No decorrer de 2020, o jornalista João Paulo Barreto realizou uma série de entrevistas sobre o comércio de mídias físicas, como DVDs e blu-rays, no Brasil. Em artigo publicado no jornal “A Tarde”, em que realiza um panorama do mercado, o jornalista afirma que o ano foi marcado pelo crescimento das vendas em meio à pandemia do coronavírus e destacou “Guerra e Paz”, do cineasta Sergei Bondarchuk, como o lançamento do ano no mercado brasileiro de mídias físicas.

O épico de mais de sete horas que ganhou o Oscar (1968) e o Globo de Ouro (1969) de melhor filme em língua estrangeira foi restaurado pelo Estúdio Mosfilm em 2017 para as comemorações do centenário de seu diretor Serguei Bondarchuk, que no filme também atuou como o personagem de Pierre Bezukhov.

O clássico recebeu pela distribuidora CPC-Umes Filmes um tratamento especial, ganhando um box na edição blu-ray com encarte artístico em homenagem à mais fiel adaptação da obra de Liev Tolstoi.

“Guerra e Paz” foi produzido ao longo de sete anos (1961 a 1967), a um custo cujas estimativas variam de 200 a 900 milhões de dólares, em valores corrigidos. O filme estabeleceu vários recordes, como envolver nas filmagens mais de 300 atores de diferentes países e um número de figurantes que atingiu os seis dígitos.

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MERCADO

Na avaliação de João Paulo Barreto, o mercado de DVDs e blu-rays vive um momento peculiar. A visão apresentada no início do ano de um mercado “combalido” foi um tanto precipitada e a pandemia gerou uma ampliação do público consumidor, em especial dos colecionadores, com o investimento de lojas virtuais em lançamentos exclusivos .

“Com a pandemia deflagrada, fechamento de salas, suspensão de estreias e o (ainda necessário) confinamento tendo seu início por aqui, a percepção era de um mercado com os dias contados. Essa previsão, porém, vista hoje em retrospecto, não poderia estar mais distante da realidade”.

Reportagem “O Ano da Mídia Física”, de João Paulo Barreto, no jornal “A Tarde”
O jornalista relembra que além das já conhecidas distribuidoras, como Obras-Primas do Cinema, Versátil e CPC-Umes Filmes, que já tinham em seus catálogos lançamentos em blu-ray oriundos de períodos anteriores. “O ano de 2020 trouxe para o conhecimento amplo do público neste mercado atualmente de nicho e (quase) restrito a colecionadores, lojas virtuais que também passaram a investir em lançamentos exclusivos”.

Segundo Barreto, o fechamento da livraria Saraiva e a recuperação judicial da Cultura fizeram com que as distribuidoras investissem na venda direta e num maior relacionamento com o consumidor final.

“Valmir Fernandes, diretor do selo OP, destaca como essas mudanças nortearam o modo de vendas em 2020. “A FAMDVD começou o ano com lançamentos exclusivos em blu-ray. A Versátil anunciou vários, também. Então, resolvemos experimentar e colocamos o blu-ray de Um Lobisomem Americano em Londres exclusivo no nosso site. Só no primeiro mês, foram 700 clientes novos cadastrados. Após alguns meses, a tiragem de 2500 unidades esgotou”, comemora Valmir.

“Eu lembro que, em dezembro de 2019, reuni toda a equipe e apresentei os dados daquele ano. Iniciei falando: ‘precisamos avaliar o que faremos para sobreviver nesse mercado.’ E os principais pontos levantados foram: ‘Vamos voltar para o blu-ray. Vamos desenvolver a nossa loja, melhorar o nosso SAC e a nossa forma de envio.’”, relembra André Melo, diretor do selo Versátil. Com 2020 iniciando e o anúncio de uma coleção em blu-ray dos filmes de John Carpenter, dentre diversos outros títulos que se seguiram, o período acabou, também, se demonstrando surpreendente para a Versátil.

“Eu pensava muito sobre essa possibilidade de trazer um lançamento em blu-ray de um filme que estava esgotado. Sobre ser ou não viável. A pergunta era: ‘por que não pode ser feito? Alguém já tentou?’ Nas conversas que eu tinha com distribuidoras e outros lojistas, eles falavam: ‘olha, blu-ray acabou. Isso não dá dinheiro. Aqui no Brasil, não vingou.’ E isso me incomodava muito porque eu olhava para o (site) Mercado Livre, e pediam altos valores por filmes esgotados. A conta não fechava. Como pode um produto ser tão valorizado por alguns, e quem está vendendo diz que não vingou, que blu-ray não vende?”, relembra Fabio Martins, cuja loja, FAMDVD, no ramo há 12 anos, bancou no primeiro semestre, através da Universal Pictures, uma nova tiragem do filme A Bruxa.

NICHO DO NICHO

Em sua reportagem, Barreto destaca ainda a busca por filmes “fora do apelo hollywoodiano” como é o caso do CPC-Umes Filmes, que distribui os filmes do cinema soviético e russo, do Estúdio Mosfilm.

“A CPC-UMES Filmes é o nicho dentro do nicho. Mas esse mercado de nicho do colecionismo tem essas duas características. Ele é muito restrito, e quem está dentro dele, tem uma qualidade de interesse de informação muito alta”, explica Igor Oliveira, coordenador da distribuidora, cujas obras em blu-ray como Stalker, Andrei Rublev e Solaris (pilares de Andrei Tarkovsky), bem como Vá e Veja, obra prima de Elem Kilmov, e o principal lançamento do ano em mídia física, o box do filme Guerra e Paz, adaptação de Tolstoi dirigida por Serguei Bondarchuk, dão ao público cinéfilo um acesso de qualidade única para tão rico cinema”.