testar positivamente para os dois vírus, os pesquisadores chegaram à confirmação da mesma eficácia para o Covid-19.

A Bio-Manguinhos, em parceria com o SENAI CETIQT e Diklatex, está avaliando, experimentalmente, a ação de tecidos antivirais para a produção de máscaras e aventais, em seu Laboratório de Tecnologia Virológica (Latev). Segundo a chefe do laboratório, Sheila Maria Barbosa de Lima, um dos tecidos avaliados foi capaz de inativar 99,9% das partículas virais do SARS-CoV-2 após 1 minuto de contato da Covid-19 com o têxtil antiviral. Os ensaios foram executados e confirmados em laboratório NB-3.

“A comprovação da ação anticovid-19 do tecido produzido pelo SENAI CETIQT/Diklatex se destaca no cenário atual do país em meio à pandemia como um importante equipamento de proteção no combate à disseminação do vírus”, afirma a chefe do Latev.

Na avaliação do diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, será com inovações desse porte que o Brasil poderá se reposicionar de forma competitiva no novo mercado global. “O resultado da parceria do SENAI com a BioManguinhos e a Diklatex demonstra que a inovação é decisiva para o Brasil enfrentar as consequências do novo coronavírus e também será essencial no pós pandemia, quando o país terá o desafio de repensar a atividade produtiva para que seja mais forte e competitiva diante das oportunidades que vão surgir”, disse.

TESTES

A tecnologia já está sendo aplicada no transporte coletivo da cidade de Osasco, na região metropolitana de São Paulo. Desde o mês de agosto, os bancos dos ônibus da cidade foram revestidos com o tecido anticovid.

“Em caráter experimental e sem custos ao município, Osasco será a 1ª Cidade do Brasil a testar um Ônibus com tecidos antivirais na parte interna do coletivo, que impede a propagação de Vírus e Bactérias nas áreas de contato. A empresa responsável pelo projeto é a Rhodia, que possui laudo comprobatório do IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Após período experimental de 7 dias, as empresas ampliarão as instalações em outras linhas municipais”, anunciou o prefeito Rogério Lins, nas redes sociais.