“Bloquear petróleo russo vai quebrar todos nós”, diz ex-ministro grego
“A decisão da União Europeia de embargar o petróleo russo, em vez de prejudicar a Rússia, vai quebrar todos nós com um preço de cinco euros [cerca de R$ 25,45] por litro [de gasolina]. Vocês estão loucos?”, questionou o ex-ministro da Defesa Nacional da Grécia Pános Kammenos, que foi ministro de 2015 a 2019, no governo de Alexis Tsipras, e atualmente é membro do Parlamento grego, condenando a decisão de restringir importações de petróleo da Rússia, anunciada na segunda-feira (30) pela UE.
Em reunião realizada em Bruxelas, os líderes da UE aprovaram o sexto pacote de sanções antirrussas, que inclui, entre outras medidas, a introdução gradual de um embargo às importações de petróleo da Rússia.
A restrição cobre mais de dois terços das importações de petróleo para o bloco de 27 membros. De acordo com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, até o fim do ano a UE “realmente reduzirá as importações de petróleo russo em 90%”. Não explicou, porém, como isso acontecerá.
Com a decisão, o bloco pretende banir completamente as importações do combustível por via marítima, mantendo apenas em funcionamento o oleoduto Druzhba, que liga a Rússia à Europa Central.
A advertência de Kammenos, mesmo que subliminarmente, questiona a recente ratificação do Acordo de Cooperação em Defesa Mútua (MDCA, na sigla em inglês) entre a Grécia e os EUA pelo parlamento grego, pela qual Washington ganhou acesso a três bases militares na Grécia, para além da que já opera.
O governo de Atenas disse que o acordo deve ser enxergado como um indicador da elevada importância que a Grécia tem para os EUA. Entretanto, Ali Bakeer, professor assistente de Relações Internacionais na Universidade do Catar e outros especialistas advertiram que a presença crescente dos Estados Unidos na Grécia poderia levar a cenários indesejados na região do mar Egeu e no Oriente Médio.
O ministro da Defesa da Turquia, Hulusi Akar, acusou a Grécia de “continuar obstinadamente com suas ações provocadoras” nos mares Egeu e Mediterrâneo, apesar da postura de Ancara centrada na “boa vizinhança, nas relações internacionais e no diálogo”.
Europa precisa dos combustíveis russos
Ursula von der Leyen revelou, na terça-feira (24), que a Europa ainda é dependente dos combustíveis russos.
“A União Europeia não pode impor uma proibição total e imediata ao abastecimento energético russo”, disse ela na ocasião.
Desde o começo da operação especial russa na Ucrânia, a UE impôs seis rodadas de sanções a Moscou em um curto período de tempo, entre o fim de fevereiro e maio.
Devido à dependência energética do continente, o novo pacote, que atinge o gás e o petróleo russos, sofreu resistência de países como a Hungria, em particular, mas também da Alemanha, Eslováquia, República Tcheca e Bulgária.
Josep Borrell, chefe das Relações Exteriores da União Europeia (UE), também admitiu que o embargo do bloco às importações de petróleo russo não impede sua venda a terceiros.
“Obviamente não podemos impedir a Rússia de vender petróleo a outros, não somos tão poderosos assim, mas somos o cliente mais importante da Rússia. Eles terão que procurar outros e obviamente terão que baixar o preço”, disse na terça-feira (31) Borrell aos jornalistas durante reunião da UE em Bruxelas, Bélgica, fingindo desconhecer que a Ásia já ultrapassou a Europa na aquisição de combustíveis vindos da Rússia.
O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Yevgeny Ivanov, em entrevista à Agência Sputnik já havia alertado que “a política da UE em relação à Rússia mostra um déficit agudo de sensatez e raciocínio”, sublinhando que Bruxelas “persegue o objetivo político de demonstrar a todo custo sua solidariedade com o regime de Kiev, pressionando cada vez mais a Rússia com sanções ilegítimas”.
Apesar de todas as sanções aplicadas a Moscou, as exportações marítimas de petróleo russo aumentam. De acordo com o jornal Valor Econômico de segunda-feira (30), em meio às sanções, os embarques gerais de petróleo entre o dia 20 até 27 de maio seguem crescendo.
Um total de 34 petroleiros carregou 25 milhões de barris dos terminais de exportação do país, segundo dados de rastreamento de navios e relatórios de agentes portuários. Isso colocou os fluxos médios em 3,58 milhões de barris por dia, um aumento de 4% em relação aos 3,44 milhões na semana encerrada em 20 de maio, informa a reportagem.