Ao elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) em 1 ponto percentual, passando de 10,75% para 11,75% ao ano, o Banco Central (BC) aumenta em R$ 32 bilhões ao ano o pagamento de juros e serviço da dívida pública. Esta medida, tomada esta semana, beneficia bancos e demais rentistas com o pagamento de mais juros. São recursos públicos desviados da saúde, educação, investimentos, ciência e tecnologia e segurança pública.

Para o economista e professor do Departamento de Economia da UnB, José Luis Oreiro, as alterações da taxa de juros não são neutras do ponto de vista da distribuição de renda. “Supondo que 50% da dívida pública é selicada, cada 1 p.p de aumento da Selic leva a um aumento imediato de 0,4 p.p do PIB nos serviços da dívida pública, ou seja, R$ 32 bilhões transferidos para os bolsos dos rentistas ao ano”.

Em 12 meses (até janeiro), foram pagos a títulos de juros para os bancos, rentistas e demais especuladores R$ 425,7 bilhões, segundo o relatório do BC sobre Estatísticas Fiscais. Para garantir a transferência de recursos públicos aos rentistas, Bolsonaro enxugou o investimento público ao menor nível da história. No Orçamento de 2022, o governo disponibilizou apenas R$ 42,3 bilhões para os investimentos.

Para o vice-presidente da Câmara, deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM), a decisão do BC de elevar a taxa Selic em mais um ponto percentual na última reunião do Copom, “não vai efetivamente resolver o problema da inflação e tende a agravar o problema da inflação, por um choque ainda maior de oferta”.

“Nós ficamos aqui no Congresso Nacional lutando para economizar R$ 1 bilhão do enfermeiro, economizar R$ 2 bilhões do Agente Comunitário de Saúde, economizar R$ 5 bilhões do Auxílio Brasil, e o Banco Central, numa tacada, sem nenhuma justificativa lógica do ponto de vista econômico, empurra uma dívida no lombo do povo brasileiro de R$ 32 bilhões”, denunciou o parlamentar em discurso no Congresso na quinta-feira (17).

Em entrevista ao HP, Oreiro disse que “o Banco Central fez um contorcionismo para justificar uma decisão que eles já tinham em mente, que era aumentar os juros em um ponto percentual”. O economista também destacou que a decisão do BC não é compatível com a suavização dos choques sobre o nível de atividade.

 

 

 

“Se você está com uma inflação que resulta de um choque de oferta, quando você eleva os juros você amplifica o choque sobre o nível de produto e emprego”, completou o professor.

Os preços dos combustíveis e dos alimentos dispararam no governo Bolsonaro, antes das sanções impostas à Rússia. Os seguidos aumentos na taxa Selic não reduziram em nada a inflação, que não é demanda. A economia está parada, o desemprego elevado e a renda desabando.

Mas o BC, com aval do governo, diz que o arrocho vai continuar. De acordo com a Ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada na terça-feira (22), na próxima reunião, em maio, o BC vai aumentar os juros “de mesma magnitude”, mantendo o Brasil entre os países com as mais altas taxas de juros do mundo.

Entre os chamados países emergentes, o Brasil ocupa o segundo lugar entre aqueles que mais elevaram a taxa de juros em 2020.

Veja abaixo o gráfico com a evolução das taxas de juros nos principais “países emergentes”.