Bolsonaro faz jogo de cena eleitoreiro enquanto firma pacto pela morte
Combater uma pandemia não é fácil. Inúmeros países com gestões sérias e muito mais eficientes que a do Brasil, têm encontrado dificuldades para combater o vírus e salvar vidas.
Por Wadson Ribeiro*
A grande diferença entre o Brasil e a maioria das nações pelo mundo é a proteção da vida acima de tudo. O que mais indigna a população brasileira não são apenas os números devastadores da Covid-19, mas a forma desrespeitosa, negacionista e cruel com a qual o presidente da República tem encarado a pandemia e seus efeitos. A sensação que todos temos hoje é de uma completa desarticulação política e um descontrole evidente da gestão, que conduzem o país a aventuras sem limites, irresponsáveis e que têm nos cobrado um alto preço em vidas e em perspectivas futuras.
Após um ano de pandemia, o Brasil atingiu nesta quarta-feira sua pior semana e registrou a trágica marca de 300 mil mortes e uma média diária acima das duas mil vidas perdidas. Em reposta ao desespero do povo, Bolsonaro convocou os poderes da República e outras autoridades para a constituição de um “pacto” para o enfrentamento da Covid-19. Um dia antes, em rede nacional de rádio e de TV, mentira descaradamente à Nação ao afirmar dados desconexos e iniciativas que o governo federal jamais adotou. Na verdade, Bolsonaro faz jogo de cena pois sabe que sua aprovação e sua popularidade estão caindo, exatamente porque a população começa a associar o colapso da Saúde à sua má gestão e à sua completa falta de empatia com a dor do povo. De forma justa, diga-se de passagem, a pecha de que ele não se importa com as mortes e o sofrimento das famílias, mas apenas com o seu projeto de reeleição, começa a ficar evidente para os brasileiros.
Bolsonaro é o principal culpado pelo Brasil ter tido até agora um desempenho pífio no combate à pandemia. Nenhum país do hemisfério sul possui um sistema de saúde universal, integral, plural, público e gratuito como o SUS. Temos uma cultura histórica de vacinação que fez com que o país erradicasse uma série de doenças que, no passado, também matavam aos milhares. Temos condições logísticas de vacinar toda a população num curto intervalo de tempo, mas não temos a vacina. O governo federal sabotou a CoronaVac, pejorativamente chamada por Bolsonaro como a “vacina chinesa”; colocou empecilhos burocráticos para não comprar os imunizantes da Pfizer e da Janssen; foi incapaz de usar a diplomacia para firmar uma parceria com a Índia e deixou de ser atendido pela Covaxin. Enquanto cientistas e pesquisadores de todo mundo se empenhavam em fabricar um imunizante, em tempo recorde, que desse fim à pandemia, o “líder da Nação brasileira” fez de tudo para desacreditar a eficácia das vacinas e propagandeou uma série de medicamentos sem nenhuma eficácia comprovada, estimulando assim, o chamado tratamento precoce, que em alguns casos desencadeou outros tipos de doenças, como as hepáticas.
Foi também Bolsonaro quem saiu às ruas estimulando aglomerações e criticando o uso de máscaras. Por seu governo já passaram quatro ministros da Saúde diferentes em praticamente dois anos e o orçamento da pasta para 2021 será menor. Nas últimas semanas o Brasil se transformou em um perigo para a humanidade por não conseguir deter o vírus e proporcionar um ambiente propício para o surgimento de novas variantes. Enquanto isso, Bolsonaro estimulou a população a invadir hospitais para checar se as mortes eram de fato provocadas por Covid-19. Em outra atitude, acionou o STF contra três estados que adotaram o toque de recolher, deixando no ar, inclusive, a possibilidade de decretar um Estado de Sítio para revogar a decisão dos governadores. Não que Bolsonaro falhe por falta de iniciativas, o problema é que todas as suas ações são contrárias ao bom senso, à ciência e a defesa da vida. É como se cada morte gerasse um crédito político para que Bolsonaro comemorasse com sua base fundamentalista.
Não acredito em um pacto nacional de enfrentamento à Covid-19 encabeçado por Bolsonaro. É preciso que o Congresso Nacional, os governadores, o Judiciário, a sociedade civil e a comunidade científica, se unam para barrar a marcha genocida em curso ou esse pacto se constituirá em um verdadeiro pacto pela morte. O que o Brasil precisa, nesse momento, é de vacina, de emprego, de renda e de uma unidade nacional em defesa da vida e do SUS. Tudo mais é jogo de cena e manobra eleitoreira.
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Wadson Ribeiro* é presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.
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