“Qual a dinâmica de nossa atuação como comunistas no sindicalismo? Afinal, somos sindicalistas comunistas ou comunistas sindicalistas?” A provocação foi lançada por Aurino Pedreira aos delegados do 9º Encontro Sindical Nacional do PCdoB. Realizado em Salvador (BA) na sexta (16) e no sábado (17), o Encontro reuniu 462 lideranças sindicais comunistas.

O informe de Aurino, secretário Sindical do PCdoB-BA, ocorreu no sábado e teve como tema a política do Departamento Nacional de Quadros do Partido para os trabalhadores. Segundo o dirigente, está em curso uma “transformação radical da sociedade” que precisa ser melhor compreendida.

Há novas profissões, novas funções e novos modelos de contratação, invariavelmente com mais precarização das condições de trabalho. Mas as mudanças vão além: “O advento das redes sociais e dessa cultura mais digital interfere na subjetividade do trabalhador”, diz Aurino.

O marxismo ensina que os trabalhadores precisam do partido comunista – e não apenas dos sindicatos – para atuarem à altura em três níveis da luta: o econômico, o ideológico e o político. Porém, na opinião de Aurino, o perfil dos sindicalistas do PCdoB também se alterou, em prejuízo à militância partidária. Sobram sindicalistas “sem direção, sem orientação”.

“Hoje, o sindicato é maior na cabeça de muitos camaradas do que o Partido. Se somos mais sindicalistas do que comunistas, estamos virando prestadores de serviço – mas não lideranças políticas”, afirmou Aurino. “Daí a pirâmide invertida – a maioria dos comunistas nas direções e pouquíssimos na base. Precisamos reverter esse processo e reafirmar nosso papel como comunistas dentro do sindicato.”

O secretário Sindical do PCdoB-BA cita o exemplo de uma paralisação de trabalhadores que alcança os objetivos econômicos. “Precisamos nos tornar a principal força política a dirigir os trabalhadores do País. Sendo assim, uma greve liderada por comunistas pode ser o ponto de partida para a divulgação das ideias do Partido e a conquista de mais filiados.”

Com base na diretriz de revigorar o Partido, Aurino diz que os comunistas devem se dedicar prioritariamente ao trabalho de base para construir o Partido. “Militante do PCdoB é todo aquele que constrói o Partido. Precisamos ser mais militantes”, resume. “Precisamos de mudanças radicais na nossa atuação – e também na compreensão de que somos militantes do PCdoB.”

Antes de tudo, segundo ele, é preciso traçar um bom diagnóstico da realidade dos comunistas no movimento sindical – “onde estamos, onde somos fortes, qual o perfil da nossa base?”. Um dos focos é o jovem trabalhador. “O PCdoB tem a juventude mais organizada do País, mas muitas dessas lideranças jovens não se vinculam posteriormente ao movimento sindical.”

O desafio também passa pela estruturação de Departamentos de Quadros nos comitês estaduais do PCdoB. “Num Encontro Sindical como este, só temos quadros – gente que dirige processos, instituições, pessoas, a luta. Para pautar a organização do Partido entre os trabalhadores, temos de cuidar desses quadros e garantir seu acompanhamento permanente.”

Aurino listou quatro tarefas que podem ajudar na organização do PCdoB junto aos trabalhadores, com base nessa política nacional de Quadros:

  • Compreender e lidar com as mudanças ocorridas na sociedade, nas classes e camadas de classe que queremos representar;
  • Renovar a ação das entidades de massa e do movimento social, sintonizar-se com as novas formas de manifestação e organização do povo;
  • Colocar o centro de gravidade das ações de massas do partido, entidades e movimentos, nas bases sociais e populares, urbanas e rurais;
  • Reposicionar o trabalho partidário entre os trabalhadores e trabalhadoras com a juventude trabalhadora.

Assim, diz Aurino, o Partido terá mais condições de crescer e ser influente. “Nossa principal tarefa no movimento sindical é a elevação da consciência de classe. Por isso, temos de ser comunistas sindicalistas”, conclui o dirigente. “Não existe transformação da sociedade pelos sindicatos, mas pelo Partido.”