O maior desafio para um eventual novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente da Presidência da República é o modelo econômico atualmente vigente no Brasil. Para discutir mais a respeito do tema, Luis Nassif recebeu na TV GGN 20 horas desta terça-feira (21) o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

Segundo Nassif, quando se analisam os desafios do provável futuro governo Lula, um é montar um grande leque de apoio, e o outro é não fazer concessões em áreas cruciais. “Um dos pontos centrais é justamente a questão da economia, que ficou presa em um conjunto de bordões. É inacreditável”, diz Nassif. “O grande desafio é: como seria uma política econômica em um futuro governo Lula?”.

Para Belluzzo, o primeiro ponto a se fazer é fugir das crenças que conduziram a economia até o momento. “Eu me sinto na obrigação de fazer uma avaliação bem, historicamente bem longa e profunda sobre o que aconteceu na economia brasileira, quando nós fomos dando saltos de buraco em buraco nos últimos anos”, explica Belluzzo.

O primeiro ponto explorado no debate é o câmbio, e Belluzzo cita como exemplo as fortes desvalorizações vistas pelo real, da lira turca e da moeda chilena. “No debate econômico, há uma falha estrutural: eles não reconhecerem as consequências da abertura financeira que foi empreendida a partir dos anos 80 e se acentuou nos anos 90”, afirma Belluzzo. “E aí nós temos que atribuir uma responsabilidade muito grande para o declínio da economia brasileira a abertura financeira com a gestão do Plano Real”.

“Ao longo desse período, iniciou-se um rapidíssimo processo de desindustrialização no país – e isso tem a ver com câmbio e juros. É uma relação monetário-financeira”, analisa Belluzzo. “Estamos em uma situação em que, sobre essa variável, não temos controle. Então, é preciso ver isso como uma restrição”

Para Belluzzo, no Brasil de hoje, “ninguém percebe nada, porque a mídia oficial é um desastre, é uma catástrofe o que eles falam de economia”. O professor da Unicamp ressalta a necessidade de uma ação internacional – “do Brasil, da Argentina, do Chile, no México talvez” –, no sentido de articular uma forma de cooperação que defenda esses países da sua vulnerabilidade externa.

Segundo Belluzzo, tanto na Europa como nos Estados Unidos estão sendo organizados debates que chegam a questionar a dimensão da financeirização. “A financeirização envolve outras coisas – envolve, na verdade, o pagamento de dividendos e recompra de ações acima do investimento produtivo”, diz. “A financeirização supõe também que a expansão do crédito no mundo inteiro, intrafinanceira, financia a valorização de ativos, recompra de ações, etc., foi muito maior que o crédito destinado às empresas e às famílias.”.

Para o economista, o Brasil precisa de uma reconstrução institucional. “Em vez de ficar discutindo apenas e tão-somente as questões macroeconômicas, o que é importante também, temos que nos voltar para o redesenho institucional da economia brasileira”, comenta. “Redesenho institucional significa o quais são os atores que nós vamos mobilizar para recuperar a economia brasileira”, afirma Belluzzo. “Não precisa estatizar tudo. Os atores têm que ser, como dizia o Keynes, públicos e privados, como os chineses fazem.”

Entre os atores públicos, Belluzzo cita bancos como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. “Grandes empresas estão recebendo crédito abundante, e isso provoca uma assimetria na economia, porque as pequenas e médias não recebem esse valor. Só o crédito público resolve isso – e nós já temos experiência, muita experiência disso no passado”

Segundo Belluzzo, o sistema financeiro e monetário que o capitalismo inventou pode ser colocado a serviço do investimento produtivo, como no pós-guerra. “Ninguém pode explicar a recuperação das economias europeias sem o direcionamento do crédito. Não há a menor possibilidade, porque aquilo foi uma coisa articulada.”

Com informações do Jornal GGN