Comissão Parlamentar Mista de Inquérito - Fake News (CPMI Fake News) realiza coleta de depoimento decorrente do requerimento nº 96/2019.rrEm pronunciamento, à mesa, depoente, deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), exibe fotos e reportagens.rrMesa:rrelatora da CPMI Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA);rpresidente da CPMI Fake News, senador Angelo Coronel (PSD-BA);rdepoente, deputado Alexandre Frota (PSDB-SP);radvogado do depoente, Rogério Lopes.rrFoto: Roque de Sá/Agência Senado

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) das Fake News, que investiga a divulgação de notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual, volta a se reunir na terça-feira (5) para ouvir o jornalista Allan dos Santos, fundador do blog Terça Livre – um dos mais conhecidos propagadores de “fake News” na internet.
Defensor alucinado do bolsonarismo, o blog trava uma guerra nas mídias digitais contra críticos do atual governo. Allan dos Santos estaria morando em uma mansão localizada numa área nobre de Brasília, local de onde comanda a milícia virtual que tem como função elogiar qualquer tipo de medida adotada pela família Bolsonaro.
Em recente entrevista ao portal Catraca Livre, o cantor Lobão afirmou que a mansão onde vive o blogueiro de extrema-direita é bancada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL).
Na última quarta-feira (30), o deputado federal Alexandre Frota (PSDB-SP) foi o primeiro ouvido pela comissão e reforçou a informação que o grupo coordenado por Allan dos Santos opera a partir de uma residência localizada na Capital Federal.
O parlamentar também acusou o governo Bolsonaro de espalhar notícias falsas e afirmou que o Palácio do Planalto emprega três assessores responsáveis por esta milícia virtual, que opera campanhas de ataques nas redes sociais contra adversários e dissidentes do governo.
O coordenador destas atividades seria o filho de Jair Bolsonaro, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro. O deputado citou como membros do grupo palaciano os servidores Tercio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
Os três estão lotados na Presidência da República, em cargos comissionados, desde janeiro. Frota relatou que os três trabalharam na campanha presidencial operando “redes de ataques” e agora tiveram a tarefa “oficializada” com dinheiro público. Ele contou que já presenciou o grupo reunido no Planalto com Carlos e Jair Bolsonaro.
“Sei tudo o que eu vi, vivi e ouvi. A rede de intrigas produz material em escala atacando quem estiver na frente ou venha a discordar. Ficou claro que o Palácio do Planalto virou um porto seguro de terroristas digitais. Fui o primeiro a denunciar, e por isso fui expulso do PSL”, disse.
Além do grupo do Planalto e do coordenado por Allan dos Santos, o deputado citou um terceiro núcleo que atua com os mesmos métodos e objetivos, mas lotado em um gabinete parlamentar da Câmara dos Deputados.
Alexandre Frota entregou aos integrantes da CPI das Fake News pesquisas feitas nas redes sociais, mostrando que o esquema de “destruição de reputações e ameaças” envolve os mesmos perfis.
Frota disse ainda em seu depoimento que Bolsonaro lhe telefonou para reclamar de um discurso do parlamentar em que pediu a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quando este era deputado estadual do Rio de Janeiro.
Frota contou que após o discurso, Flávio Bolsonaro lhe apareceu. “Posteriormente a isso, 15 minutos depois, aparece o Flávio Bolsonaro, que me dá um abraço e fala: ‘Papai ficou chateado com você por você ter pedido a prisão do Queiroz’”, prosseguiu.
Depois, em um evento, Bolsonaro reclamou pessoalmente dele. “Fui a um evento no Palácio e tenho até o vídeo gravado. Ele fala: ‘Ô, Frota, cala essa matraca, porra!”, disse o deputado.
Queiroz operava um esquema de desvio de dinheiro público, recolhendo parte dos salários de funcionários do gabinete de Flávio Bolsonaro, a chamada “rachadinha”. Entre 2014 e 2017, Queiroz movimentou R$ 7 milhões, apontou o antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).
Segundo o requerimento para a oitiva do blogueiro na próxima terça, o conteúdo divulgado pelo Terça Livre tem sido questionado desde sua fundação, em 2014, por conta de inúmeras notícias falsas veiculadas.
Autor do requerimento, o deputado Rui Falcão (PT-SP) destacou que o blog “também ficou conhecido por atuar durante a campanha eleitoral de 2018, próximo ao então candidato Bolsonaro e seus filhos, segundo notícias da imprensa, tendo como principal característica a prática da divulgação de notícias falsas e usando extrema hostilidade para seus adversários”.
A audiência para oitiva de Allan dos Santos será às 13 horas, na sala 2 da ala Alexandre Costa, no Senado. Na quarta-feira (6), serão ouvidos os representantes da Federação das Associações da Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro Nacional), Adriele Ayres Brito; do portal Boatos.org, Edgard Matsuki; do portal Comprova, Sérgio Boeck Lüdtke; e do portal e-farsas.com, Gilmar Henrique Lopes.
A oitiva dos especialistas no combate à desinformação foi requerida pelo deputado Dr. Leonardo (Solidariedade-MT).