Comércio de rua em Brasília.

Entre o segundo trimestre de 2019 e o segundo de 2021, o número de pessoas no trabalho precário, vivendo de “bico”, com remuneração máxima de um salário mínimo, aumentou em mais de 2 milhões, segundo um estudo feito pela consultoria IDados, com base nos dados da Pnad Contínua do IBGE.

Esse contingente de pessoas exerce atividades sem carteira assinada ou qualquer vínculo formal, obtém remuneração a partir dos bens ou serviços que produz e tem uma renda máxima de um salário mínimo por mês, R$ 1,1 mil.

No segundo trimestre de 2019 eram 48,2% os trabalhadores nessas condições, hoje já são mais da metade, 55,6% dos trabalhadores por conta própria com ganho mensal de até um salário mínimo. O número de brasileiros com curso superior trabalhando por conta própria também cresceu no período para 643,6 mil pessoas.

“É uma maior precarização de um tipo de trabalho que sempre foi precarizado, face ao trabalho com carteira assinada”, destacou a pesquisadora do IDados, Ana Tereza Pires, em reportagem do Estadão.

Com o desemprego batendo níveis recordes no país, a economia estagnada e a inflação corroendo a renda do trabalhador, é cada vez maior o número de pessoas se virando por conta própria, sem qualquer direito trabalhista.

Em apenas um ano, no trimestre encerrado em agosto, na comparação com o mesmo período de 2020, segundo a Pnad Contínua do IBGE, mais 3,9 milhões de brasileiros passaram a integrar o contingente de trabalhadores por conta própria, uma alta de 18,1%. São 25,4 milhões de trabalhadores por conta própria em agosto de 2021.

O primeiro ano do governo Bolsonaro terminou contabilizando 19,4 milhões de trabalhadores por conta própria na informalidade. A taxa de informalidade subiu para 41,1%, ou o equivalente a 38,4 milhões de pessoas no trabalho informal, sem carteira assinada. Naquele ano, alguns setores do chamado “mercado”, da mídia e alguns economistas, comemoravam a “mudança na forma de trabalho”, considerando o “advento da tecnologia”, o “empreendedorismo”, etc, etc, etc, a “uberização” dos postos de trabalho, sem direito trabalhista, com sérios prejuízos à aposentadoria, foi cantada em verso e prosa. O aumento da precarização do trabalho era apresentado como algo “novo”, “moderno”.

A pandemia da Covid-19 escancarou essa tragédia: milhões de brasileiros desempregados se somaram ao contingente daqueles que já vinham no trabalho precário. Com a economia estagnada, sem emprego para milhões de brasileiros, a busca pelo “bico” não tinha nada de “novo”, sendo mais do que uma necessidade diante do agravamento da crise econômica, do tombo histórico na renda e da explosão da carestia.

Mesmo quando há emprego e renda, mal paga a cesta básica que já custa R$ 700, pois o preço do botijão de gás de cozinha atingiu R$ 140, a conta de luz está mais cara diante dos custos da falência do modelo mercantilista no setor energético sendo lançados nas costas do consumidor, enquanto os preços dos alimentos e combustíveis são lançados na Lua, com a conivência do governo Bolsonaro.