Bolsonaro prometeu gás a R$ 35 em campanha; valor já chega a R$ 105
Durante a campanha eleitoral de 2018, circulava nos grupos de WhatsApp uma publicidade com uma promessa de Jair Bolsonaro: gás de cozinha a R$ 35. Em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o valor do botijão poderia cair pela metade com o aumento da concorrência no setor. Até o momento, contudo, o governo não adotou medidas que viabilizem esse aumento de concorrência e a nova política de preços da Petrobras, que equiparou o gás liquefeito de petróleo (GLP) de uso residencial e industrial, tem pressionado o valor do botijão de gás de 13 kg.
Em agosto de 2019, a Petrobras informou que os preços do gás para uso residencial passariam a adotar como referência preço a paridade de importação, acrescida dos custos do frete marítimo, despesas internas de transporte, e uma margem para remuneração dos riscos inerentes à operação.
Com isso, os preços passaram a ter um alinhamento maior com o GLP industrial e comercial, embalado em botijões maiores. Somente durante a pandemia, houve 11 reajustes do GLP em nove meses, o último deles, de 6%, no dia 6 de janeiro. Os aumentos vieram em um momento em que muitos brasileiros enfrentam perda de emprego e diminuição de renda devido à crise sanitária.
Em Mato Grosso, por exemplo, o valor do botijão de 13 kg chegou a R$ 130. Ou seja, para comprar um botijão é preciso dispender 9,5% do atual salário mínimo, no valor de R$ 1.100.
Segundo o economista Fernando de Aquino, coordenador da Comissão de Política Econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon), um dos fatores que vem pressionando o preço do gás e de outros itens na economia brasileira é a desvalorização do real frente ao dólar. “Com a nova política, se tem uma desvalorização da moeda [nacional], o gás fica mais caro. São duas coisas que influenciam, o preço [do GLP] lá fora, em dólar, e a taxa de câmbio [interna]”, explica.
Para Fernando, os aumentos sucessivos são especialmente cruéis para as famílias de baixa renda. “As pessoas de baixa renda se ressentem muito do aumento do gás, pois é um item que não tem como substituir. Às vezes tem o carvão, que é mais complicado operacionalmente, ou então tem de pagar o gás mesmo. Quando é um aumento da carne, a pessoa deixa de comprar por um tempo, troca por carne moída, ovo”, exemplifica.
Na avaliação do economista, repassar as oscilações de preços do mercado internacional ao consumidor final não se justifica. “Se você tem uma empresa estatal que não é usada para fazer política econômica, que funciona igual a uma empresa privada, então não precisa ser estatal. O governo tem empresas estatais para ajudar na política econômica. Como os banco estatais, que emprestam a setores aos quais os bancos privados não querem empresar. Essa questão do gás, tem que analisar do ponto de vista de manter um preço acessível para as classes de baixa renda.”, diz.