BC pode descumprir meta de inflação por três anos consecutivos
Com a retomada das divulgações pelo Banco Central, após o término da greve dos servidores, o Boletim Focus mostrou nas duas últimas semanas uma evolução na projeção dos analistas para a inflação de 2023, que subiu de 5,01% para 5,09%. Há quatro semanas, a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) era de 4,70%.
A expectativa está cada vez mais se distanciando do centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,25% para o ano que vem. Como a margem de erro estipulada é de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, isto significa que o mercado acredita que sequer o teto definido pelo CMN para o IPCA será cumprido em 2023.
Caso esta projeção se concretize, será o terceiro ano seguido em de não cumprimento da meta de inflação. Embora de acordo com o último Boletim Focus a projeção do mercado financeiro para a inflação em 2022 tenha recuado de 7,96% para 7,67%, o próprio Banco Central já reconheceu que é de 100% a probabilidade de que o teto da meta fixado para este ano, de 5%, seja ultrapassado.
A meta a ser perseguida era de 3,5%. No ano, o IPCA acumula alta de 5,49%. Em 12 meses, a inflação brasileira está em 11,89%, acima dos 10,06% registrados em 2021 ante uma meta de 3,75% perseguida pelo BC no ano passado, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos. Ou seja, a inflação chegou a quase o dobro do teto estipulado pelo CMN em 5,25%.
Caso a tendência apontada pelo mercado se confirme no ano que vem, o Banco Central terá falhado mais uma vez no cumprimento do mandato da autoridade monetária que, no Brasil, tem o objetivo de manter a inflação sob controle. A carestia brasileira está entre as maiores do mundo. No G20, grupo dos países mais ricos, além do Brasil, apenas Turquia (73,5%), Argentina (60,7%) e Rússia possuem taxas acima de 10% ao ano.
Com a carestia dos alimentos, especialmente, a população mais pobre que já não comia carne vermelha nem frango tem sido diretamente atingida pela alta dos preços, tendo que tirar do carrinho mais recentemente mais itens básicos, como feijão, ovo e leite. De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado na semana passada, quase um terço da população brasileira já vive em situação de insegurança alimentar grave ou moderada.
A alta dos preços dos combustíveis também vem contaminando toda a economia, elevando a pressão de custos. Como a inflação brasileira atualmente não é gerada pela demanda e, sim, pelo lado da oferta, a política de elevação dos juros pelo Banco Central não tem surtido efeito sobre os preços. Enquanto isso, a atividade econômica mantém-se fraca e o país com dificuldade em retomar o nível de emprego e renda da população.