Brasil chega ao 1º de Maio no topo do ranking do desemprego
Às vésperas do Dia Internacional do Trabalhador, o Brasil, que no Governo Bolsonaro já chegou a ter um contingente de 14 milhões de desempregados, passa a ocupar a nona pior posição em um ranking de 102 países elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating, com base na taxa de desemprego de fevereiro, quando o índice brasileiro chegou a 13,7%. Entre os membros do G-20, o país só está melhor situado do que a África do Sul no indicador.
Em entrevista, o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Júnior diz que o Brasil chegou a tal ponto, em consequência do que ele chama de uma mudança de compreensão da política econômica, iniciada no Governo Temer e aprofundada por Bolsonaro sob a gestão do ministro Paulo Guedes.
“O governo já não tem a questão do emprego como centralidade. A preocupação é ajuste fiscal, teto de gastos, reformas. Muda a pauta: sai de uma em que gerar emprego era o centro, para outra pauta, claramente liberal, que inicia um processo de mudança do país que começou a ser construído a partir de 2003”, define.
De acordo com ele, a partir do momento em que muda a política de reajuste do salário mínimo, deterioram-se ainda mais as condições para o trabalhador e, consequentemente, as da economia, pelo impacto negativo no poder de compra. “Havia uma política de valorização do salário mínimo, pela qual os trabalhadores tinham aumento real acima da inflação todos os anos e passamos a ter contenção de gastos, o que não vai acontecer no Governo Temer, vai acontecer no Bolsonaro. E, em 2019, ocorre a Reforma da Previdência, com a redução dos valores das aposentadorias, além de reajustes do salário mínimo até abaixo da inflação, reduzindo efetivamente o poder de compra”, recorda.
Outro fator relevante para aumentar desemprego foi o aprofundamento do processo de desindustrialização brasileira. “O Brasil passa, a partir de 2004, a ter uma política industrial, buscando dar um protagonismo maior na economia para a indústria. O desmonte da indústria começa no Governo Temer, mas já a partir da Lava Jato, em 2014, iniciam-se os ataques à Petrobras, que era um elemento importante da política industrial, que estava reativando várias cadeias produtivas. Tudo isso vai ser desmontado, depois atingindo a construção civil. Todas as grandes construtoras brasileiras vão entrar em crise. A lava jato custou cerca de 4,7 milhões de empregos ao Brasil”, aponta.
Com Bolsonaro, a indústria agoniza. “O Governo Bolsonaro, com Paulo Guedes, deixa ao sabor do mercado, o que significa importar. De um lado, há uma crise de demanda, porque os salários começam a cair e as pessoas, a perderem o emprego e, de outro, não tem mais política pública: o mercado vai fazer o que melhor lhe interessa. E esta ausência do Estado na economia tem um peso importante na redução da renda das famílias e no desemprego”, acrescenta.
Segundo Fausto Augusto Júnior, o processo de desinvestimento pelo Estado acarretou não somente a redução efetiva da indústria e da construção civil como um ciclo econômico prejudicial ao trabalhador e ao país: “No processo que assistimos com Bolsonaro, de equilibrar as contas, que começou com Temer, o Estado deixa de fazer investimentos, como acontecia no PAC, que tinha um conjunto de obras a serem executadas e que, neste governo, deixa de existir. Então, o problema está relacionado à política econômica, pois o estado para de investir, em um processo de desmontagem e privatização. Mas passamos a não ver investimento algum porque o setor privado não investe sem haver demanda, o que leva o Brasil à situação em que está, ou seja, com o problema inflacionário, elevação da taxa de juros, alta taxa de desemprego e baixo crescimento econômico”.
A pandemia, diz ele, acelerou o processo de perda de emprego que começou no setor industrial, público e de serviços, passando a atingir até mesmo o trabalho doméstico. “O que nós estamos assistindo agora é que o impacto da pandemia na economia foi superado. Hoje, estamos em um patamar de desemprego parecido com o anterior à Covid-19. O que a pandemia fez foi agudizar um processo que já havia e agora voltamos à situação anterior, mas é muito improvável neste cenário que haja uma recuperação sustentada do emprego. Não temos qualquer indicador que mostre algo muito diferente”, lamenta.