Rio de Janeiro - ONG Ação da Cidadania lança campanha Natal Sem Fome no Aterro do Flamengo, zona sul da capital fluminense (Tomaz Silva/Agência Brasil)

Com a economia brasileira em profunda crise e o povo passando fome, o governo Bolsonaro comemora o superávit primário recorde em janeiro de R$ 101,8 bilhões, ante superávit primário de R$ 58,4 bilhões em janeiro de 2021. “Superávit primário” neste caso significa que o governo cortou na Saúde, Educação, Segurança, arrochou salários, etc, para sobrar mais recursos públicos para pagamento de juros a bancos.

Em 12 meses até janeiro, o superávit primário do setor público atingiu R$ 108,2 bilhões, equivalente a 1,23%. Com esta política de negar serviços ao povo, o governo economizou e elevou a transferência de dinheiro público para o setor financeiro, bancos, rentistas, e especuladores estrangeiros. Em 12 meses até janeiro, foram pagos a títulos de juros da dívida pública do setor público consolidado formado por governo federal, Estados, municípios e estatais que inclui R$ 425,7 bilhões, ou 4,86% do PIB, na comparação com os R$ 315,7 bilhões (4,20% do PIB) nos doze meses até janeiro de 2021.

Os números são do relatório sobre Estatísticas Fiscais, divulgados pelo Banco Central na sexta-feira (25).

Enquanto sobra dinheiro para o setor financeiro, a economia brasileira padece diante deste verdadeiro assalto ao dinheiro do povo. O “superávit recorde” resulta da camisa de força fiscalista imposta pela política econômica de Bolsonaro e Paulo Guedes, que estrangula o poder financeiro do Estado, cortando os investimentos em áreas de extrema relevância, como Ciência e Tecnologia, infraestrutura, entre outros gastos sociais.

Em nome do chamado “equilíbrio fiscal”, brasileiros são empurrados para as filas em busca de doação de “ossinhos” e sebos em alguns açougues. Vão revirar caçambas próximas de restaurantes e supermercados em busca de ter algo para comer. Isto, mesmo com o Auxílio Brasil – que substituiu o extinto Bolsa Família – cujo valor médio de R$ 400 não cobre os custos de uma cesta básica de alimentos, hoje próximos dos R$ 700, em São Paulo.

O Brasil está no mapa da fome, são cerca de 20 milhões de brasileiros na extrema pobreza e mais de 110 milhões em situação de insegurança alimentar. Para este ano, o governo deve gastar R$ 89,1 bilhões com o Auxílio Brasil, isto é 20,9% do que o governo gastou com juros nestes últimos 12 meses até janeiro.

Hoje o Auxílio Brasil atende 17,5 milhões de famílias, mas diante da degradação econômica, a fila de pessoas em busca do benefício é cada vez maior. Há pelo menos 526 mil famílias brasileiras que entraram no cadastro do governo à espera da ajuda financeira, mas não sabem se e quando vão receber o benefício, pois Bolsonaro vetou a inclusão automática dos cadastrados ao programa.

Por outro lado, com a carestia e a renda desabando, grande parte dos brasileiros não conseguem seguer pagar as contas básicas como água e luz.

Em 2021, as contas básicas responderam por 23,9% das dívidas, perdendo somente para gastos ligados com bancos e cartões de crédito, que representaram 27,7%, segundo dados do Mapa da Inadimplência da Serasa, que mostrou que o Brasil fechou o último ano com 63,9 milhões de devedores. Quase 40% das famílias brasileiras de baixa renda atrasaram o pagamento da conta de luz por pelo menos um mês em 2021, segundo a Aneel.