Bruna e Daiana: representatividade na Câmara de Porto Alegre

Um fato histórico marcou a posse das vereadoras e vereadores de Porto Alegre neste 1º de janeiro de 2021. Pela primeira vez, a Casa legislativa terá uma bancada de cinco parlamentares negros, dos quais quatro mulheres, dentre elas, duas comunistas do PCdoB: Bruna Rodrigues e Daiana Santos. Com a posse, o partido retorna à Câmara Municipal da cidade, depois de quatro anos.

A cerimônia — seguida da eleição da Mesa Diretora e da posse do prefeito Sebastião Melo (MDB) e seu vice, Ricardo Gomes (DEM) — foi restrita aos eleitos devido à pandemia e transmitida ao vivo pela internet na tarde desta sexta-feira (1º).

Bancada negra

A bancada negra é majoritariamente feminina e formada por parlamentares da periferia, de esquerda e LGBTQIA+, uma vitória fundamental no atual contexto, marcado pela proeminência da extrema-direita em nível nacional, por diversos retrocessos no campo dos direitos humanos e pelo preconceito. Além de Bruna e Daiana, compõem a bancada Karen Santos e Matheus Gomes (PSol) e Laura Sito (PT). Ao todo, PT, PSol e PCdoB somam 10 dos 36 vereadores.

Para o PCdoB, ter duas vereadoras negras é uma vitória política importante, estratégica e, ao mesmo tempo, traduz a luta travada pelo coletivo partidário em defesa da democracia e da igualdade.

Apesar de não ter conseguido eleger Manuela d’Ávila à Prefeitura no segundo turno das eleições, mesmo com sua grande votação e do forte movimento que ensejou em diversos setores da sociedade, o PCdoB angariou uma conquista fundamental, com a eleição das duas vereadoras, o que contribui diretamente para o fortalecimento da luta da esquerda e das causas ligadas aos direitos do povo, dos mais vulneráveis e excluídos, num cenário marcado pelos impactos da Covid-19 e da crise, sobretudo para estas populações.

“O PCdoB em Porto Alegre teve uma extraordinária vitória com a eleição de duas vereadoras negras. E isso se dá num contexto de uma grande disputa que fizemos com a candidatura da Manuela contra a extrema-direita, o preconceito, contra as mentiras e o ódio”, avalia Adalberto Frasson, presidente municipal do partido. “Eleger Bruna e Daiana demonstra que parcela significativa do nosso povo não aceita mais esse ambiente de ódio e de preconceito e é preciso que as mulheres, os negros, os excluídos, o nosso povo da periferia, assumam espaços de poder”, completa.

Mulheres de luta

Com 33 anos, Bruna Rodrigues é filha de mãe e pai garis, nascida e criada na Vila Cruzeiro, bairro da periferia de Porto Alegre e oriunda dos movimentos por moradia. Presidiu por cinco anos a Uampa (União das Associações de Moradores de Porto Alegre) e é estudante cotista de Administração Pública e Social na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Bruna avalia que “nossa vitória é fruto da luta ancestral de negras e negros gaúchos. Fazer parte de uma bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre faz parte de uma luta histórica e de muita resistência. Viemos para mostrar que o combate ao racismo estrutural é o único caminho para a construção de uma cidade igualitária e democrática”.

Daiana, 38 anos, é sanitarista e educadora social, nascida na cidade de Júlio de Castilhos (RS). É moradora do Morro Santana, também na periferia da capital gaúcha, promotora em saúde da população negra, ativista e militante dos movimentos sociais das mulheres, dos negros, da saúde e LGBTQIA+, além de idealizadora e coordenadora do Fundo das Mulheres Porto Alegre.

Somos a bancada negra da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, o bonde da esperança chegado de todos os cantos da cidade, cada um carregado de muita resistência. Viemos para mostrar que o combate ao racismo estrutural é o único caminho para a construção de uma cidade igualitária e democrática”, colocou Daiana em suas redes sociais.

No que diz respeito ao caráter do seu mandato, Bruna salienta que “vamos lutar para que as mulheres e população negra tenham sua voz amplificada. Vamos construir um gabinete popular, aproximando as ruas e o parlamento. Portanto, a minha luta não é só minha, é nossa! Nós precisamos, juntas e juntos, garantir que as nossas mães, nossas tias, nossas primas, nossas amigas, nossos avós tenham direito à vida, que tenham direito a políticas sociais, a trabalho e que tenham direito à dignidade e de viver suas vidas em paz”.

“Não vou medir esforços. Eu defendo um projeto do qual eu faço parte. É a diversidade garantindo um espaço de qualidade para debater, é inegável que estamos avançando. Porém, ainda estamos muito distantes da consolidação destes espaços. Esta é uma luta necessária contra o retrocesso e todo este atraso civilizatório”, disse Daiana Santos ao site Brasil de Fato RS.

Por Priscila Lobregatte