Bolsonaro e seu assessor

Após o gesto racista durante sessão oficial do Senado, na presença do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o assessor especial para Assuntos Internacionais do presidente Jair Bolsonaro, Filipe Martins, segue no cargo.

Em resposta à indignação dos senadores, o servidor alegou que estava arrumando o microfone do tipo lapela, preso ao terno, desmentido pelo fato de não ostentar qualquer dispositivo desse tipo no paletó. O caso, ocorreu no dia 24 de março, durante sessão com o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, demitido após intensa pressão de integrantes do Legislativo.

Na época, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) cobrou imediatamente a demissão do assessor.

“Se for verdade que um assessor presidencial fez um gesto ligado aos grupos supremacistas brancos, em plena audiência no Senado da República, alguém deve ser demitido amanhã. Ou ele ou o próprio presidente”, afirmou Orlando.

O Planalto sinalizou até que Martins poderia ser demitido, mas, como após o fato houve uma espiral de crise, o tema ficou em segundo plano.

Na última quarta-feira (31), o Senado aprovou voto de censura a Martins. O caso está em tramitação, com investigação na Casa aberta pela Secretaria-Geral da Mesa e pela Polícia Legislativa. Como Martins é coadjuvante no governo, a demanda, entendem os senadores, não tem tanta atenção dos congressistas.

Para o líder do Cidadania, senador Alessandro Vieira (SE), o que caberia ao Senado está em andamento na Casa. O processo que investiga a conduta de Martins segue seu curso. Todavia, a manutenção ou não no cargo é prerrogativa do presidente da República.

“A conduta e postura são incompatíveis com o serviço público, isso é muito claro”, disse.

Questionado se o Senado deveria chamá-lo para prestar esclarecimentos, Vieira afirmou que o assessor “não tem estatura para isso”. “É uma figura ridícula, pequena, e a manutenção dele no cargo cabe a Bolsonaro”, acrescentou.

O líder do bloco parlamentar Podemos/PSDB/PSL, Lasier Martins (Podemos-RS), entende defende que o assessor seja convocado para prestar esclarecimentos. “Acho que se relevou muito; reduziu-se o fato a muito pouco, quando me parece que ele teve uma má intenção com aquele gesto”, afirmou o parlamentar.

O sinal feito pelo assessor de Bolsonaro é identificado como símbolo de “Força Branca”, “White Power”, em inglês, sendo um dos símbolos de ódio utilizados por grupos de extrema-direita e supremacistas brancos norte-americanos. No Brasil, além de ser replicado pelos negacionistas que seguem o atual presidente, faz alusão ao ânus.

Nas redes sociais, desde o último dia 26, circula vídeo em que Bolsonaro aparece cercado por alguns seguranças, quando um dos seus seguidores, ao se aproximar para tirar fotos, fez o mesmo gesto nazi-racista com que Martins afrontou o Senado da República.

No vídeo, Bolsonaro não permite que o bolsonarista tire fotos com ele fazendo o gesto supremacista e ainda manda apagar as que foram tiradas.

Alguém diz, “é um ativista do bem” sobre a pose do bolsonarista. Ao ver o gesto, no momento da foto, Bolsonaro diz: “eu sei que é um gesto bacana, mas pega mal para mim”.