Bolivianos festejam vitória de Evo após Mesa declarar-se no 2º turno
A praça San Francisco, a principal de La Paz, ficou lotada na quarta-feira, quando uma multidão de trabalhadores e camponeses vindos dos mais diversos recantos da Bolívia atenderam ao chamado da Central Obrera Boliviana (COB) e da Coordenação Nacional pela Mudança (Conalcam – que reúne sindicatos, associações de moradores, de microempresários, organizações de indígenas) para uma mobilização nacional em defesa da democracia.
Na convocação as entidades que congregam os mais amplos setores da sociedade boliviana saúdam a vitória de Evo, reelegendo-se no primeiro turno, e denunciam a tentativa dos “oligarcas e privatistas” reunidos em torno do segundo colocado, Carlos Mesa, de provocar a desestabilização no país com vistas a impedir que o voto do povo seja respeitado.
“Nos declaramos em estado de emergência e mobilização com a primeira concentração nacional pacífica. Denunciamos as ações violentas, racistas e antidemocráticas movidas pelos interesses oligárquicos e privatistas”, declara o documento conjunto das duas entidades populares nacionais.
Os líderes de trabalhadores, camponeses e indígenas denunciam ainda que alguns destes chefes direitistas, inconformados com o resultado, que reforça a conduta governamental oposta ao receituário neoliberal professado pelo FMI e Banco Mundial, atuam “desde empresas privadas para gerar violência e convulsão no país”.
Mesa deu a senha para a tentativa de chegar ao poder através de golpismo, ao desconhecer o resultado até agora anunciado já com 98% dos votos apurados. De acordo com a legislação boliviana, vence no primeiro turno o candidato que obtiver mais de 40% dos votos e se colocar 10% acima do segundo colocado. Segundo o cômputo a que se chegou até o momento, Evo, candidato do MAS (Movimento Ao Socialismo) alcançou as duas condições.
COB e Conalcam ressaltam ainda que “essa vitória eleitoral foi possível pela votação dos trabalhadores do campo e da cidade organizados nos bairros populares das cidades, mas também nas áreas dispersas de todas as províncias”.
As centrais alertam que Mesa se declarou no segundo turno, já no domingo à noite, com base em cifras parciais (com 83% dos votos anunciados, Evo estava pouco mais de 7% à frente de Mesa) e, portanto, “sem esperar como se não importassem os votos dos irmãos indígenas, camponeses e mineiros”.
Quando Mesa anunciou que estava no segundo turno para disputar com Evo, somente estavam computados 17% dos votos realizados nas áreas rurais do país, como também ainda não havia chegado o resultado dos votos depositados no exterior (mais de 200 mil votantes).
Foi exatamente estes dois cômputos, dando larga vantagem a Evo, que possibilitam sua vitória já no primeiro turno. Os bolivianos residentes no Brasil deram ao candidato vitorioso mais de 70% e os residentes na Argentina, mais de 80% dos sufrágios. No total a votação vinda do exterior deu a Evo 59,84% dos apoios contra 27,6% a Mesa.
A COB e Conalcan denunciam que com as ações de vândalos “a direita está realizando ações violentas, queima de escritórios de tribunais eleitorais locais e sedes do Movimento Ao Socialismo, agressões racistas e alardeando rumores de desabastecimento, visando a desestabilização social e econômica do país”.