Boeing tem queda de 51% após os dois desastres com os 737 MAX
A fabricante de aviões norte-americana Boeing anunciou na quarta-feira (23) que seu lucro líquido chegou a US$ 1,167 bilhão no terceiro trimestre, o que representa uma queda de 51% frente aos US$ 2,363 bilhões obtidos em igual período no ano passado. O lucro por ação caiu pela metade, de US$ 4,07 em 2018 para US$ 2,05 agora em 2019. A empresa relaciona o péssimo resultado com as quedas dos dois 737 Max e a consequente paralisação das vendas e aterramento das aeronaves.
Os desastres com os dois modelos 737 MAX – a queda do voo 610 da Lion Air na Indonésia em outubro passado e do voo 302 da Ethiopian Airlines em março – mataram 346 pessoas e a Boeing trabalha, sem sucesso até agora, para aprovar o modelo novamente. Logo após o segundo acidente, as companhias aéreas cancelaram milhares de voos e encomendas do Max.
O retorno do Boeing 737 Max ao serviço foi adiado várias vezes, e o clima de confiança não foi restabelecido entre a gigante norte-americana e as autoridades reguladoras, uma vez que novos problemas com o avião foram aparecendo ao longo dos meses.
As companhias aéreas não esperam que o avião voe novamente até o próximo ano e a Boeing já disse que, se os atrasos persistirem por muito mais tempo, poderá interromper a produção do Max, uma situação que trará graves consequências para a montadora e que, além de afetar sua força de trabalho, trará sérios problemas para sua extensa rede de fornecedores.
Neste quadro em que o escândalo do modelo 737 MAX tem piorado mês a mês, certamente não é uma surpresa que a Boeing tenha apresentado forte retração nos ganhos, embora não fosse esperado queda dessa magnitude. Assim, a receita do terceiro trimestre de US $ 19,980 bilhões caiu -21% frente aos US $ 25,146 bilhões no ano anterior.
O relatório de resultados ruins no terceiro trimestre mostra ainda que a Boeing foi tão fortemente afetada, como ressalta a Bloomberg, que este já é o segundo trimestre consecutivo de fluxo de caixa negativo para a empresa, que seria a primeira vez desde pelo menos 2010.
Em relação aos custos gerados pela paralisação (aterramento) dos 737 Max, US $ 900 milhões foram registrados durante o terceiro trimestre. Enquanto isso, à medida que a proibição mundial de vôos se arrasta, a Boeing se encontra com centenas de aeronaves 737 Max recém-construídas, mas não entregues. Os estoques totalizaram US $ 73,3 bilhões em 30 de setembro, um aumento de 17% desde o início do ano.
Além disso, mesmo que os problemas do 737 MAX fossem resolvidos, as dificuldades da Boeing vão além do Max e incluem desde alegações de produção de má qualidade na fábrica em Charleston, rachaduras no 737 NG, um antecessor do Max, e a descoberta de objetos estranhos dentro do avião-tanque KC-46, uma aeronave militar de abastecimento, fabricada pela corporação para o Pentágono.
Em meio a essa crise sem precedentes, a Boeing acaba de demitir seu principal executivo de aviões comerciais Kevin McAllister e designar Stanley Deal, chefe de serviços globais da fabricante, para sucedê-lo.
Ao entregar a cabeça de McAllister, a Boeing espera aplacar parte da ira dos acionistas da empresa, cujas ações caíram nos últimos três dias após a divulgação de mensagens, nas quais, um piloto que trabalhava no 737 Max manifestara preocupação com o sistema automatizado em 2016, meses antes da Administração Federal de Aviação certificar o avião.
Essas mensagens refutam a posição longamente reiterada pela Boeing, de que não havia indicação de que o Max fosse inseguro até os acidentes da Lion Air na Indonésia em outubro passado e da Ethiopian Airlines em março.