Soldados russos caminham pelas ruas de Severodonetsk liberta

A cidade de Severodonetsk está praticamente libertada do jugo dos neonazis a soldo de Kiev e, repetindo Mariupol, os remanescentes ucranianos se refugiaram em uma fábrica da zona industrial, a indústria química Azot, levando centenas de civis para servirem de escudos humanos.

Na terça-feira, a Rússia disse às tropas ucranianas para pararem com a sua “resistência sem sentido” e “baixarem as armas”.

Com essa vitória, quase 100% do norte do Donbass, do que formalmente foi a província de Lugansk, está sob controle das forças antifascistas e das tropas russas.

O que já vem sendo chamado de ‘Azovstal-2’, a ponto do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter de admitir na terça-feira que suas forças sofreram perdas “dolorosas”.

“As batalhas mais brutais estão em Severodonetsk e em todas as cidades e comunidades próximas, como antes. Infelizmente, há perdas e são dolorosas”, ele registrou pelo Telegram.

As tropas ucranianas se mantêm na cidade ‘gêmea’ Lisichansk, que é do outro lado do rio. Mas, segundo líderes do Donbass, o cerco está na iminência de se fechar: o ‘caldeirão’ está prestes a ferver, deixando como alternativas a rendição ou um fim inglório, a exemplo de Mariupol.

A primeira tentativa russa de livrar os civis da fábrica Azot, por meio de um corredor humanitário, fracassou na quarta-feira, devido à recusa ucraniana. Moscou ofereceu aos combatentes da fábrica Azov as mesmas garantias que foram concedidas aos já rendidos em Azovstal (e aceitas).

A rota de corredor proposta por Kiev para evacuação de civis e combatentes da fábrica para Lisiansk não teve como se aceita pelos russos, já o próprio comando ucraniano mandou explodir a última ponte que restava.

Em paralelo, os russos e antifascistas vêm avançando na direção de Slavyansk que, junto com Kramatorsk, constitui há oito anos o principal centro de concentração de forças ucranianas na região de Donetsk.

Em outras ações, as forças russas seguem moendo as concentrações de tropas e de batalhões neonazis com a artilharia, enquanto mísseis destroem armazéns lotados de armas enviadas pela Otan e bases de mercenários, como diariamente reporta o porta-voz russo, general Igor Konashenkov.

Em Kiev, Zelensky recebeu uma comitiva da União Europeia, integrada pelo presidente francês Emmanuel Macron, pelo primeiro-ministro italiano e ex-banqueiro Mario Draghi, pelo primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, aliás, ‘Salsicha de Fígado Ofendida’, segundo o embaixador ucraniano em Berlim, e também pelo presidente romeno, Klaus Iohannis.

Os três chefes da ‘eurotroika’ até aqui haviam se esquivado a fazer sala, em Kiev, para a encenação do ator Zelensky, devidamente trajado com seu uniforme de camiseta cor verde oliva.

Macron tinham um interesse particular na visita, realizada às vésperas do segundo turno para as eleições legislativas, cujo resultado no 1º turno faz antever, no mínimo a perda da maioria absoluta, e ameaça, inclusive, com um ‘governo de coabitação, proposta da coalizão de esquerda encabeçada por Jean-Luc Mélenchon.

“Uma mensagem de unidade que estamos enviando aos ucranianos, sim, de apoio, para falar sobre hoje, mas também sobre o futuro, porque sabemos que as próximas semanas serão muito difíceis”, afirmou Macron, à chegada.

Na etapa anterior da viagem, na Romênia, Macron havia dito que a Ucrânia precisava “negociar” com a Rússia e prometeu ajudar com “garantias de segurança”. Ele reiterou que a hostilidade prolongada com a Rússia não era uma solução viável de longo prazo para a segurança europeia.

“Nós, europeus, compartilhamos um continente com a Rússia, e a geografia é teimosa. A Rússia está aqui hoje, estará aqui amanhã e esteve aqui ontem”, disse ele.

Mais armas, pede Zelensky

Já Scholz asseverou em Kiev que “não queremos apenas demonstrar solidariedade, queremos também assegurar que a ajuda que organizamos, financeira e humanitária, mas também no que diz respeito às armas, continuará”. Cuja resposta, de Zelensky, foi pedir mais armas e mais sanções – inclusive sugeriu aos europeus darem um tiro na cabeça, decretando um embargo total ao gás russo.

A Comissão Europeia formaliza nesta sexta-feira (17) seu parecer favorável a que a Ucrânia receba a condição preliminar de “candidata a ingressar na União Europeia”, com Macron, Draghi e Scholz expressando, com a ida a Kiev, sua anuência, mas a decisão final dependerá dos 27 países membros.

Entre ingressar na lista de “candidato ao ingresso na UE” e o ingresso propriamente dito na UE, há uma grande distância – como já descobriu a Turquia, que está nessa fila desde 1999 (há 23 anos!).

A Rússia se manifestou contrária à entrada da Ucrânia na União Europeia por considerar que o bloco europeu se tornou um mero apêndice da Otan. Oposição que só passou a existir após a UE se somar de mala e cuia à guerra econômica dos EUA contra a Rússia.

Por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse esperar que [os líderes europeus] usem os seus contactos para fazer Zelensky ver o estado real das coisas. Ele acrescentou que a expectativa de Moscou é de que a visita “não se concentre apenas em ajudar a Ucrânia por meio de futuros fornecimentos de armas”. Isso – acrescentou – é “absolutamente inútil, prolongará o sofrimento das pessoas e só causará novos danos ao país”.

Com as vitórias russas no Donbass, as exaltações à iminente ‘vitória da Ucrânia’ sobre a Rússia, ao piloto ‘fantasma de Kiev’ ou às avozinhas treinando para ‘combater russos’ andam ficando ridículas e isso começa a vazar na mídia da Otan.

Assim, a NBC News na quinta-feira registrou que o presidente Biden teria chamado o chefe do Pentágono Lloyd Austin e o secretário de Estado Anthony Blinden a “baixarem o tom”, de acordo com “fontes” em sigilo, sob a preocupação de que os comentários pudessem “criar expectativas irreais”.

Quem viu o “tom” do próprio Biden, ao ir à Varsóvia, não tem como achar qualquer seriedade no bom senso do inquilino da Casa Branca.

Sobre isso, o jornal russo Konsomolskaya Pravda avaliou que parecia que “alguém disse a Biden que não há chance de os democratas vencerem as eleições de meio de mandato se os preços da gasolina ficarem acima de 5 dólares por galão”.

Outra hipótese aventada foi o efeito do artigo do NYT de sábado passado, sobre se Biden “deve concorrer em 2024”, em que “dezenas de funcionários democratas frustrados, membros do Congresso e eleitores expressaram dúvidas sobre a capacidade do presidente de resgatar seu partido cambaleante e levar a luta aos republicanos”.

Também o relações públicas da Otan, Jens Stoltenberg, oficialmente secretário-geral, e entusiasta até recentemente da ‘vitória da Ucrânia’, acaba de declarar que “a paz é possível. A questão é quanto território, quanta independência… a Ucrânia está disposta a sacrificar pela paz.”

A pedra já havia sido cantada pelo patriarca do imperialismo norte-americano do século passado, Henry Kissinger, aos 98 anos, em discurso ao Fórum de Davos por videoconferência.

Durante visita a Washington, o representante ucraniano David Arakhamia – que chefiou a delegação ucraniana nas conversações com a Rússia – admitiu que no Donbass as baixas já chegam a 1.000 soldados ucranianos diariamente, desses, em média, 200-500 mortos por dia.