Jair Bolsonaro (sem partido)

No sistema presidencialista como o brasileiro, os poderes – de acordo com a Constituição Federal – são independentes cabendo a cada um deles buscar harmonia e não dissintonia em suas ações. Mas o que observamos hoje no governo federal é exatamente o oposto. A todo o momento o presidente da República age para desestabilizar o país, criar o caos, dividir a Nação e dar voz ao autoritarismo e ao desrespeito à ordem institucional e política.

Por Wadson Ribeiro*

Para tentar eclipsar o deplorável governo realizado até o momento, que entrará para a história como um governo genocida e responsável por retrocessos civilizacionais enormes, como a volta de milhões de brasileiros ao mapa da fome e da pobreza extrema, Bolsonaro dispara ao mesmo tempo contra ministros do STF, o Congresso Nacional e tudo aquilo que ele julga ser um estorvo aos seus intentos golpistas.

A cada nova pesquisa divulgada, aumenta o desgaste e a rejeição ao governo. Se esse quadro não se reverter rapidamente, Bolsonaro sabe que não terá o Centrão até as eleições, sobretudo porque muitos parlamentares que o compõem, são do Nordeste e de regiões em que Bolsonaro não é bem aceito. Na maioria das vezes, para se ganhar uma eleição majoritária, mais importante que o percentual de votos na pesquisa, é o nível da rejeição do candidato e, nesse quesito, Bolsonaro lidera com folga.

É por isso que, de forma não convencional para um presidente da República, Bolsonaro pediu o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF, o que por si só já é um absurdo. Não satisfeito com a recusa do presidente do Senado Rodrigo Pacheco (DEM-MG) em dar prosseguimento a essa insanidade, o presidente voltou seus ataques ao Senado Federal. Essa performance palaciana pretende colocar lenha nas manifestações bolsonaristas convocadas para o dia 7 de setembro em apoio ao presidente e aprofundar ainda mais a crise institucional que o país vive.

É uma realidade preocupante vermos setores do agronegócio, das Forças de Segurança espalhadas pelos estados da federação, e de algumas igrejas evangélicas convocarem uma manifestação cujas as reinvindicações são antidemocráticas. Ora, querem parar o Brasil para cassarem os ministros do STF? Ou exigirão a volta do AI-5? Ou o voto impresso já derrotado pelo plenário da Câmara dos Deputados? Essas não são as pautas do Brasil, mas sim de Bolsonaro. O que os brasileiros exigem é vacina no braço, emprego, comida e um país estabilizado, não a antecipação de um debate eleitoral que só serve para azedar a relação entre os poderes e enfraquecer a democracia.

Por outro lado, a ruptura desse equilíbrio entre os poderes tem raízes no menosprezo que as elites brasileiras sempre nutriram em relação às instituições democráticas e à história do Brasil. Há sessenta anos, em 1961, o governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola coordenava a cadeia da legalidade, para dar posse a Jango, num ato de resistência democrática interrompido mais tarde com o golpe militar de 1964. Fatos históricos como o suicídio de Getúlio Vargas, que essa semana completou 67 anos, os vinte e um anos de ditadura militar, a abertura democrática e a Constituição de 1988, nada disso parece fazer sentido nos dias atuais. É como se para a maioria dos brasileiros esses fatos de nossa história jamais tivessem ocorridos, numa espécie de exclusão política coletiva que distanciou os brasileiros de uma versão inteligível de sua própria história recente.

A democracia brasileira, tão recente e frágil, corre o risco de sofrer um golpe. Todos os sinais de Bolsonaro vão no sentido de esgaçar as instituições, instabilizar o país e calar seus opositores. A própria dúvida na cabeça dos brasileiros se em 1964 houve um golpe de Estado ou uma ‘revolução’, explica em parte a existência de um governo como o de Bolsonaro.

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*Presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

(Artigo publicado originalmente no portal Hoje em Dia)

 

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