Com decisão do governo Bolsonaro de encerrar as atividades do Banco Postal da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), 17 milhões brasileiros precisarão se deslocar até outras cidades para realizarem transações bancárias básicas, como receber o pagamento de salários e benefícios do INSS, além de receber ou pagar suas contas, tomar empréstimos ou até mesmo realizar saques.
Não é mais interessante para os bancos privados manterem agências em cidade interioranas. Segundo um levantamento realizado pelo Globo, com base no Banco Central, em seis anos, 2.414 agências foram encerradas em todo o país por conta de cortes de custos. Das mais de 20,7 mil agências bancárias no Brasil, um terço se concentra nas capitais. Mais de 2,3 mil cidades não contam com nenhuma agência. Nos últimos anos, os bancos estatais também têm fechado agências, na mesma linha de cortar custos e de diminuir a presença do estado, que é essencial para os mais pobres.
Especialistas da área argumentam que a digitalização está ocupando essa lacuna, mas a realidade brasileira é que milhões de pessoas ainda não têm acesso à internet, ou se há acesso, não têm condições de pagarem pelos serviços. A alternativa para algumas cidades está sendo os chamados correspondentes bancários, isto é, bares, quitandas e mercearias, que prestam serviços precários.
Além disto, estes comerciantes correm risco de assaltos – já que com esta política de diminuição do estado o nosso aparato policial também está sendo sucateado, com afirmou a pesquisadora do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, Isabel Figueiredo.
“No ano de 2019, a gente teve zero reais empenhados em ações de prevenção e segurança pública, segundo dados do SIOP – Sistema Integrado de Operações. A gente tem hoje situações nos estados que só foram possíveis mediante investimentos em anos anteriores do Fundo Nacional de Segurança Pública”, declarou Isabel Figueiredo na audiência pública promovida pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, para debater fundos públicos, como Fundo Nacional de Segurança Pública, que correm riscos de ser extintos caso a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 187/2019, de autoria do governo Bolsonaro, seja aprovada nas Casas Legislativas.
A empresa pública dos Correios, única instituição presentes nos 5.570 municípios do país, é a única alternativa para os cerca de 17 milhões de brasileiros, que vivem em 2.328 cidades, não precisarem viajar para municípios vizinhos a procura de serviços bancários básicos. Isto porque a instituição, além desenvolver os serviços postais e de encomendas do País, foi criada para cumprir um papel social, levar serviços onde à iniciativa privada quer distância, porque não dá lucro.
“Até mesmo os concorrentes sabem da importância dos Correios, pois utilizam sua infraestrutura capilar para complementar os serviços que oferecem a seus clientes.”, lembra a Associação Nacional dos Profissionais dos Correios (ADCAP), que tem feito uma campanha contraia ao fim do Banco Posta e contra a Privatização dos Correios.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo, Elias Cesário, os Correios cumprem função de bancos em 2.230 municípios que não têm agência bancaria. Sem esses serviços bancários feitos pela estatal a economia desses municípios vai declinar. Ele destacou que a privatização dos Correios será prejudicial para toda a população e à economia do país.
“A empresa dos Correios não só se mantém, mas também investe em melhorias com recursos próprios, como alimenta os cofres do governo. Eles mentem que o governo põe dinheiro nos Correios para tentar confundir a população e os deputados”, denunciou Elias Cesário, que tabém é conhecido com Diviza.
Em dezembro do ano passado, a direção dos Correios anunciou que a estatal encerraria com as atividades do Banco Postal. Em janeiro, Banco do Brasil (BB) divulgou uma nota em que afirmava ter assinado um novo contrato temporário de prestação de serviços de correspondente bancário com os Correios, em substituição ao contrato que venceu naquele mês. Segundo a direção dos Correios, a estatal continuará disponibilizando o atendimento básico bancário em parceria com o Banco do Brasil (BB) pelo período de três meses, podendo ser prorrogado por igual período.