Presidente da Bolívia, Luis Arce, disse que “renda e empregos são questões imediatas” | Foto: reprodução

O presidente eleito da Bolívia, Luis Arce, que assume no domingo (8), afirmou que o país necessita de uma injeção de investimento tanto para reativar a demanda interna, como para incentivar o aparato produtivo com os objetivos de soberania alimentar e industrialização.

Em entrevista com o canal Gigavisión, Arce disse que o governo de Jeanine Áñez “está nos deixando uma crise de -11% de retração. Se não começarmos a trabalhar de imediato, vamos necessitar de três a quatro anos para sair de tudo isto. Renda e empregos são as questões imediatas, e é do que vamos nos ocupar em primeiro lugar”, assegurou.

Assinalou que pagará o Bônus Contra a Fome de 1.000 Bs. (144 dólares) que a auto-proclamada Áñez recusou-se a pagar, mesmo que já aprovado pela Assembleia Legislativa Plurinacional (composta em dois terços pelo Movimento Ao Socialismo, MAS). Explicou que o benefício chegará a mais de 4 milhões de bolivianos, entre os quais estão as mulheres que recebiam o bônus Juana Azurduy que atende a mães de crianças menores de dois anos, a Renda Dignidade que se destina aos idosos que não possuem outra fonte de renda e as pessoas com deficiência, além daqueles que receberam o Bônus Universal que o governo transitório pagou para paliar as necessidades que se agravaram com a pandemia do coronavírus.

Está previsto que esses recursos provenham em parte de uma suspensão de pagamentos da dívida externa, que dará uma poupança anual de mais de 1 bilhão de dólares, e de um novo imposto às grandes fortunas, que aliviaria as contas do Estado, mas afetaria uma parcela mínima da população, expressou.

Arce enviará ainda leis à Assembleia Legislativa para reduzir o pagamento do Imposto ao Valor Agregado (IVA) de 13% para 8% àqueles que usem cartões de crédito ou débito, além de estabelecer a devolução do IVA às pessoas com baixa renda. Essas medidas serão tomadas em um prazo de 20 dias após a posse.

A agenda econômica mais de fundo de Luis Arce aponta para um plano de industrialização com substituição de importações. “Vamos fazer um programa de seguridade com soberania alimentar, desenvolver o mercado interno, gerar nossos processos de industrialização do lítio [insumo do qual a Bolívia detém a maior reserva mundial], do ferro do Mutún, exportar energia elétrica, continuar com nossos processos industrializadores do gás, promover o turismo interno. E vamos continuar com o nosso plano estratégico de manter os recursos naturais em mãos do Estado”, declarou o novo presidente.

Na entrevista, Arce ressaltou que “não existe o direito a equivocar-se”. “Hoje o povo boliviano está nos dizendo: Pacto de Unidade, Movimento Ao Socialismo, vamos lhes dar outra oportunidade e, nesta outra oportunidade que nos está dando o povo boliviano, não podemos equivocar-nos, não temos direito a equivocar-nos”, enfatizou no primeiro encontro Ampliado Nacional do Pacto de Unidade realizado em La Paz. Reforçou ainda a importância de ampliar a unidade com setores políticos e sociais que, mesmo tendo visões diferentes, defendam uma Bolívia desenvolvida e justa.

O presidente eleito afirmou que o novo governo, além de cuidar do mercado interno, deve “desenhar projetos para aumentar a produção de alimentos com o objetivo de exportar e gerar maiores rendas e empregos para a agricultura em todo o país”.

O encontro determinou, de maneira unânime, “consolidar o processo de mudança e a Revolução Democrática e Cultural com a direção do presidente Luis Arce Catacora e o vice-presidente David Choquehuanca conjuntamente com o Pacto de Unidade Nacional e seus departamentos”, dando dessa maneira seu total respaldo às novas autoridades.

O Pacto de Unidade é uma aliança nacional das organizações sociais da Bolívia conformada pela Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB), a Confederação Nacional de Mulheres Originárias Indígenas Camponesas da Bolívia – Bartolina Sisa, a Confederação Sindical de Comunidades Interculturais da Bolívia (CSCIB), a Confederação de Povos Indígenas da Bolívia (CIDOB) e o Conselho Nacional de Ayllus e Markas de Qullasuyu (CONAMAQ, organização regional de indígenas).