Bolsonaro se alia ao vírus, incentiva a morte e ironiza Butantan
Jair Bolsonaro atacou, nesta quarta-feira (13), a vacina do Instituto Butantan e da empresa chinesa Sinovac, postura adotada por ser contra a vacinação da população, o que favorece a continuidade da contaminação pelo vírus e as mortes que já vitimaram mais de 200 mil brasileiros.
Bolsonaro sugeriu que as pessoas se infectem, mesmo: “A melhor vacina é as pessoas se infectarem”, defendeu ele, recentemente. E, agora, em tom irônico, ao falar da CoronaVac, perguntou a um seguidor: “Essa de 50% é uma boa?” Para ele, “uma boa” é obrigar o prefeito de Manaus a distribuir cloroquina no lugar da vacina, como fez esta semana, através de ofício.
Sem expor com clareza o seu raciocínio, se é que ele tem algum, Bolsonaro disse que “agora estão vendo a verdade”. “O que eu apanhei por causa disso…”, destacou. “Estou há quatro meses apanhando por causa da vacina. Entre eu e a vacina, tem a Anvisa. Eu não sou irresponsável. Eu não estou a fim de agradar quem quer que seja”, prosseguiu.
É certo que Bolsonaro já tinha feito coisa pior, acusando a vacina de deformar e matar. Chegou ao cúmulo de comemorar como vitória sua uma suposta morte que ocorrera durante os estudos da CoronaVac. “Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la [em referência à vacina do Butantan]”, disse o presidente, em sua cruzada obscurantista contra as vacinas. Depois viu-se que a morte citada por ele tinha sido por suicídio, sem nenhuma ligação com a vacina. Um vexame total por parte do presidente.
Agora ele volta a atacar a vacina do Butantan, quando todos os especialistas afirmam que a CoronaVac é boa e é a melhor arma para o Brasil vencer a pandemia. É uma vacina segura, fácil de distribuir e com boa eficácia, principalmente nos casos moderados e graves, que são os que pressionam os serviços de saúde e levam ao óbito das pessoas atingidas.
Todos estão comemorando esse grande feito da ciência. Em menos de um ano, é uma grande conquista a obtenção de uma vacina com essas características.
O Butantan já tem dez milhões de doses da vacina prontas para serem usadas, e pode produzir um milhão por dia.
Só uma pessoa desdenha tudo isso. Chama-se Jair Messias Bolsonaro. Não, exatamente, só ele, mas também o seu séquito de fanáticos, negacionistas e terraplanistas.
Em seu joguinho cínico e genocida, o presidente manipula a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para atrasar o início da vacinação. Não está nem um pouco preocupado com as mortes que esse atraso vai provocar. Se para atacar um adversário, no caso Doria, for preciso sabotar a vacina ou desestimular as pessoas a se vacinarem, Bolsonaro não hesitará, como não tem hesitado, em dizer que não se vacinará, e que a vacina não presta e é ineficaz.
No entanto, o espaço para sabotar a CoronaVac está ficando cada vez mais reduzido diante dos excelentes resultados apresentados, ontem (12), pelo Instituto Butantan, comemorados efusivamente pela comunidade científica.
Com isso, a própria Anvisa – mesmo pressionada politicamente, terá que autorizar o uso da vacina produzida em parceria com a Sinovac chinesa a qualquer momento, razão pela qual Bolsonaro, desesperado, mobilizou seu general da intendência, que responde pelo cargo de ministro da Saúde, para adquirir dois milhões de doses da Astrazeneca, a vacina inglesa da Oxford produzida na Índia.
O gesto não corresponde a qualquer preocupação de iniciar a vacinação que já está muito atrasada no país, muito pelo contrário, pois ninguém mais que Bolsonaro conspirou mais contra a vacina e um plano nacional de imunização, diferentemente de dezenas de países que já iniciaram tal procedimento para salvar vidas.
Bolsonaro quer fazer uma encenação com a vacina proveniente da Índia e sair na fotografia antes de Doria, seu desafeto político. Ou seja, colocando seus interesses políticos e eleitorais – da mais baixa política, acima do interesse social da saúde pública. Mais um crime contra a população brasileira que continua exposta ao vírus.
A encenação é mais grave pois não há nenhuma garantia de que mais doses da vacina produzida na Índia chegarão ao Brasil, muito menos a matéria-prima para a produção pela Fiocruz – o que seria muito bom se fosse real, além do que o número de doses solicitadas é um pingo no oceano diante da grande demanda nacional.
No jogo de cena montado por Bolsonaro, o “mito” procura atender exclusivamente seus fanáticos acólitos, desdenhando as vacinas e, ao mesmo tempo, armando outro circo com Pazuello na mobilização de um avião para buscar a vacina na tentativa desesperada de ganhar a opinião pública.
O fato é que, pelo descaso de Bolsonaro ao longo de toda pandemia, quem criou as condições para produzir e iniciar a vacinação, rapidamente e em larga escala, é o Instituto Butantan, uma instituição centenária, com invejável e reconhecido papel, inclusive internacional, na ciência da imunização em nosso país.
Bolsonaro ignora solenemente o Butantan e a CoronaVac porque seu raciocínio rasteiro, nessa questão, só permite a ele enxergar o Doria, seu adversário político. Se vai morrer mais gente, “fazer o que?”, “vida que segue”, como disse.
Alguns especialistas já afirmaram que dois milhões de doses para uma população de 212 milhões de pessoas, sendo necessário duas doses por pessoa, só pode servir para Bolsonaro fazer a sua encenação demagógica, cínica e patética.
De acordo com as informações divulgadas pelo governo de São Paulo, a CoronaVac tem eficácia geral de 50,38%. A vacina protege 78% dos pacientes em caso de doença moderada – que precisariam internação – e impediu o óbito em 100% dos pacientes testados. O resultado geral engloba todos os grupos analisados nos testes clínicos, e o percentual está acima do mínimo exigido pela Anvisa (50%). Além disso, os 50,38% atendem aos padrões da OMS (Organização Mundial de Saúde).
Além de atacar as vacinas, Bolsonaro voltou a se chocar também com governadores e prefeitos pelas medidas tomadas por eles para proteger suas populações contra o agravamento da pandemia. Dessa vez, escolheu como alvo o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), reeleito em primeiro turno, pelos cuidados que está tomando em seu município.
“Quem vota nos parlamentares é o povo. Por exemplo, eu pedi voto para candidato a prefeito de BH. Perdi. É natural. O cara lá está fazendo barbaridade agora, fechando tudo… E já tinha fechado tudo anteriormente”, blasfemou Bolsonaro ao pregar, novamente, as aglomerações e criticar as medidas ainda necessárias de isolamento e restrições do comércio só adotadas porque a vacina ainda não chegou – e só não chegou por responsabilidade central do presidente da República.