Primeiro-ministro Scholz reafirma política alemã de ‘não envio de armas a zonas de conflito’

A Alemanha reiterou que mantém inalterada sua política de “não envio de armas” à Ucrânia e, na sexta-feira (21) proibiu expressamente à Estônia que enviasse a Kiev armas de fabricação alemã.

Na terça-feira, o novo primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, após reunião com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, já havia comunicado que “quando a isso, nada muda”, se referindo à política implantada pelo governo anterior, de Angela Merkel.

Berlim há muito argumenta que não apoia o envio de armas para zonas de conflito ativas e enfatiza que isso dificulta encontrar uma solução pacífica para a crise.

A Alemanha é também um dos garantidores, ao lado da França e da Rússia, dos acordos de Minsk para pacificação Donbass-Ucrânia.

No sábado, o governo de Kiev expressou sua “profunda decepção” com a posição do governo alemão “sobre o fracasso em fornecer armas de defesa à Ucrânia”.

Kuleba postou, ainda, que as declarações da Alemanha “sobre a impossibilidade de fornecer armas de defesa à Ucrânia” não correspondem “à situação de segurança atual”.

O ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, pelo Twitter, cinicamente instou os “parceiros alemães” a pararem de “minar a unidade com tais palavras e ações e de encorajar Vladimir Putin a lançar um novo ataque”.

A mídia também afirma que os voos do Reino Unido levando armas e pequenos contingentes de instrutores militares “supostamente contornaram o espaço aéreo alemão”.

Mais cedo no sábado, a ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, disse em entrevista ao jornal alemão Welt am Sonntag que “envios de armas não seriam úteis no momento – esse é o consenso dentro do governo”.

Ela acrescentou que Berlim enviará um hospital de campanha e revelou que já foram fornecidos respiradores à Ucrânia e soldados ucranianos gravemente feridos estão atualmente sendo tratados em hospitais do exército alemão.

Agências de notícias registraram declarações do primeiro-ministro Scholz sobre a necessidade de “prudência” na escolha das sanções contra a Rússia (ou “aqueles que violam os princípios acordados em conjunto”).

Ao jornal Sueddeutsche Zeitung, ele destacou que “ao mesmo tempo, temos que considerar as consequências que isso terá para nós”, acrescentando que ninguém deve pensar que existe uma medida disponível sem consequências para a Alemanha.

Embora tenha dito que os “aliados” acabarão chegando a algum consenso.

Já segundo a revista Der Spiegel, Scholz teria recusado um convite para conversa em curto prazo sobre a Ucrânia, feito pelo presidente Biden, alegando agenda lotada. A visita do chefe da CIA a Berlim na semana passada teria isso como uma de suas metas.

Tanto o governo alemão quanto a Casa Branca negaram oficialmente as alegações feitas pela Der Spiegel, mas o encontro estaria sendo remarcado para meados de fevereiro.

Outro episódio relacionado à repercussão da tensão na Ucrânia foi a demissão no sábado do comandante da Marinha alemã, Kay-Achim Schönbach, após este dizer, privadamente, que a Rússia deve ser tratada como país amigo pelos alemães, que Putin “merece respeito” e chamar de “nonsense” a ideia de que a Rússia queira invadir a Ucrânia.

Disse também que a Crimeia, “já foi e não voltará”. Segundo ele, as ações da Rússia na Ucrânia precisam ser debatidas, mas “a Península da Crimeia se foi, nunca mais voltará. Isso é um fato”.

A declaração foi feita na sexta-feira em um encontro em Nova Déli, capital da Índia, em um think tank, que vazou na internet. No mesmo dia, o Ministério do Exterior da Ucrânia convocou a embaixadora alemã Anka Feldhusen para enfatizar “a inaceitabilidade categórica” dos comentários.

No vídeo, o chefe da Marinha alemã argumentava que era necessário uma aliança com a Rússia para fazer frente à China, vista por ele como uma “ameaça maior”.