Por 263 votos contra 227, base de Michel Temer na Câmara suspendeu a análise da denúncia contra o peemedebista por corrupção passiva. Agora, para Temer responder por este crime será preciso esperar até o final do mandato, no dia 1º de janeiro de 2019, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) poderá retomar a análise da denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

No total, 15 partidos (PMDB, PP, PR, PSD, DEM, PTB, PRB, PSC, Pros, SD, PEN, Pode, PTdoB, PSL e PRP) orientaram o voto “sim”, enquanto dez partidos (PT, PSDB, PSB, PDT, PCdoB, PPS, PHS, Rede, PSol e PMB) orientaram o “não”. Apenas o PV liberou a bancada para que cada deputado decidisse sua posição.

Diferentemente da votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, quando os golpistas votaram em nome de “Deus e da família”, ironicamente, dessa vez, a base dedicou seus votos à “estabilidade política e honestidade de Temer”.

A votação foi marcada por protestos de parlamentares da Oposição que pediam transparência e tempo para debate.

A presidenta nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE) avaliou que “para além do congelamento de 20 anos nos investimentos em saúde e educação, o governo ainda diz que não tem recursos para investir em faculdades públicas por conta da ‘herança’ do governo Dilma. Mas vimos aqui que não faltou dinheiro para comprar deputados com emendas e garantir a anistia de Temer”.

“Uma denúncia grave como essa não poderia ter sido votada assim. Era preciso debate, mas eles tinham pressa. Temer precisa ser investigado para o Brasil caminhar rumo às Diretas Já”, afirmou a líder do PCdoB na Câmara, Alice Portugal (BA).

Para a deputada federal, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), “há uma distância cada vez maior entre a política e a sociedade, e isso é a grave consequência do que está acontecendo na política brasileira. É triste essa cumplicidade com o crime, o escancaramento de uma prática criminosa e ilícita que vai acontecendo, o uso do dinheiro público para comprar votos”.

Jandira ao votar contra a relatoria, afirmou “Temer está roubando o Brasil, os direitos e aposentados. Voto com a indignação do povo brasileiro, com a coragem e ousadia de uma mulher. Voto pelo Brasil e pela democracia. Fora canalha! Fora Temer! Meu voto é não.”

Orlando Silva, deputado federal (PCdoB-SP) salientou na hora do vota contra Temer que “ninguém está acima da lei, nem o presidente da República. Fazer cumprir a Constituição é afastar Michel Temer para que ele seja processado, e por fim a esse governo de desemprego que traz infelicidade ao nosso povo. Em respeito ao povo brasileiro, eu e meu partido PCdoB – Partido Comunista do Brasil votamos com os trabalhadores. Votamos NÃO!”

Para garantir o resultado a seu favor, Temer reforçou nesta semana a empreitada por apoio. Só na véspera da votação, o presidente recebeu mais de 100 parlamentares e ainda teve tempo para um almoço com a bancada ruralista, onde apresentou a recém-publicada medida provisória que alivia a dívida previdenciária de produtores rurais.

Durante a própria sessão de votação da denúncia, ministro de Temer foi visto negociando novas emendas parlamentares, explicitando os meios usados para garantir o governo do peemedebista.

“Vimos aqui não uma tropa de choque, mas uma tropa de cheque”, ironiza o deputado Rubens Pereira Jr (PCdoB-MA).

Apesar da “segurança” de alguns discursos, a direita protagonizou cenas de empurra-empurra e bate-boca sob comando do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que chegou a classificar partidos de esquerda de “organizações criminosas”.

“Esse é o nível dos defensores de Temer. Seria cômico se não fosse trágico e tão sério”, disse Alice Portugal em repúdio à postura do parlamentar.

Agora, uma nova batalha poderá ser travada quando o PGR, Rodrigo Janot, apresentar nova denúncia contra o presidente.

Para o deputado federal Chico Lopes (PCdoB-CE), a vitória na batalha desta quarta-feira está longe de tranquilizar Temer quanto aos próximos capítulos da história. O ainda presidente seguirá enfrentando um cenário muito distante da “estabilidade” que foi utilizada como argumento por muitos deputados que votaram pelo arquivamento da denúncia.

“É muito provável que a Procuradoria Geral da República apresente novas denúncias, porque matéria-prima tem de sobra contra Temer. E fica claro que ele, que se diz presidente, conseguiu liberar emendas e cargos pra escapar da votação de hoje, mas não tem nenhuma garantia nem de escapar das próximas, nem de ter votos pra aprovar a reforma da Previdência, que é o que ele tanto quer”, complementa Chico Lopes.

“Vamos seguir na luta com o povo brasileiro, com as forças progressistas, contra as reformas, contra a retirada de direitos, contra Temer e pelas Diretas Já. Só com uma eleição direta as pessoas vão voltar a ter alguma esperança em um governo”.