Eurodeputados: “Bolsonaro declarou guerra à ciência em vez de ficar contra o vírus”

“Desde o começo da crise da pandemia, Bolsonaro se recusou a tomar decisões e rejeitou medidas cientificamente comprovadas. Ele reduziu a importância da pandemia, se opôs à vacinação e tentou ações em tribunais contra lockdown”, declarou, em sessão do Parlamento Europeu, a deputada alemã do Partido Verde, Anna Cavazzini.

As declarações de Cavazzini e de outros deputados aconteceram em encontro realizado pelo parlamento de Europa nesta quinta-feira (29), uma sessão que debateu a pandemia do coronavírus na América Latina. No debate, o Brasil foi centro de críticas por conta do que os eurodeputados classificaram como “negacionismo” e “necropolítica” do presidente Jair Bolsonaro.

O objetivo do encontro era analisar o impacto da pandemia na região, a relação disso com o elevado nível de desigualdades sociais e econômicas no continente, assim como o avanço fora de controle da pandemia em diversos países da região e as possibilidades de ajuda da União Europeia (UE) aos esforços dos governos nacionais para enfrentar a Covid-19. As denúncias dominaram por completo a conferência quando vários deputados declararam que Bolsonaro tem grave responsabilidade pelas mortes no Brasil e apoiaram que seja investigado.

“São quase 400 mil mortos no Brasil. É uma tragédia provocada por decisões políticas deliberadas. Para nenhum governo foi fácil. Mas tentar é uma coisa, recusar é outra”, disse ainda a eurodeputada alemã.

Miguel Urban Crespo, representante espanhol do partido Podemos, sublinhou que a situação “dramática” do Brasil é resultado da “gestão criminosa de Bolsonaro”.

“Guerra à ciência”

“No lugar de declarar guerra ao vírus, ele declarou guerra à ciência, à medicina e à vida. As mortes seriam evitadas. Sua necropolítica e sua política da morte constituem um crime contra a Humanidade que deve ser investigado”, disse, destacando que “hoje, Bolsonaro é um perigo para o mundo todo e o povo brasileiro não merece”.

Outro eurodeputado, também da Espanha, Javi Lopez, advertiu que a gestão da crise de saúde por parte do presidente brasileiro pode “transformar o país em uma incubadora de novas cepas” do coronavírus.

Para a portuguesa Isabel Santos, do Partido Socialista, a situação no Brasil é mais difícil por causa do “irracional negacionismo de Bolsonaro”, a quem acusou de “fazer tudo para que a população não seja vacinada”. “Não é um erro, e sim uma irresponsabilidade deliberada”, completou.

Paulo Rangel, do Partido Social Democrata português, seguiu afirmando que o impacto da pandemia foi agravado “por erros políticos e por visões negacionistas, como é o caso do Brasil”.

A eurodeputada Katalina Cseh, do Movimento Momentum da Hungria, repetiu diante do Parlamento frases de Bolsonaro, em que pediu para que a população deixe de chorar. “Nunca deveríamos chegar a esse ponto. O presidente optou por ser parte do problema”, alertou.

A francesa Leila Chaibi, do partido França Insubmissa, frisou: “a política criminosa de Jair Bolsonaro não é inocente. A tragédia aumenta”.

O documento aprovado depois do debate, apesar de não citar nomes, mostra o profundo desgaste político de Bolsonaro na Europa resultado de sua incúria diante da Covid-19.

A resolução do Parlamento “lamenta que a pandemia tenha sido fortemente politizada, incluindo a retórica negacionista ou a minimização da gravidade da situação pelos Chefes de Estado e de Governo, e apela aos líderes políticos para agirem de forma responsável a fim de evitar novas escaladas”.

O texto ainda “considera preocupantes as campanhas de desinformação relacionadas com a pandemia e apela às autoridades para identificarem e perseguirem legalmente as entidades que perpetram tais ações”.

O documento prossegue com crítica a quem seguiu “caminhos políticos perigosos no que diz respeito à pandemia da COVID-19, mostrando oposição a iniciativas sanitárias regionais e locais, incluindo ameaças de enviar o exército para refrear o encerramento e as restrições locais, e têm sido acusados de ignorar as diretivas fundamentais da OMS, as melhores práticas de gestão da pandemia e as diretrizes de saúde pública baseadas na ciência”, em clara referência à política de Jair Bolsonaro.