A instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado nesta terça-feira (27) marcou importantes derrotas para Bolsonaro: além da minoria governista, o colegiado terá a relatoria do senador Renan Calheiros (MDB-AL), mesmo após as tentativas de impedi-lo de assumir o cargo. Aliados de Bolsonaro chegaram a obter uma liminar judicial contra a indicação de Renan, mas ela acabou sendo derrubada.

A CPI será presidida pelo senador Omar Aziz (PSD-AM), eleito por 8 dos 11 votos, e terá como vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP). A comissão, que investigará as responsabilidades do governo federal no combate à pandemia de Covid-19, terá duração inicial de 90 dias, podendo ser prorrogada por mais 90.

Mesmo alegando imparcialidade, Renan enviou um recado duro ao governo. Disse que não se curvará a intimidações e sugeriu que as mortes na pandemia são crimes contra a humanidade, citando grandes ditadores internacionais que foram punidos na história.

“Não foi o acaso ou flagelo divino que nos trouxe a este quadro. Há responsáveis, há culpados, por ação, omissão, desídia ou incompetência e eles serão responsabilizados. Essa será a resposta para nos reconectarmos com o planeta. Os crimes contra humanidade não prescrevem jamais e são transnacionais. Slobodan Milosevic e Augusto Pinochet são exemplos históricos. Façamos nossa parte”, disse.

Para o vice-líder do PCdoB, deputado federal Orlando Silva (SP), Renan Calheiros fez um discurso histórico ao assumir a relatoria da CPI. “Exalta a ciência, o conhecimento, a democracia. Repugna o obscurantismo medieval, a crença cega, o autoritarismo e o fascismo. Bolsonaro deve estar roendo as unhas de pavor”, destacou.

Regras sanitárias para impedir CPI

As tentativas governistas de impedir a instalação do colegiado também repercutiram na Câmara. Além das manobras para barrar o nome do relator, alguns senadores criticaram a instalação do colegiado, sustentando que a Casa pode contribuir para o aumento dos casos de Covid-19. A ironia se fez pelo argumento ter sido utilizado principalmente pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Jair Messias Bolsonaro nunca cumpriu qualquer regra sanitária estabelecida ao longo da crise sanitária que assola o mundo desde 2020 e já vitimou quase 400 mil brasileiros.

Flávio Bolsonaro disse que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), estaria sendo irresponsável por permitir que algumas sessões da CPI da Covid sejam presenciais e defendeu regras sanitárias.

“Falei também aqui no grupo e falo publicamente, mais uma vez: eu acho que o presidente Rodrigo Pacheco está errando, está sendo irresponsável, porque está assumindo a possibilidade de, durante os trabalhos desta CPI, acontecerem mortes de senadores, mortes de assessores, mortes de funcionários desta Casa, em função da Covid. Porque, em algum momento, as audiências, as sessões vão ter que ser presenciais, no momento em que nem todos estão vacinados. Por que não esperar todo mundo se vacinar e fazer com responsabilidade esses trabalhos?”, pontuou o filho do presidente.

A fala não passou batida. A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) foi uma das que ironizou a nova postura bolsonarista. “Como é? A família Bolsonaro nunca defendeu as medidas de isolamento e agora vem falar isso? A verdade é que eles estão desesperados com a CPI da Covid”, apontou.

A deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP) também repercutiu a fala de Flávio em suas redes. Com uma série de fotos que mostravam o pai do senador promovendo aglomerações já na pandemia, a deputada escreveu em suas redes sociais: “Em meu estado (Amapá), num caso assim, pergunta-se: Ei, mano, a tua cara não treme, não!?”.

A deputada defende que a CPI traga à tona a comprovação de tudo aquilo que já vinha sendo denunciado: “que esse caos foi criado por muita incompetência, crueldade e de forma proposital. Portando, de forma criminosa e os responsáveis devem pagar por isso”.

 

Por Christiane Peres

 

(PL)