A Alemanha condenou a investida do governo Trump para adonar-se de uma vacina contra o novo coronavírus em desenvolvimento pela empresa alemã CureVac, denunciada no domingo pelo jornal Welt am Sonntag.

O jornal citou uma fonte anônima próxima do governo alemão dizendo que Trump estava fazendo de tudo para obter o agente imunizador: o presidente teria oferecido “1 bilhão de dólares” para garantir que a vacina fosse “apenas para os Estados Unidos”.

O ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, disse que a Alemanha não podia permitir que alguém buscasse “exclusividade” dos resultados dessas pesquisas, após se referir à posição de liderança dos cientistas alemães “no desenvolvimento de remédios e vacinas no âmbito de colaborações internacionais”.

“Nós só vamos derrotar esse vírus em conjunto, e não agindo um contra o outro”, acrescentou Maas, que salientou que Berlim busca “uma maior cooperação” para combater o Covid-19.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já declarou pandemia a Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus, que surgiu pela primeira em dezembro na China e já se estendeu a mais de 130 países e territórios, com o número de mortos superando 6 mil e mais de 162 mil casos confirmados.

Na última semana, o epicentro da pandemia deslocou-se para a Europa, com a situação sendo mais grave na Itália. O número de mortos fora da China já superou o total de óbitos na China. Quase 75 mil pessoas se recuperaram no mundo, a maioria na China.

“A Alemanha não está à venda”, havia reagido antes de Maas o ministro da Economia, Peter Altmaier.

A CureVac, fundada em 2000, está sediada na cidade de Tübingen, no sudoeste alemão, e possui laboratórios em Frankfurt e em Boston, nos EUA.

Em colaboração com o Instituto Paul Ehrlich, vinculado ao Ministério da Saúde alemão, a empresa vem trabalhando no desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus.

A expectativa é ter uma vacina experimental até junho ou julho e, em seguida, obter aprovação para testes em pessoas.

Altmaier ainda elogiou a CureVac por não se submeter à pressão de Trump. “Foi uma ótima decisão”, disse o ministro em um programa de televisão na noite de domingo.

Altmaier alertou que o governo alemão irá intervir caso ocorra alguma tentativa de tomada hostil da empresa. “Quando se trata de infraestrutura importante e de interesses nacionais e europeus”, disse ele, “agiremos se for necessário”.

Ele disse também que o governo alemão está comprometido em garantir “que a ajuda necessária esteja disponível” para a CureVac no desenvolvimento da vacina.

Na semana passada, o laboratório alemão surpreendeu ao anunciar Ingmar Hoerr como novo executivo-chefe, em substituição de Daniel Menichella, apenas algumas semanas após este se encontrar com Trump e o vice Mike Pence.

O principal acionista do laboratório CureVac, o bilionário alemão Dietmar Hopp, também criticou a investida de Trump e a falta de solidariedade do presidente americano.

“Assim que – o esperamos que seja em breve – conseguirmos desenvolver uma vacina eficaz contra o coronavírus, ela deve alcançar, proteger e ajudar as pessoas, não apenas num aspecto regional, mas seguindo o espírito de solidariedade em todo o mundo”, disse Hopp.

A truculência de Trump gerou indignação até mesmo entre o setor mais conservador da política alemã. “O que importa agora é a cooperação internacional, não o interesse nacional próprio”, disse o deputado conservador Erwin Rüddel, membro do comitê de saúde do Parlamento alemão.

O líder do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Lindner, acusou o presidente norte-americano de usar a questão para fins eleitorais, já que concorre à reeleição neste ano. “Obviamente, Trump usará todos os meios disponíveis numa campanha eleitoral”, afirmou.

Conforme alegou uma autoridade dos EUA à agência de notícias AFP, foram muitas as empresas com que o governo Trump conversou sobre uma vacina – mais de 25. Ao contrário do que vazou, o funcionário agora assevera que qualquer solução encontrada seria “compartilhada com o mundo” – acredite quem quiser.