Blogueiro foragido morava em mansão bancada por Eduardo Bolsonaro
Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que o blogueiro Allan dos Santos, que está foragido da Justiça, morou em uma mansão em Brasília que era paga pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Depois que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência, em 2019, Allan dos Santos se mudou para uma mansão no Lago Sul, em Brasília, cujo aluguel, de R$ 9.000, era pago pelo filho de Jair Bolsonaro.
A revista Crusoé teve acesso às mensagens trocadas entre Allan dos Santos e o deputado Felipe Barros (PSL-PR), obtidas pela PF e que estão sob posse da CPI da Pandemia.
Em uma mensagem ao deputado Felipe Barros, enviada em outubro de 2019, Allan diz: “Já estou no bunker pago pelo Eduardo. Cadê tu? Aparece aqui. Tenho algo grandioso para te mostrar. Sobre a viagem para SP”.
Fotos tiradas na época mostram Allan dos Santos, com roupas casuais, escrevendo na varanda da mansão.
A mansão tem 600 m² de área construída, em um terreno de 2 mil m². A residência, que tem dois andares, conta com salão de festa, piscina com mesas de concreto dentro, banheiras, mirante, sauna, hidromassagem e seis quartos.
Em 2019, o cantor Lobão, que já tinha deixado de apoiar o governo Bolsonaro, disse em uma entrevista que foi informado que a nova mansão de Allan dos Santos estava sendo bancada por Eduardo Bolsonaro.
“A minha fonte lá de Brasília me mandou um WhatsApp: ‘Você sabe quem está morando aqui? O Allan dos Santos. Morando numa mansão no Lago Sul, que o Eduardo Bolsonaro está bancando’”, falou o cantor.
Depois da entrevista, Allan dos Santos nunca negou que estava sendo bancado pelo deputado federal, apenas reclamou de ter tido a localização de sua residência exposta.
O dono do site Terça Livre morou na mansão até agosto de 2020, quando fugiu das investigações para os Estados Unidos. Ele estava sendo investigado – e hoje tem um mandado de prisão – por ter divulgado fake news e ataques contra as instituições democráticas.
Eduardo Bolsonaro também ajudou o blogueiro a fugir do Brasil. Em outras mensagens obtidas pela Polícia Federal, o filho de Bolsonaro pede a Allan dos Santos que envie as informações sobre a emissão dos passaportes de seus familiares.
“Preciso do nº do protocolo desses atendimentos p passaporte. E para qnd está agendado a retirada do passaporte ou a ida para tirar a foto, enfim, uma ida à PF”, disse Eduardo.
Alguns dias depois, Allan dos Santos envia uma mensagem para saber o andamento da ajuda: “Fala, Duda. Alguma novidade da PF?.
Um mês depois, ainda durante o fechamento das fronteiras entre os Estados Unidos e o Brasil, Allan conseguiu fugir para o estrangeiro.
A PF também obteve mensagens que indicam que Eduardo Bolsonaro fez a ponte entre Allan dos Santos e o empresário Luciano Hang, das lojas Havan e bolsonarista de carteirinha, para que o blogueiro conseguisse financiamento para seu site.
Allan pediu o contato e Eduardo ainda se ofereceu para apresentá-lo a Hang. Depois de alguns meses, Allan informou Eduardo: “Luciano Hang está dentro. Patrocínio para o programa”.
As mensagens publicadas pela Crusoé também mostram que Allan dos Santos realizava, a cada quinze dias, churrascos com membros do governo e convidava aqueles com os quais tinha interesse para seu site.
Em agosto de 2019, convidou Eduardo Bolsonaro e pediu para que ele chamasse Gustavo Montezano, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Flávio [Bolsonaro] já veio aqui. Falta você”, disse Allan a Eduardo, irmão do senador Flávio Bolsonaro.
Eduardo respondeu que “hoje não estou em São Paulo. Reunião na Fiesp com empresários que têm interesse nos EUA”.
O blogueiro falou então que “daqui a quinze dias teremos outra [reunião]. Fala pro Gustavo ir. Do BNDES. Se ele estiver por aqui”.
Eduardo confirma e pediu para passar o dia, “que daí já bloqueio aqui na agenda”.
Allan dos Santos tinha uma lista com 18 pessoas, para as quais enviava os convites para os churrasco. Entre eles estão Flávio e Eduardo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, que era chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom), o assessor de Bolsonaro, Filipe Martins, que fez gestos racistas dentro do Senado Federal, os deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Caroline de Toni (PSL-SC), Filipe Barros (PSL-PR), Felipe Francischini (PSL-PR) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).
O médico Hélio Angotti Neto, secretário do Ministério da Saúde que financiou a ida do grupo da “capitã cloroquina” (Mayra Pinheiro) para Manaus, também era parte do grupo.