Brasil afugenta investimentos, afirma economista
Dados divulgados pela Conferência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) nesta segunda-feira (21) mostraram que os investimentos diretos no Brasil encolheram de US$ 65 bilhões em 2019 para US$ 24,8 bilhões em 2020, uma queda de 62%. A retração do investimento no Brasil superou a média mundial de queda, que ficou em 35% no período.
Segundo o economista Marco Rocha, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), isso sinaliza que, além da retração normal devido às medidas sanitárias relacionadas à pandemia, fatores internos estão afugentando os investidores.
“Houve queda generalizada para outros países, o que é compreensível por causa da pandemia, das medidas de isolamento social. Só que a situação brasileira chama a atenção com relação ao quanto [o investimento] caiu. Os países desenvolvidos foram os que apresentaram a maior retração. Quando você pega os países em desenvolvimento, a queda foi muito menos acentuada. Então, no conjunto de países a que pertence, o Brasil ficou muito atrás”, observa.
Segundo os dados da Unctad, nos países ricos a contração do investimento chegou a 58% – significativa, mas, mesmo assim, abaixo da queda registrada no Brasil. Já o grupo de países emergentes viu uma retração de apenas 8% nos investimentos. A Ásia, que se recuperou primeiro da Covid-19, chegou a registrar uma alta de 4% no fluxo de investimentos em 2020.
Na avaliação de Marco Rocha, diversos fatores podem ser elencados para explicar por que investidores internacionais estão evitando o Brasil.
“O ano de 2020 foi catastrófico para o Brasil em todos os sentidos possíveis. Ficou evidente a falta de habilidade deste governo em lidar com momentos de crise, a completa falta de norte da gestão do [ministro da Economia] Paulo Guedes. Esperava-se ainda que boa parte dos investimentos ficasse por conta das privatizações, o que acabou não se concretizando”, diz.
Ele ressalva, no entanto, que privatizações ou a aquisições de empresas não são o melhor tipo de investimento que um país pode atrair. “É muito mais positivo receber investimentos que signifiquem expansão da capacidade produtiva do país. Não só a privatização, mas a aquisição de empresas brasileiras, são um tipo de investimento que não traz capacidade produtiva adicional nem geração de novos postos de trabalho”, observa.
Rocha afirma que os investimentos estão relacionados também com expectativa em relação ao comportamento da demanda, que está continua retraída apesar do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), devido ao desemprego e ao encolhimento da renda das famílias. Ele pontua também que há uma falta de perspectiva de retomada devido à má gestão da crise sanitária.
Por fim, cita a visão negativa que o investidor estrangeiro passou a ter do Brasil. Em 2020, índices recorde de desmatamento levaram a uma reação disseminada de agentes econômicos internacionais. O ápice do movimento foi uma carta aberta de instituições financeiras a embaixadores do Brasil no exterior sinalizando a preocupação de seus clientes com o tema.
“A visão do investidor estrangeiro do país, neste momento, é bem negativa. Ele sabe que é um governo que tem uma imagem muito ruim. Em relação ao meio ambiente, é a pior possível. Em relação à forma como a economia está sendo gerida, os dados demonstram que está sendo catastrófico. Fora o fato de o Brasil estar vivendo uma constante crise política”, diz Rocha.