A explosão de desmatamentos e queimadas, constatada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em meados deste ano na região Centro-Oeste e na Amazônia, é imputada corretamente ao estímulo dado pelas opiniões irresponsáveis de Jair Bolsonaro e suas milicias sobre o tema e também às medidas concretas tomadas por seu governo contra os órgãos de fiscalização e combate aos crimes ambientais em todo o país.
Mas, apesar de tudo isto, há também um outro fator que ainda não foi bem avaliado a agravar a situação na Amazônia. Além de tudo o que foi dito sobre a atuação desastrosa do bolsonarismo, a explosão teve também um motivo especial. O financiamento feito pelos bancos para o desmatamento e a destruição ambiental.
O ganho das madeireiras ilegais e do agronegócio extensivo com o desmatamento é milionário. Mas, por trás de toda a sanha destruidora do latifúndio desmatador está também a impulsioná-lo outro ganho estratosférico. O dos bancos que os financiam. São eles que garantem os recursos a rodo – e ilegais – para propiciar essas atividades criminosas que enriquecem seus proprietários e devastam o meio ambiente.
A ganância é tamanha que nenhuma norma, nenhuma regra ou legislação é respeitada por estes parasitas da especulação e da destruição ambiental.
Só para se ter uma ideia da gravidade do quadro, o desmatamento na Amazônia em setembro é 96% maior em 2019, na comparação com o mesmo mês de setembro de 2018, segundo revelou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), na sexta-feira (11/10).
Apesar da existência de uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CNM), que, desde 2008, proíbe os bancos de fornecer crédito rural a empresas em áreas que tenham sido alvo de embargos de órgãos ambientais por desmatamento, os banqueiros desconheceram a resolução.
Eles repassaram R$ 165 milhões nos últimos 12 anos em financiamentos subsidiados com recursos do Banco Nacional do Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES) para empresas que tiveram áreas embargadas por desmatamento na Amazônia.
O Bradesco foi o maior financiador dos desmatadores nos últimos anos, repassando R$ 94 milhões, 59% do total. Já o Itaú repassou R$ 8,1 milhões.
Ao todo, foram identificadas 343 operações para 28 empresas beneficiadas por empréstimos nos oitos estados da Amazônia Legal. Os dados foram obtidos pelo jornal O Globo, como base em informações do BNDES e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Há exemplos gritantes como a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, ligada ao grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas. Produtora de gado, soja e milho, ela recebeu R$ 56,8 milhões desde 2011 em empréstimos do BNDES repassados por bancos.
Deste montante, R$ 30 milhões foram destinados a áreas já embargadas pelo Ibama. A unidade de Santana do Araguaia (PA) recebeu R$ 14 milhões do Bradesco após ser embargada em 2008. Procurado, o banco diz que “seguiu todas as normas e diretrizes exigidas pelos reguladores”.
Em agosto os depósitos compulsórios totalizavam R$ 442 bilhões. Os recursos oriundos da poupança representam aproximadamente 32% desse total, os demais recursos oriundos de dinheiro tomado do público através de títulos a prazo 52% e apenas 16% relativos a depósitos à vista.
O governo sabe que não está dizendo a verdade quando diz que a liberação desse compulsório, mantidas as vantagens das operações compromissadas e a estagnação do consumo, levaria as famílias e as empresas a tomarem mais crédito.
O economista José Júlio Senna, ex-diretor do BC e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) afirma que “a variável fundamental para criar crédito não é a liberação de compulsórios, é a demanda das famílias e empresas para se endividar” .
A aprovação no governo Bolsonaro da reforma da Previdência, em fase conclusiva, que vai tirar R$ 100 bilhões ao ano, por dez anos dos brasileiros, especialmente daqueles que mais precisam, contrasta com a proteção dos bancos, feita pelo BC através das operações compromissadas.