Banco Mundial adverte risco de estagflação e destaca sanções à Rússia
O Banco Mundial (BM) rebaixou drasticamente suas perspectivas para a economia global, registrou a Associated Press, apontando para a guerra na Ucrânia, isto é, a frenética imposição de sanções de parte dos EUA e da União Europeia à Rússia, cuja consequência vem sendo a severa interrupção do comércio global de energia, e está causando apreensão com o potencial retorno da “estagflação” – uma mistura tóxica de inflação alta e recessão ou estagnação só vista anteriormente há mais de quatro décadas.
Segundo o Banco, em previsão divulgada na terça-feira (7), a economia mundial crescerá 2,9% este ano, quase a metade do resultado global de 2021, de 5,7%. Em janeiro, a estimativa era de 4,1% de crescimento. “Para muitos países, a recessão será difícil de evitar”, disse o presidente do organismo financeiro, David Malpass.
As perspectivas para 2023 e 2024 não são brilhantes, com previsão de apenas 3% de crescimento global, ou seja, estagnação. Para o Banco, a China, a segunda maior economia do mundo depois dos Estados Unidos, terá crescimento de 4,3% em 2022. Em relação aos EUA, a previsão do Banco Mundial foi reduzida para 2,5% este ano, contra 3,7% estimados em janeiro.
Para os 19 países europeus da zona do euro, o banco rebaixou a perspectiva de 4,2% (em janeiro), para 2,5% este ano. Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento devem crescer 3,4% este ano.
Na análise da AP, a invasão da Ucrânia pela Rússia prejudicou uma economia global que vinha se recuperando de forma robusta da pandemia de coronavírus.
Na verdade, com as sanções se causou artificialmente um choque de demanda, ao tentar excluir do mercado o trigo, os fertilizantes e o petróleo e gás russos. Os preços já altos das commodities – o que ocorria devido à recuperação econômica pós mitigação da pandemia – subiram ainda mais, ameaçando a disponibilidade de alimentos a preços acessíveis nos países pobres.
Para Malpass, “existe um risco grave de desnutrição e até de fome”. O Banco Mundial espera que os preços do petróleo subam 42% este ano e que os preços das commodities não energéticas subam quase 18%. Mas prevê que os preços do petróleo e de outras commodities caiam 8% [em relação ao pico de preço] em 2023.
A instituição gêmea do FMI comparou o atual aumento nos preços da energia e dos alimentos aos choques do petróleo da década de 1970.
“Choques adversos adicionais”, advertiu o Banco em seu novo relatório de Perspectivas Econômicas Globais, “aumentarão a possibilidade de que a economia global passe por um período de estagflação reminiscente da década de 1970”.
“A perspectiva de estagflação representa um dilema para o Federal Reserve e outros bancos centrais: se continuarem a aumentar as taxas de juros para combater a inflação, correm o risco de causar uma recessão. Mas se tentarem estimular suas economias, correm o risco de elevar os preços e tornar a inflação um problema ainda mais intratável”, registrou a AP.
Nos anos 1970, o Federal Reserve, sob Paul Vocker, jogou a taxa de juros na Lua, levou o mundo à recessão e os países em desenvolvimento à crise da dívida.