Aumento dos juros não reduz a inflação e agrava o desemprego
A elevação pelo Banco Central da taxa básica de juros da economia, a Selic, em um ponto percentual, para 12,75% ao ano (o maior patamar desde fevereiro de 2017) não terá efeito sobre a inflação. A opinião é do professor de Economia da UnB, José Luis Oreiro, que atribui a ineficácia da medida ao fato de a inflação brasileira ser “importada” e não causada pela demanda interna que, pelo contrário, está baixa por conta do baixo crescimento econômico do país. Em entrevista ao Portal Vermelho, Oreiro alerta que, com a atual condução da política econômica, o desemprego, em 2022, continuará em patamar elevado.
“O IPCA-15, que é a prévia da inflação de abril, fechou no acumulado em 12 meses acima de 12%. A Selic, que em março de 2021 era de 2% e na última reunião do Copom já havia ido para quase 12%. Isso significa que todo esse aumento de juros não teve efeito sobre a inflação”, afirmou. “Por uma razão muito simples: a inflação brasileira é uma inflação importada. Ela decorre do aumento do preço dos alimentos e da energia nos mercados internacionais, ou seja, em dólares, decorrente primeiro das interrupções nas cadeias globais de suprimentos devido aos lockdowns sucessivos nos portos chineses e, mais recentemente, na guerra da Ucrânia”, explica.
O professor lembra que a Rússia e a Ucrânia são dois grandes exportadores mundiais de trigo e de milho, além da Rússia ser um grande exportador mundial de gás e de petróleo: “Com esses dois países em guerra, isso, por si só, já teria impacto sobre a oferta desses produtos e, portanto, levaria ao aumento do preço desses produtos. Mas, além disso, houve também as sanções internacionais, lideradas pelos Estados Unidos, que agravaram o problema. Esses dois efeitos combinados, dos lockdowns na China e da guerra na Ucrânia, têm feito os preços dos alimentos e da energia, ou seja, do petróleo, gás, e derivados aumentarem no mercado internacional e isso se traduz imediatamente em aumento da inflação no Brasil”.
Ele estima que, para conseguir segurar a inflação, o BC precisaria contrabalançar a elevação dos preços internacionais com uma redução drástica do que se paga pelos serviços no Brasil, inviabilizando a economia brasileira. “O Banco Central aumentar a taxa de juros no ritmo que está fazendo não faz nem cosquinhas. Para que o aumento da taxa de juros tivesse efeito sobre a taxa de inflação, seria necessário o Banco Central fazer uma elevação tão grande na taxa de juros, para 25% ou 30% ao ano, fazendo com que a inflação de serviços caísse a zero ou fosse negativa”, calcula.
Desta forma, como o IPCA é uma média, a inflação ficaria mais próxima da meta ou do teto da meta para este ano, que é de 5%. “O óbvio efeito colateral desse problema, desse instrumento, é que você mata a economia. Então, nós temos o pior dos dois mundos: por um lado, essa elevação da taxa de juros não tem nenhum efeito sobre a inflação e, por outro lado, essa elevação dos juros acaba reduzindo ainda mais o nível de atividade econômica. Nós já vimos as previsões de crescimento para diversos países esse ano e o Brasil está na lanterna da América Latina. Será o país que menos vai crescer no ano 2022”, disse.
A falta de crescimento recai sobre os trabalhadores. “Sem crescimento, não tem como gerar emprego. Vamos ter ao longo desse ano não só o desemprego ainda na casa de dois dígitos como uma possibilidade ainda de aumentar”, previu Oreiro, lembrando que os dados divulgados pelo IBGE nas últimas semanas mostraram que, embora tenha havido uma ligeira redução da taxa do desemprego entre o último trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022, houve uma redução da força de trabalho. “Ou seja, houve pessoas que saíram da força de trabalho simplesmente porque desistiram de procurar emprego. Então, a situação do mercado de trabalho no Brasil é muito ruim e tudo o que o Banco Central não deveria estar fazendo nesse momento é elevar a taxa de juros, que, como eu disse não terá nenhum efeito na inflação”, acrescentou.
Para Oreiro, o resultado desta política monetária é a continuidade do quadro recessivo bem como o aumento do custo de rolagem da dívida do governo. Segundo ele, em 12 meses, no acumulado entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2022, os serviços da dívida pública já aumentaram em 100 bilhões de reais. “Esse dinheiro poderia ter sido usado para aumentar investimento público, em obras de infraestrutura que são absolutamente necessárias, para a retomada do desenvolvimento econômico, ou também em programas de assistência social, para retirar as pessoas da miséria e da fome. Mas, o governo Bolsonaro, entre os pobres e os ricos, ele sempre faz a opção pelos ricos. Isso é o governo Bolsonaro, um governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos”, lamentou.