Alvo de uma rejeição cada vez maior, o governo Jair Bolsonaro voltou a apelar para o uso de robôs nas redes sociais, para aparentar ter apoio popular. Em meio ao desgaste sem precedentes devido ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Brasil, o bolsonarimo apostou nessa fraude e garantiu, artificialmente, uma quantidade maior de interações no Twitter pró-presidente. O problema é que a maioria dos perfis é do tipo inautêntico.

O Correio Braziliense fez um levantamento com base em números da plataforma Bot Sentinel – que analisa publicações feitas na rede social por robôs. Conforme o jornal, o número de postagens com hashtags para forjar apoio a Bolsonaro saltaram 3.441% entre fevereiro e março. Se, há dois meses, a ferramenta mapeou pelo menos 1.392 posts produzidos por bots bolsonaristas, no mês passado foram contabilizados, no mínimo, 49.302.

Dentre as publicações feitas pelos robôs, destacaram-se hashtags que enaltecem o presidente durante o recrudescimento da crise sanitária e econômica. Houve, por exemplo, mais de 15,2 mil publicações com: #opovoestacombolsonaro, #bolsonaroheroidobrasil, #contecomigobolsonaro, #bolsonarotemrazao e #vaipracimapresidente. A imensa maioria desses posts foi disseminada por robôs.

Além disso, foram bastante comuns posts pedindo que Bolsonaro seja reeleito no ano que vem. Tags como #bolsonaro2022, #bolsonaroate2026, #bolsonaropresidenteate2026 e outras variantes apareceram em aproximadamente 8,1 mil postagens.

Os dias em que as publicações aconteceram com mais frequência foram no aniversário de Bolsonaro, 21 de março, e na data que marca o início do golpe militar de 1964, 31 de março. Só nesses dois dias, foram quase 14,1 mil posts escritos por robôs. As principais hashtags utilizadas foram: #happybirthdaybolsonaro, #parabenspresidente, #deusabencoebolsonaro, #felizaniversariobolsonaro, #viva31demarço, #viva1964 e #viva31demarçovivaobrasil. Nas ruas, porém, as esvaziadas manifestações bolsonaristas convocadas nessas datas fracassaram.

Com a pressão no fim do mês para que o presidente demitisse o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também foram mapeadas cerca de 2,8 mil publicações de bots em defesa do pior chanceler na história do Brasil. Hashtags como #ninguemmexecomernesto e #ernestoaraujofica se mostraram irrelevantes – Araújo deixou o cargo pela porta dos fundos, sendo substituído pelo embaixador Carlos Alberto Franco França.

Um indicativo que aponta para a possibilidade de a atividade no Twitter a favor de Bolsonaro ter sido conduzida por perfis inautênticos é o erro gramatical na escrita de algumas hashtags. Dentre as publicações que mais se destacaram, houve ao menos 459 posts com #parabemsbolsonaro, mais do que as postagens com a escrita correta: apenas 144 estavam com a grafia #parabensbolsonaro. Ainda foram mapeados 153 tweets com #fechadocombolonaroate2026. Por outro lado, 675 foram publicados corretamente (#fechadocombolsonaroate2026).

A atividade dos robôs foi mais comum à noite e nas primeiras horas da madrugada. Quase 45% das publicações (21.780) aconteceram no intervalo entre 21h e 4h. Em contrapartida, a interação dos bots pela manhã e durante a tarde foi bastante reduzida. Apenas 23% das postagens (11.540) aconteceram de 10h a 17h.

Na opinião do cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, o uso de robôs é um sinal de que o bolsonarismo se sente acuado em meio às pressões contra o presidente. Os apoiadores de Bolsonaro tentam, segundo ele, “não perder espaço na internet, território até hoje muito importante para o presidente”.

“Na campanha de 2018, enquanto outros candidatos corriam para montar equipes nas redes, Bolsonaro já as usava havia um ano ou dois. Ele sente que sua avaliação está deteriorando e tenta não perder espaço nas redes virtuais”, diz Prando, citando recentes pesquisas de opinião. “Houve um aumento de quem considera ruim ou péssimo e uma queda dos que consideram bom e ótimo. Essa manobra (dos robôs) visa tentar manter a hegemonia e a força do bolsonarismo.”

Para Vera Chemim, especialista em Direito Constitucional e mestre em Administração Pública, a manobra para manter artificialmente o apoio a Bolsonaro nas redes pode não surtir efeito. “O uso de robôs visa maquiar a queda de sua popularidade, decorrente de muitos erros e tropeços, desde o abandono do combate à corrupção até o menosprezo e omissão em razão da pandemia. Porém, caso não haja mudança de postura, em um momento mais próximo às eleições, nem robôs conseguirão fazer milagre.”

Com informações do Correio Braziliense