O ex-ministro da Economia da Bolívia, Luis Arce Catacora, teve sua candidatura à Presidência ratificada na segunda-feira (3) pelo Movimento Ao Socialismo (MAS), partido do ex-presidente Evo Morales, que dirigiu por 13 anos o país, até ser derrubado por um golpe de Estado no ano passado.

Levantando bem alto a Wiphala – a bandeira andina – e do MAS, milhares de apoiadores foram às ruas da capital, La Paz, acompanhando Arce e o candidato a vice-presidente e ex-chanceler David Choquehuanca, que reiteraram o compromisso com a nacionalização, a industrialização e o desenvolvimento com distribuição de renda.

Na avaliação de Arce a unidade e a mobilização dos mais amplos setores da sociedade boliviana em torno da sua candidatura demonstram que o país não aceita retrocesso, quer e vai avançar. Em relação à candidatura da autoproclamada Jeanine Áñez, o candidato do MAS defende que deveria deixar o cargo caso quisesse postular à Presidência. “Por ética, basicamente por ética, deveria renunciar se quer ser candidata. E se quer manter-se no governo, como é sua intenção, não tem que postular”, frisou. Esta atitude, assinalou Arce, “põe em risco a transparência do processo eleitoral”. “Todos têm o direito de postular o cargo, mas não o de enganar o povo”, sublinhou.

Apesar dos golpistas terem prendido na semana passada, de forma completamente ilegal, a representante de Evo, Patricia Hermosa, e, nesta segunda-feira, ao advogado Wilfredo Chávez, do MAS, e sumirem com documentos, a candidatura do ex-presidente conseguiu ser inscrita ao Senado por Cochabamba.

“Denunciamos ante o povo boliviano e à comunidade internacional que a ditadura instruiu a detenção do delegado político do MAS e meu representante diante do Tribunal Eleitoral, Wilfredo Chávez. Este é um atropelo sem nome, de proscrever-nos”, condenou Evo. Com o apoio dos mais amplos setores, a luta prossegue, explicou. “Enviei toda a minha documentação em 1997, 2002, 2005, 2009, 2014 e 2019. Fui qualificado como candidato sem nenhum comentário. Eles sabem que eu cumpro todos os requisitos legais, é por isso que roubam meu livro do Serviço Militar. Eles querem me proibir para me silenciar. Vamos voltar e ganhar!”, destacou.

Entre outras importantes lideranças integram a lista do MAS o ex-chanceler e ex-embaixador na OEA, Diego Pary; a prefeita de Vinto, Maria Patricia Arce Guzmán, vítima de covarde agressão pelos golpistas; e o jovem Andrónico Rodriguez, vice-presidente das seis federações do Trópico de Cochabamba.

O enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) na Bolívia, Jean Arnault, defendeu que Áñez respeite os direitos humanos e não realize perseguições políticas e judiciais que ponham em risco a legitimidade do processo eleitoral.

“Em um contexto eleitoral é essencial que não se realizem atos de perseguição política, incluindo o abuso de procedimentos judiciais”, esclareceu Arnault, enviado pessoal do secretário-geral da ONU, António Guterrez, desde o golpe.