Bernardo Gomes: A quem interessa o isolamento político?
O PCdoB lutou desde o processo eleitoral em 2018 para unidade progressista. O partido, mesmo precisando superar a cláusula de barreira, retirou a sua candidatura majoritária em troca de uma possível união da esquerda que não ocorreu. Agora o Governador do Maranhão Flávio Dino faz um movimento para ampliar o diálogo com outras forças políticas para além da bolha ideológica e entra na mira do sectarismo.
Por Bernardo Gomes*
No meu primeiro texto para o Portal Vermelho, “Unidade em defesa da soberania nacional e do Estado Democrático”, publicado em maio de 2019, conclamei mais uma vez a união do campo progressista, passadas as eleições não seria hora de apontar o dedo para esse ou aquele ator político da esquerda supostamente responsável pela eleição de Jair Bolsonaro, era hora de fortalecer a oposição contra o governo no parlamento e estar atento para o avanço do fascismo na política institucional.
A tal unidade parece ter ficado só mesmo nos nossos sonhos, no primeiro desafio concreto, a eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados, PCdoB e PDT convergiram seu apoio para Rodrigo Maia, enquanto parte do PT e PSOL se fecharam em uma posição com Marcelo Freixo e o PSB se isolou com JHC. O processo serviu para demonstrar as feridas abertas na esquerda, foram muitas as ofensas que os comunistas tiveram que ouvir pelo apoio a Maia, vindas principalmente de militantes do Partido dos Trabalhadores.
Outro episódio que deixou clara a nossa falta de unidade foi a votação da Reforma da Previdência, onde parlamentares de parte do PDT e do PSB votaram a favor da Reforma, que dificultou e muito o acesso dos trabalhadores aos benefícios previdenciários. No isolamento político a esquerda não consegue conter o avanço do neoliberalismo no Congresso Nacional.
Pois bem, é legitimo o posicionamento de cada partido em suas tomadas de decisões políticas, porém não adianta a esquerda ficar no isolamento se quiser realmente derrotar o fascismo e o neoliberalismo e voltar a governar esse país. A disputa que polarizava entre a centro-direita e a centro-esquerda não existe mais, hoje vivemos uma conjuntura excepcional, um governo de extrema-direita que ameaça a democracia e os direitos dos trabalhadores conquistados com a Constituição de 1988.
Visto que o tamanho da nossa tragédia política se aprofunda a passos largos, começaram surgir alguns movimentos de amplitude política em oposição ao governo Bolsonaro, um deles foi o Fórum Pela Democracia Direitos Já!, que já se reuniu algumas vezes e abrange diversos partidos e movimentos sociais, para além da esquerda. Em outra coluna aqui no Vermelho “Movimentos Importantes” publicada em setembro de 2019, escrevi sobre esses movimentos de tentativa de frente ampla.
Na ocasião disse “A esquerda já vem em um esforço gradativo de união e atuação coesa do seu campo político e agora busca amplitude para a oposição ao governo. Com o aprofundamento dos rompantes antidemocráticos de Bolsonaro, surgem movimentos políticos talvez impensáveis em outros tempos”.
Afirmando que “Desta forma a frente ampla não será algo estanque, imóvel, mas sim que se organizará em determinadas pautas aonde se acumule o máximo de forças necessárias para conter os danos e isole o bolsonarismo em sua redoma radical e obscurantista”.
O ator político que vem se destacando em um diálogo para além da esquerda é o Governador do Maranhão, Flávio Dino. O comunista que governa o seu estado em uma coalizão com 16 partidos, começou a jogar um papel nacionalmente com sua habilidade para fazer alianças, isso infelizmente, tem despertado um sectarismo rasteiro entre nosso próprio campo político.
É impressionante o esforço que alguns setores da esquerda ou centro esquerda estão fazendo para desqualificar os movimentos de Flávio Dino, que busca ampliar a capacidade da esquerda de sair do seu isolamento político desde o golpe de 2016.
Não estou aqui para mais sectarismo, é normal que a disputa política por espaços gere esses choques, porém penso que o momento político que atravessamos é atípico e exige um mínimo de desprendimento. O que Flávio Dino vem fazendo é um movimento legítimo por diálogo, é política na sua essência, por isso incomoda aqueles que se acomodaram em seus discursos para convertidos.
Se quando Ciro Gomes se aproxima do DEM é legítimo para seus apoiadores, se quando o PT faz alianças com o MDB é legítimo, por que o movimento do Flávio Dino seria tratado por essas mesmas forças políticas de maneira diferente?
Se quisermos pensar o Brasil, o desenvolvimento, a geração de empregos, a garantia dos direitos sociais e a democracia, é preciso ampliar, retomar o debate público e o próximo desafio passa pelas eleições municipais desse ano. A polarização nacional não pode ser sinal de isolamento nas disputas locais, precisamos ser mais estratégicos nas disputas dos executivos. A frente ampla passa pela consolidação de espaços e pela disputa cirúrgica, afim de evitar fraturas que possam provocar os mesmos erros da eleição nacional.
Governar é a arte de fazer maioria, ser oposição é muito fácil, é muito gostoso, agora o compromisso com o povo exige altivez para organizar e dirigir a diversidade de interesses e contradições que permeiam a nossa sociedade. Fora da unidade dos trabalhadores e do povo só restará ilusão!