Bolsonaro culpa desaparecidos: “fizeram aventura não recomendável”
Ao ser questionado em Los Angeles. na quinta-feira (9), sobre o que o governo brasileiro estava fazendo para encontrar o jornalista britânico Dom Philips e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira, desaparecidos no Vale do Javari, na região amazônica, Jair Bolsonaro não só desconversou sobre a falta de empenho para encontrá-los, como, preferiu colocar a culpa pelo desaparecimento nos dois desaparecidos.
“Realmente, duas pessoas apenas num barco numa região daquela, completamente selvagem, é uma aventura que não é recomendável que se faça”, disse. “Tudo pode acontecer, pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados. Tudo pode acontecer”, acrescentou Bolsonaro, quando foi abordado por jornalistas nos Estados Unidos.
O mundo inteiro está cobrando providências para encontrar os dois desaparecidos.
Com a indiferença manifestada pelo chefe do Executivo brasileiro ao tratar um assunto de tanta repercussão, Bolsonaro repete o mesmo desprezo, desumanidade e falta de empatia com o próximo que ele manifestava quando era questionado pelas mortes por Covid – “E daí? Eu não sou coveiro”, dizia.
A irmã do jornalista, Sian Phillips, reagiu com profunda indignação depois de ouvir Bolsonaro falar que a dupla fez uma “aventura não recomendável”.
“Acho que ele [Bolsonaro] está colocando a culpa no meu irmão por uma ‘aventura’. Não é uma aventura, ele é um jornalista, ele está pesquisando para um livro que vai escrever sobre como salvar a Amazônia e como destacar os problemas, particularmente nessa região do Vale do Javari”, disse Sian em entrevista à CNN.
O governo demorou para tomar providências. Primeiro porque sucateou toda a estrutura do Ibama na região. Segundo porque Bolsonaro estava com esse tipo de opinião. O Ibama chegou a divulgar que os dois entraram ilegalmente em área indígena. Esta afirmação do presidente do órgão foi desmentida. A região abandonada pelo governo, que desmontou os órgãos de fiscalização da Amazônia é alvo da cobiça de garimpeiros e é usado como rota para tráfico de cocaína.
A familiar de Dom lembrou que os indígenas fizeram buscas preliminares ainda no domingo (5), mas foi só na noite de terça-feira (7/6) que o governo divulgou documentos oficiais sobre o emprego das Forças Armadas na área. “É uma resposta bem lenta, e significa algo bem sinistro para o mundo sobre informações saindo da Amazônia, sobre o que está ocorrendo em uma zona de conflito”, afirmou ela.
Esposo de Sian e cunhado de Dom, Paul Sherwood concordou que houve demora de atuação por parte das autoridades brasileiras. “As lideranças locais disseram que estavam prontas para iniciar as buscas, mas não tinham permissão para começar. Então, foram dois dias, na verdade, antes de darem o sinal verde. Não era um assunto prioritário para as autoridades.”