O Brasil aumentou o valor desembolsado na importação de gás natural dos Estados Unidos de US$ 572,4 milhões no primeiro trimestre de 2021 para US$ 2,1 bilhões no mesmo período de 2022. Uma elevação de 263%, fruto, principalmente, dos aumentos de preços. Houve um crescimento de 9,4% do volume comprado. Na área de derivados, o Brasil já importa 500 milhões de barris por dia, a maior parte dos EUA.

Paradoxalmente, o Brasil possui reservas de gás natural suficientes para atender à demanda do país, tanto da população quanto da indústria e das termoelétricas. No entanto, o governo não atende a essa demanda de gás natural com produção interna porque a Petrobrás está, desde 2014, aplicando planos de desinvestimento ao invés de planos de investimento. O resultado é o crescimento das importações de derivados e de gás, a preços cada vez maiores.

O gás natural que é produzido junto com o petróleo, pasmem, é reinjetado nos campos de petróleo do pré-sal. O Brasil reinjetou 50% de sua produção de gás natural nos dois primeiros meses de 2022. Em janeiro, bateu recorde com o maior volume de gás reinjetado, segundo a série histórica da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). No mês, 65,9 milhões de metros cúbicos por dia retornaram aos poços.

O ex-consultor Legislativo do Senado, Paulo Cesar Lima, que foi engenheiro da Petrobrás, denuncia, em entrevista ao HP, que as empresas estão reinjetando todo o gás nos poços enquanto o Brasil está importando gás. Ele citou o exemplo do Campo de Libra. “A Agência Nacional do Petróleo aprovou um Plano de Desenvolvimento para o Campo de Libra que prevê a reinjeção total do gás produzido com exceção apenas do gás consumido na plataforma”, disse.

“O campo de Bacalhau, operado pela Equinor, também não prevê transporte de gás”, observa Paulo Cesar Lima. Ou seja, todo o gás produzido é reinjetado.

Ele defende a obrigatoriedade de ofertas mínimas de gás pelas empresas exploradoras de petróleo. “Oferta mínima é exigir que, no plano de desenvolvimento do campo, um percentual de 40% da produção de gás sejam disponibilizados para a população”, diz o especialista. “Se as empresas fossem obrigadas a uma oferta mínima, os preços cairiam e a demanda poderia crescer muito”, acrescentou Lima, destacando que sempre defendeu essa política como consultor legislativo.

O Brasil não só desinveste na produção de gás natural e de derivados como está se desfazendo de suas refinarias e redes de gasodutos, na esteira das privatizações que marcam o governo Bolsonaro. Sem a estrutura para o transporte do gás, a decisão do Planalto é aumentar a importação dos Estados Unidos. As empresas americanas estão rindo à toa, já que conseguiram subjugar a Europa obrigando-a a cortar seus laços com os produtores russos e, agora, estão vendendo o gás mais caro para os europeus. De lambuja, o Brasil também está pagando mais caro.