As reformas neoliberais não aumentaram ainda o ânimo do mercado, o que se vê é a fuga maciça de capital do país e uma bolha na Bovespa criada por investidores brasileiros que não se reflete na realidade da economia que engatinha em um crescimento medíocre do PIB de 0,8%.

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Publicado 27/02/2020 11:46

Os liberais brasileiros terão que decidir se roem a corda com o regime fascista ou legitimam a ditadura escancarada.

Não é de hoje que Jair Bolsonaro insufla sua base de apoio contra as instituições democráticas, são vários ataques em diferentes ocasiões e para todos os gostos. Bolsonaro é um golpista convicto, não tem apreço pela democracia, muito menos vai recuar ou mudar o seu discurso.

Cabe aos que legitimaram o governo de Bolsonaro na eleição acordarem para o perigo real que se aproxima cada vez mais, ou seja, a turma que estava com Alckmin, o centrão de Cunha e Temer, os liberais de laranja, a grande mídia hegemônica entre outros que sustentam o regime devido a tal agenda econômica.

Como separar a ditadura fascista da agenda neoliberal? Esta é a grande resposta que o establishment político ainda não sabe dar. O golpe em Dilma Rousseff foi única e exclusivamente para submeter o Brasil a agenda econômica neoliberal, e o resultante disto foi a violência política – para justificar a queda de Dilma –, que desembocou no fascismo.

A agenda Guedes, o ultraliberalismo pactuado pelo “centrão democrata”, até então vem justificando os arroubos autoritários do regime fascista. Porém, a extrema-direita cresce exatamente para cima do centro político, ganham terreno em cima da “velha política” tratada como simples balcão de negócios, e agora pretendem exterminar o Congresso Nacional.

As reformas neoliberais não aumentaram ainda o ânimo do mercado, o que se vê é a fuga maciça de capital do país e uma bolha na Bovespa criada por investidores brasileiros que não se reflete na realidade da economia que engatinha em um crescimento medíocre do PIB de 0,8%.

O dólar segue nas alturas, o comércio não reage nem mesmo no Natal, e a indústria nacional segue condenada ao ostracismo. O desemprego ainda em níveis assustadores, com um malabarismo estatístico o governo diz que abaixou, em contrapartida o emprego informal é recorde em vários estados, a uberização segue galopante.

A entrega do patrimônio público avança de forma acelerada. Petrobras, Correios e DataPrev, com seus servidores em luta contra o desmonte. As lutas sindicais reacendem a oposição contra a agenda neoliberal e pressionam o Governo Federal, os caminhoneiros seguem insatisfeitos e o caldeirão rapidamente pode entornar. O Brasil de Bolsonaro está oficialmente em ebulição.

A CPMI das Fake News provocou mais um embate com jornalistas, desta vez com Patrícia Campos Mello e o seu linchamento pelas milícias virtuais estimuladas por Bolsonaro e seus filhos, geraram repúdio da categoria. A morte de Adriano da Nóbrega, miliciano intimamente ligado ao clã Bolsonaro estremeceu o Palácio do Planalto, o Presidente deu atenção demasiada ao assunto e Flávio Bolsonaro chegou a divulgar imagens falsas do que seria o corpo do miliciano morto. Por quê?

O Presidente pressionado dobra a sua aposta e coloca em marcha o seu plano de fechamento do regime. O primeiro movimento foi colocar a faca no pescoço dos governos dos estados, criando factoides e bravatas, colocando a população contra os governadores pela redução do ICMS dos combustíveis.

Na segunda mexida no tabuleiro, os policiais militares – a sua base popular mais fiel –, começam a emparedar os governos dos estados por reajustes astronômicos em seus salários. As técnicas são de milicianos, os militares intimidam os governadores e as Assembleias Legislativos em protestos armados, colocando a soberania popular sobre a mira das baionetas.

Os governos dos estados começam a perder o controle de suas PMs, que passam agora a serem operadas direto do Planalto, não pela via institucional, mas sim via milícias. Esse é um roteiro esperado de consolidação do fascismo bolsonarista. No Ceará o conflito se intensificou ao ponto do Senador Cid Gomes ser baleado com dois tiros em plena luz do dia, sem nenhum pudor e sem nenhum constrangimento por parte dos milicianos.

Em sintonia com a escalada autoritária, Bolsonaro se cerca de militares no governo, contendo mais militares em seu gabinete do que Nicolas Maduro na Venezuela. O seu Ministro do Gabinete de Segurança Institucional, General Heleno, ataca o Congresso Nacional de maneira aberta dizendo que o governo é vítima de chantagem por parte dos parlamentares.

O cenário é ideal para o autogolpe de Bolsonaro chancelado pelas Forças Armadas. Lembrando Fujimori no Peru, que pressionado pelo parlamento e pela Suprema Corte, chegou em uma situação onde ou o Congresso matava o Presidente ou o Presidente matava o Congresso. Fujimori em 1992 matou o Congresso, foi na televisão e dissolveu o parlamento e a Suprema Corte com apoio das Forças Armadas em nome da luta contra a corrupção e a favor de reformas liberais.

Bolsonaro parece seguir o mesmo enredo, acuado, emparedado, amarrado pelais instituições democráticas, o Presidente ajuda a convocar manifestações de sua base de apoio contra o Congresso Nacional e o STF. A confirmação veio do próprio que atestou ter compartilhado vídeos de cunho golpista com seus amigos próximos.

Houve repúdio de grande parte de partidos políticos as intenções golpistas de Bolsonaro e seu clã. Manifestações públicas do decano do STF, Celso de Mello, do Presidente do STF Dias Toffoli, do Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e de partidos de oposição e do centro político. Porém a defesa da democracia requer mais que declarações em redes sociais, é preciso ações objetivas no parlamento e no STF, ou então o Presidente mata o Congresso.

Resta saber se os liberais vão roer a corda diante da manifestação escancarada do desejo de Bolsonaro subverter a democracia para continuarem com a sua agenda neoliberal, afinal de contas a agenda Guedes se parece muito com a agenda dos Chicago Boys na Ditadura Pinochet. Os liberais sustentam o fascismo com a agenda Guedes, com isso legitimam o regime, se eles não romperem a corda vai ser tarde demais.

Sem querer ser profeta do caos, mas sempre alertei que Bolsonaro era a via civil para os militares tomarem de novo o poder. Muitos não enxergaram isso, acreditaram em um possível governo civil, em um possível respeito as instituições democráticas, “o sistema político vai freá-lo” “terá que jogar o jogo democrático”.

O que vem por aí pode ser o mais perverso e autoritário governo dos nossos tempos, uma ditadura com apoio popular de uma classe média desinformada e potencialmente fascista com os seus preconceitos a flor da pele para justificar o injustificável, junto a desigualdade de renda profunda diante da face mais agressiva do capitalismo, a financeirização da economia com a globalização neoliberal.

A elite brasileira não tem dó, vai sugar até a última gota de sangue do trabalhador, podendo deitar a cabeça no travesseiro tranquila, com os cães de guarda do Estado prontos para sufocar qualquer revolta popular legítima.

Hoje, diante da ameaça de autogolpe de Bolsonaro e sua turma, a leitura de conjuntura dos comunistas se mostra acertada: Frente ampla democrática contra a barbárie da ditadura fascista!

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