Jair Bolsonaro (sem partido)

Jair Bolsonaro usou a sua live, que foi ao ar nesta quinta-feira (1), para defender o coronavírus e esculhambar o trabalho dos médicos, dos epidemiologistas, dos governadores e dos prefeitos, que estão tomando medidas heroicas de proteção da população na guerra contra a pandemia de Covid-19.

Ancorou-se nos problemas econômicos vividos pela vizinha Argentina por conta da pandemia para repetir a cantilena de que o distanciamento não adianta e que a população deve voltar a se aglomerar.

Cinicamente, o “espalha-vírus” insinuou que estaria fazendo a parte dele e informou ter liberado bilhões para os estados combaterem a pandemia, todavia, segundo ele, os governadores não fizeram uso desses recursos para o combate ao coronavírus.

Afirmou, sem nenhuma prova, que eles desviaram o dinheiro para outras coisas. “Dinheiro foi para Estados e municípios, muito dinheiro, bilhões de reais, mas nós sabemos que muitos governadores e prefeitos usaram esse recurso para pagar folha atrasada, botar suas contas em dia e não deram a devida atenção para a saúde no momento”, afirmou, cinicamente, Bolsonaro.

Desvios

O fato é que o dinheiro dos leitos de UTI e das vacinas foi usado, por orientação de Bolsonaro, para comprar toneladas de comprimidos de cloroquina. Foram gastos quase R$ 90 milhões com a compra de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da Covid-19, como cloroquina, azitromicina e outros. Não foi à toa que os governadores tiveram que apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para conseguir que o governo federal repassasse as verbas destinadas pelo Congresso para o pagamento de leitos de UTI. Está claro, portanto, que quem desviou verbas foi o Planalto e não os governadores e prefeitos.

Como se vivesse em outro planeta, o capitão cloroquina disse ainda que, graças a ele, está tudo uma maravilha no país. Segundo ele, o Brasil está entre os dez no mundo que mais vacinou, em números absolutos. “Estou muito satisfeito com o ritmo de vacinação. Estamos indo muito bem”, disse, acusando os governadores pelos problemas.

O número absoluto de vacinados é pouco importante em casos como a atual pandemia. O que interfere nos rumos da circulação do vírus é o percentual da população que foi vacinada. Infelizmente, graças à sabotagem às vacinas, o Brasil só imunizou até agora pouco mais de 10% de sua população. O país foi o 57º no mundo a iniciar o programa de vacinação.

Ele voltou a tirar o corpo fora de sua criminosa inação ante a pandemia e voltou também a livrar o vírus e a pandemia pelos problemas econômicos. Prefere culpar os outros, principalmente os governadores, pelos gargalos que a tragédia está provocando nas atividades econômicas.

Disse que a culpa pela crise sanitária que atinge o mundo todo, paralisando as atividades em quase todos os países, não é do coronavírus, mas sim de quem o combate. Usou essa estupidez para insistir na defesa das aglomerações.

Na contramão de quase todo o planeta, Bolsonaro quer a volta imediata de todas as atividades econômicas, sejam elas essenciais ou não, considerando pouco os mais de 320 mil brasileiros que morreram, vitimas de Covid-19, até agora. Se dependesse só dele, que defende a ideia criminosa da “imunidade de rebanho”, ou seja, a ideia de que a população se infecte o mais rapidamente possível para adquirir imunidade, esse número seria muito maior, não importando quantos vão morrer por causa do vírus. Certa vez, quando foi perguntado sobre o aumento das mortes, respondeu: “e daí?. Fazer o que? Paciência”

Como um jumento empacado (com todo o respeito aos valiosos jumentos do Brasil), Bolsonaro voltou a se aferrar ao charlatanismo da cloroquina. Disse que segue defendendo o tratamento precoce e, citando uma outra droga, cuja autorização para o uso no país a americana Roche acaba de encaminhar à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), garantiu que ainda vão dar toda razão a ele no caso da cloroquina.

Mesmo com unidades de terapia intensiva (UTIs) superlotadas e os hospitais entrando em colapso em todo o Brasil, o capitão segue em obcecada campanha pela cloroquina e contra o isolamento social necessário ainda diante da situação do sistema de saúde.

Governadores rebatem

Diante das críticas de Bolsonaro às medidas de restrição e da demora do governo federal em liberar a ajuda emergencial, além de reduzi-la a valores ínfimos, o governador Wellington Dias, do Piauí, respondeu: “a pandemia acabou? Claro que não. Aliás, piorou, colapso no sistema hospitalar, pessoas adoecendo (..). Vejam, o governo federal, em 2020, pagava R $ 600 de auxílio emergencial para proteger os pobres. Que maravilha. Depois, passou a pagar R $ 300. E parou em dezembro, parou em dezembro por quê? “.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou, em entrevista à Band News, que o ódio que Bolsonaro nutre pelos governadores é motivado pela ação protagonista deles frente à grave crise sanitária e pela cobrança de medidas efetivas por parte do governo federal. Durante todo esse tempo, Bolsonaro insistiu em seu negacionismo e desdenhou da gravidade da doença. Agora, com a população cobrando mais enfaticamente por essas medidas, ele fica nervoso.